17.10.08

Visões ou falta delas










A ida de portugueses a Cuba para serem submetidos a intervenções cirúrgicas do foro oftalmológico foi objecto de múltiplas reportagens no início deste ano. Escreveu-se então que haveria 100 mil pessoas à espera de uma primeira consulta e 30 mil a aguardar vez para uma cirurgia, algumas delas há vários anos. Soube-se que várias autarquias estavam a levar os seus munícipes para uma estadia planificada de duas semanas em Havana – tudo incluído, e a preço menos elevado do que qualquer oferta privada em Portugal. Entretanto, terá sido assinado um protocolo entre o governo e um hospital privado de Lisboa – aparentemente, uma gota de água se tidas em conta as necessidades.

Ontem, fui submetida a uma dessas operações – em Lisboa, a cinco minutos de minha casa. Tempo de espera? A meia dúzia de dias decidida pelo médico. Custo? Zero euros (tenho um seguro de saúde pago pela empresa minha ex-empregadora). Recuperação? Regressei para casa a pé, estou aqui, 24 horas depois, a escrever no computador, guio sem restrições. Sou privilegiadíssima? Certamente.

Mas há um ABISMO entre esta minha situação e a acima descrita e isso é que não é normal. Ontem, enquanto esperava que diferentes tipos de pingos tivessem o efeito anestésico desejado, não me saíam da cabeça as imagens do aeroporto de Faro onde, com ar ansioso, um grupo preparava uma travessia do Atlântico para algo que podia ser feito quase à esquina de casa ou da cidade – numa hora.

Há médicos, há instalações, são necessários aparelhómetros mais complicados do que o robot que ordenha as vaquinhas do dr. Cavaco, mas eles existem. Atiram-se culpas para cima de uns ou de outros e problemas como este e uns tantos semelhantes arrastam-se como se fossem insolúveis. E é impossível que o sejam, quando giram pelo mundo milhões e milhões de euros, com um número de zeros que escapa à nossa compreensão, para corrigir erros crassos que ainda ontem nos pareceriam impensáveis.

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