ADENDA (*)
Fui ontem a Peniche, com cinquenta alunos de uma escola secundária de Lisboa, em visita à respectiva Fortaleza.
Já lá tinha estado em circunstâncias diferentes, mas sem ter visitado aquilo que, escandalosamente, dá pelo nome de «Museu da Resistência». O resultado resume-se em duas palavras: vergonha e indignação.
Nada pode justificar o que é mostrado às dezenas de milhares de pessoas que o frequentam por ano, na sua maioria estudantes como os que eu acompanhei - atentos e activamente interessados. Que ninguém venha falar em falta de dinheiro para justificar o miserabilismo escancarado em vitrinas com documentos mal expostos (alguns interessantíssimos), o pavoroso mau gosto da reconstituição dos parlatórios e de uma cela (aquele preso/manequim da rua dos Fanqueiros sentado à mesa e o fato completo, gravata incluída, pendurado à entrada!...) Além disso, em 2008, o audiovisual ainda não passou por ali: nem um slide, um vídeo, um som.
Com meia dúzia de tostões, tudo era melhorado num ápice, mesmo que provisoriamente e à espera de um futuro melhor. O que se vê mostra que ninguém está interessado e prefiro abster-me quanto a hipóteses sobre as possíveis razões. Qualquer grupo de jovens, como os que estavam comigo, faria melhor. (Aliás, vi há alguns meses, numa outra escola secundária, uma exposição sobre o Estado Novo preparada por alunos do 10º ano, incomparavelmente mais cuidada do que este «Museu».)
Assim vamos deixando passar o tempo e as gerações, queixando-nos do desinteresse dos jovens - que só é real quando o alimentamos ou deixamos que outros o alimentem.
(*) A conversa segue também noutros blogues, porque a João (ou a Shyz, como preferirem) foi comigo ontem a Peniche.
Fui ontem a Peniche, com cinquenta alunos de uma escola secundária de Lisboa, em visita à respectiva Fortaleza.
Já lá tinha estado em circunstâncias diferentes, mas sem ter visitado aquilo que, escandalosamente, dá pelo nome de «Museu da Resistência». O resultado resume-se em duas palavras: vergonha e indignação.
Nada pode justificar o que é mostrado às dezenas de milhares de pessoas que o frequentam por ano, na sua maioria estudantes como os que eu acompanhei - atentos e activamente interessados. Que ninguém venha falar em falta de dinheiro para justificar o miserabilismo escancarado em vitrinas com documentos mal expostos (alguns interessantíssimos), o pavoroso mau gosto da reconstituição dos parlatórios e de uma cela (aquele preso/manequim da rua dos Fanqueiros sentado à mesa e o fato completo, gravata incluída, pendurado à entrada!...) Além disso, em 2008, o audiovisual ainda não passou por ali: nem um slide, um vídeo, um som.
Com meia dúzia de tostões, tudo era melhorado num ápice, mesmo que provisoriamente e à espera de um futuro melhor. O que se vê mostra que ninguém está interessado e prefiro abster-me quanto a hipóteses sobre as possíveis razões. Qualquer grupo de jovens, como os que estavam comigo, faria melhor. (Aliás, vi há alguns meses, numa outra escola secundária, uma exposição sobre o Estado Novo preparada por alunos do 10º ano, incomparavelmente mais cuidada do que este «Museu».)
Assim vamos deixando passar o tempo e as gerações, queixando-nos do desinteresse dos jovens - que só é real quando o alimentamos ou deixamos que outros o alimentem.
(*) A conversa segue também noutros blogues, porque a João (ou a Shyz, como preferirem) foi comigo ontem a Peniche.
10 comments:
Estive para escrever exactamente a mesma coisa ontem qdo cheguei a casa.
Não podia concordar mais consigo.
Naturalmente, a consciência de que aquele espaço cultural (?) nada tem de pedagógico, pelo menos no actual formato, alimenta a ideia de que outro aproveitamento da Fortaleza, no seu todo, que permitisse simultaneamente dotá-la de um núcleo museológico digno desse nome, seria bem-vindo.
Creio que passa muito por aí o consenso gerado no concelho de Peniche em torno da ideia da recuperação turística da Fortaleza, e que tanta tinta tem feito correr a nível nacional.
É preciso ver a degradação para se perceber a vontade de fazer qualquer coisa pela Fortaleza, não concorda também comigo?
Por acaso não concordo, caro Bernardo R. Costa: sou frontalmente contra a construção de uma pousada na Fortaleza e bater-me-ei até ao fim contra esse projecto.
Não defendo, de modo algum, que todo o espaço seja ocupado por um museu, mas há outras utilizações possíveis que não choquem com a sensiblidade de quem lá esteve preso ou das respectivas famílas (grupo em que me incluo).
Alguns adolscentes que lá foram ontem disseram que nunca se imaginariam a poder dormir naquele espaço - e acredite que ninguém «acendeu» ali a polémica da construção da pousada...
Estive em Peniche há uns anos e estranhei a mesma sensação de desmazelo (para não dizer pior). Pensei que a coisa já tinha sofrido um lifting. Afinal...
Não, Miguel, o único lifting que vi foi uma pintura de paredes que me sujou o casaco.
E q me pôs a filha agoniada (confessou-mo à noite).
Pois... Temos diferentes perspectivas sobre a recuperação da Fortaleza. O que aliás pode ser positivo. Entre diferentes pontos de vista há-de nascer (espero!) qualquer ideia que dignifique aquele espaço e que não reduza aquele monumento, e Peniche e o seu povo em geral, aos comentários que ultimamente tenho lido pela internet.
Por outro lado, nesta matéria, como em tudo na vida, há sempre as mais diversas sensibilidades. O link que deixo em seguida, acerca "do pequeno grupo que a [Fortaleza] inaugurou como prisão política" também reporta às minhas memórias familiares(http://conversarempeniche.blogspot.com/2008/10/no-apaguem-memria-tenho-um-enorme.html#links).
Como poderá verificar, também por aqui respeitamos - como sempre respeitámos - aqueles que naquele espaço sofreram a repressão da ditadura.
Joana, não será por acaso que o Forte está naquele estado. Assim é mais fácil virem defender que o melhor ainda é fazerem lá uma pousada e com o dinheiro da pousada arranjarem um cantinho tipo muro das lamentações para os nostálgicos
Bernardo Costa,
Longe de mim dizer que as pessoas de Peniche não pretedem rspeitar a memória.
Discordamos, sim, na maneira de o fazer.
Ana Cristina,
Eu nem digo que seja propositado PARA se construir a pousada ou algo de parecido. Tive uma reunião com o presidente e o vice-presidente da Câmara de Peniche sobre o assunto e não fiquei, de todo, com essa impressão.
É mais uma manifestação de desleixo em geral? Não sei. Mas NADA justifica que não se melhore JÁ o que existe.
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