8.1.09

What else?

Mr. Clooney veio certamente passar o Natal entre os portugueses para tentar vender milhares de máquinas Nespresso. Estes acreditaram que o poder de compra ia aumentar em 2009, como lhes garantiu o primeiro-ministro, e compraram mesmo.

Nos serões de amigos, discute-se a crise? Não: compara-se o sabor Livanto com o Vivalto, aconselha-se o Roma para os galões da manhã e o Decaffeinato Lungo para depois de jantar. Discute-se por mail a vantagem do modelo Top-line sobre o Essenza. Tenta-se combinar um encontro? Vem a resposta: «OK, mas primeiro tenho de ir comprar café.»

Sim, porque os portugueses estão a descobrir um novo ritual: ir passar algum tempo numa loja Nespresso. Claro que é possível encomendar pelo telefone ou pela net, mas há que estar em casa para receber, comprar pelo menos 100 unidades de cada vez quando ainda nem se percebe as diferenças entre as doze variedades existentes - e ser membro do Clube, evidentemente.

Além disso, perder-se-iam os diálogos fascinantes que acontecem nas longas filas de espera das raras e sofisticadas lojas. Começa-se na rua, enregeladamente e, ao fim de quase uma hora, cada vizinho é já um amigo. O senhor da frente explica-me que não comprou a Lattissima porque estava esgotada, a senhora de trás conta que ofereceu três máquinas no Natal e que vem hoje entregar os vouchers que dão direito ao bónus, a que se segue dá-me conselhos quanto a limpeza e manutenção dos componentes.

Com a aproximação dos primeiros lugares da fila, é fatal como o destino, toda a gente se queixa do tempo de espera a um empregado aprumadíssimo: que têm de abrir mais lojas ou mais balcões, que ir também para Massamá e para Alcabideche, que é preciso vender em todos os centros comerciais. Ele vai dizendo que não, que a tendência do mercado é exactamente a oposta porque entrámos na era da internet. E como era eu que estava então na primeira posição da fila, explicou-me com o ar mais solícito deste mundo: «A senhora vai ver: quando souber usar a internet, nunca mais quer outra coisa». Engoli em seco e quando ia perguntar-lhe se já andava pelo Twitter, vagou o balcão nº 4 e lá tive mesmo de avançar.

E porque há quem não conheça a máquina:



15 comments:

maria disse...

Nem mais, Joana. Também era para falar sobre isso. É assustador. apercebi-me pelas conversas que ouvi aqui e ali e pelo lixo a saltar dos contentores nos dias a seguir ao natal, que foi um natal nexpresso. pois eu gostava era de "ressuscitar" o sabor e o aroma do café da avó Madalena. As pessoas sempre à procura de tecnologia de ponta e eu atrás dos velhos sabores. Ainda há pouco a minha filha mais velha me chamou de "césar das neves" porque me recuso a separar-me do meu velhinho telemóvel pré histórico.

dr maybe disse...

muito gira esta história.
não só a nestlé fica com um monopólio do sabor, como o sistema nespresso aumenta o uso de embalagens descartáveis - logo de lixo.
aqui na grande capital do consumo e dos mercados de voláteis um dos grandes temas do momento é que a cadeia de mercado do lixo reciclável foi quebrada. o lixo a reciclar era em grande parte vendido para a china, com a quebra de procura a china não precisa dessa matéria prima...

Joana Lopes disse...

Essa de César das Neves é boa, MC. Eu confesso que sabores antigos do café... só me lembram a horrorosa cevada!

Joana Lopes disse...

Também já tinha pensado na quantidade de lixo que isto produz - cada café, cada cápsula.

Portanto os europeus vão ter de ficar com o seu lixozito...

Anónimo disse...

Diabos me levem se percebo alguma coisa desta conversa...

Joana Lopes disse...

O que é que não percebe, Jorge: a história do lixo ou o sucesso do Nespresso em Portugal?

Anónimo disse...

O que é o Nespresso? Uma nova máquina de café? A cores?

A história do lixo, genericamente falando, acho que percebo. Mas as máquinas são para usar e deitar fora?

Joana Lopes disse...

Eu quero acreditar que o Jorge está a falar a sério, mas até me custa acreditar. A Nespress é a do anúncio do G. Clooney, a última moda em máquinas de café. E não, não é para deitar fora porque nem é nada barata!!!
Vou pôr o vídeo do anúncio no post...

Anónimo disse...

Obrigado pelo esclarecimento e pelo vídeo. É o que se pode chamar um esclarecimento por métodos audiovisuais!

Agora verifico que o lixo se deve à utilização de embalagens-cápsula. Desculpe a anterior ignorância - é que ainda uso o balão de vidro e o café comprado a peso...

João do Lodeiro disse...

Vá lá, vá lá, não sejam mauzinhos, sempre a dizerem mal das novidades!... Afinal já provaram o ristretto? Hmmm, uma delícia!Depois as cápsulas reciclam-se! Em vez de andarem a falar de educação, sem saberem do que falam, emprenhados pela propaganda e pela trampa da comunicação social que temos, apoiem mas é os professores para que eles tenham força, e muita coragem, para educarem os filhos, esquecidos, da sociedade decadente em que vivemos. Talvez assim eles saibam o que significa reciclar, e não virem santolas ocas, como a maioria que pasta no governo, nos partidos e por aí.

Bom Ano!

Isabel disse...

Discordo completamente, o Nespresso é uma porcaria,sabe ao Nescafé solúvel, e já experimentei várias cores. Até há máquinas italianas e café italiano de pastilhas de muito boa qualidade, nespresso não . Eu recebi no Natal um lote "gourmet" do Quénia, uma delícia de café e não é preciso ir para a fila. Modas.

João do Lodeiro disse...

Comparar o Nespresso ao Nescafé Solúvel é mesmo de quem não percebe mesmo nada de café. Às vezes é moda estar contra a moda. Fica bem. Eu sou contra modas, inclusivé essa! Não sei se prefere arábicas ou mocas, mas opte por adquirir café de Moçambique ou de Angola... não fica atrás do queniano e sempre dá uma ajudinha a um povo que fala português! Ah... e já agora, se aprecia café, faça como o Jorge... e use o duplo balão...

Ana Cristina Leonardo disse...

A mim ofereceram-se uma máquina pelos anos mas com a crise tem-se ficado ultimamente pela função decorativa. Com a quantidade de café que a malta bebe cá em casa não há orçamento que dê para tanta cápsula...

Joana Lopes disse...

E eis como um inocente post sobre filas de espera se transformou numa discussão sobre qualidades de café e reciclagem de lixo - são os encantos inesperados da blogosfera!

Para a Ana Cristina: aconselho o visionamento deste vídeo (não garanto que a máquina não avarie...)

http://br.youtube.com/watch?v=84uwCVYWaF8

Isabel disse...

Lamento JP, é a minha opinião, e não só a minha, o que é que quer sabe-nos a nescafé... cá em casa o café que mais se bebe é o mussulo da Delta, café de Angola. Também bebemos café de Timor.