14.3.09

Dos Monty Python para Isilda Pegado



Com dedicatória para Isilda Pegado que escreveu hoje no Público:

«Desde que foi liberalizado o aborto, mais de 22.875 crianças deixaram de ver a luz do sol, porque foram abortadas. É o número da nossa vergonha! Que seria deste país com mais 22.875 crianças? Quantas salas de aula, infantários e creches não teriam de abrir para estas 22.875 crianças? Quantos professores teriam emprego ao dar aulas a 22.875 crianças? Quanta alegria teríamos ao dar de comer a mais 22.875 crianças?»

Até quando????

15 comments:

Héliocoptero disse...

Pode-se sempre pedir a essa senhora para calcular o número de crianças que nunca nasceram por homens e mulheres terem seguido a vida clerical católica que, como muito bem se sabe, é celibatária.

Se ela acha o aborto criticável pelo impacto na taxa de natalidade, pode-se sempre virar o argumento para outros gestos não-reprodutivos.

Anónimo disse...

«pode-se sempre virar o argumento para outros gestos não-reprodutivos»
Orá cá está. O aborto promovido a gesto não-reprodutivo.
Estamos no bom caminho...

Paulo Topa disse...

Bem, em primeiro lugar penso que é óbvio que o aborto nunca deverá ser usado como método de controlo da natalidade. Cada um(a) decidirá por si próprio(a) o que fazer perante cada situação concreta, mas penso que existem métodos muitissimo melhores e com consequências muito menos nefastas.
Diz-me a experiência (não muita, mas ainda assim experiência de alguns anos de docência no 1º ciclo) que há muitas crianças que nascem e que seria bem melhor para elas não terem nascido. São crianças mal tratadas, profundamente infelizes, que acumulam frustações e traumas para toda a vida e, mesmo tendo a sorte (muito má) de serem retiradas à família de origem, nunca chegam a ultrapassar essas situações. Só quem nunca lidou com situações dessas poderá dizer que em caso algum se poderá recorrer ao aborto (tirando as situações de saúde e violação que serão ainda, eventualmente, piores).
Assim, que a educação sexual seja feita e que cada um assuma as suas responsabilidades e opções.

P.S. - O vídeo é fantástico. Um bocadinho, só um bocadiiiinho, ácido, mas espectacular.

Anónimo disse...

«há muitas crianças que nascem e que seria bem melhor para elas não terem nascido»
Sim. Se não existissem africanos não havia fome em África; e se acabássemos com os portugueses resolviamos o problema das crianças maltratadas do 1º ciclo.
Continuamos no bom caminho...

Joana Lopes disse...

Não entendo bem este seu último comentário, Nuno Gaspar. Se quiser explicar melhor...

Paulo Topa disse...

E se não acabássemos com todos as crianças do 1º ciclo, mas evitássemos o nascimento de muitas que não são desejadas (primeiro através de uma educação sexual bem feita - contemplando todas as opções a nível religiosa e ético - e, quando a gravidez indesejada ocorrer, nos casos em que os pais (mãe) o pretendam, se praticar o aborto) deixávamos de ter muitas crianças que não permitem que ninguém lhes toque, que são amarradas a camas, que têm de comer a comida do cão para comer alguma coisa, que andam de instituição em instituição até encontrar algum lugar a que possam chamar lar (mesmo assim, em muitos casos, fraco lar onde continuam a ser espancadas, mas onde estabelecem algum vínculo afectivo aos 5,6,7,8.... anos).
Querer obrigar os outros a seguir alguns preceitos religiosos (respeitáveis quando não impostos) em nome de um Deus que se esqueceu que estas crianças também deveriam ser "Seus filhos" não me parece correcto.

P.S. - É lógico que a Protecção de Menores também funciona muito mal. É lógico que uma grande parte das instituições que cuidam de menores retirados às famílias funcionam com pouco recursos. É lógico que os direitos da criança existem. É lógico que todos temos de continuar a fazer o melhor possível por todas elas. É lógico que...

Anónimo disse...

Um dos argumentos cínicos de quem defende a despenalização do aborto é dizer que quem é contra se baseia em preceitos religiosos. Pelo contrário, as melhores argumentações contra que vi no debate ocorrido no referendo até partiram de ateístas convictos (ver http://ktreta.blogspot.com/).
Misturar as duas coisas, tal como misturar o problema distinto das crianças maltratadas com o aborto é demagogia. Não se resolve um mal com outro ainda pior.

Joana Lopes disse...

Claro que há ateus que são contra o aborto como há MUITOS crentes que são a favor. A hierarquia católica é que é ferozmente contra, tal como muitas organizações a ela ligadas.
É essa hierarquia que liga o aborto à religião, não os que defendem a IVG, certo?

Anónimo disse...

Acho o contrário. A hierarquia tem todo o direito de se pronunciar sobre o assunto. Os seus argumentos terão que ser compreensíveis a quem tem Fé e a quem não tem (Obama explicou isto bem: http://www.time.com/time/printout/0,8816,1546579,00.html)
Tal como quem é a favor não deve escudar-se no facto da hierarquia católica ser contra para se escusar a apresentar argumentos.

Paulo Topa disse...

Parece-me é que pensamos que o mal é diferente. Parece-me que para si o mal do aborto é igual ao mal dos filhos absolutamente indesejados.
Eu, como não creio que exista alma e não creio que o ovo seja já um ser humano (são as duas coisas), considero que o aborto é um mal porque pode causar problemas à mãe (físicos e psicológicos) - penso que também poderá criar problemas psicológicos ao pai - e porque é visto por parte da sociedade como algo de muito mau. Por outro lado, está em mais do que altura das pessoas estarem informadas e serem minimamente inteligentes e se precaverem para não engravidarem (os dois) quando o não pretendem.
Assim sendo, considero que os filhos indesejados são um mal bem maior do que o aborto.

Anónimo disse...

Paulo Topa,
Tenho grandes amigos que nasceram apesar de não terem sido desejados e terem escapado a tentativas de aborto e hoje são pessoas que transmitem felicidade a quem está à sua volta.
Nem você nem ninguém tem o direito de ajuizar e determinar qual o destino de um ser humano.

Paulo Topa disse...

Mas você e todas as pessoas que assim pensam têm o direito de ajuizar o que as pessoas que pretendem fazer o aborto podem ou não fazer, determinando assim o seu destino como seres humanos e têm o direito de ajuizar e decidir que todas essas crianças têm de nascer determinando assim uma grande parte do seu futuro.
Estranha moralidade!

Joana Lopes disse...

Estou totalmente de acordo com o penúltimo comentário do Paulo Topa. Quanto ao argumento de Nuno Gaspar, com franqueza: raciocínios como o seu deveriam levá-lo a ter pelo menos 20 filhos para dar a muita gente a oportunidade de ser feliz!

Anónimo disse...

Joana,
Dar oportunidade de ser feliz a quem já existe, claro que sim. Pode ser de outra maneira? Não confundir com quem ainda não existe.

Paulo Topa,
Enquanto há vida o destino está em aberto. Quando se morre o destino está fechado. Se alguém se abeirar de si e fechar o seu destino a sociedade não pode ficar indiferente.

Héliocoptero disse...

Vamos lá a esclarecer uma coisa.

Eu não acho que o aborto deva ser uma forma de controlo da natalidade, mas a partir do momento em que alguém critica a interrupção voluntária da gravidez pelo impacto que tem na demografia - e não pelo trauma sobre a mulher ou questões de bioética - então há muitas outras coisas igualmente criticáveis pelo mesmo efeito na taxa de natalidade.

Não deixa de ser irónico que os "catolecos" portugueses venham, chocados, falar de maternidades a fechar, quando a própria Igreja Católica impõe uma forma de vida não-reprodutiva e até faz campanhas em que apela jovens a seguirem a vida sacerdotal. Haja coerência!