19.7.09

De Yamoussoukro até ao Rio da Prata
















Gosto de tudo em Buenos Aires: das ruas, da arquitectura francesa que lembra Paris em muitas esquinas, das enormes árvores, do insólito Camiñito, da Plaza de Mayo e das suas histórias, até do mais que mítico cemitério. Da Panamericana que chega a ter dezasseis faixas de rodagem perto do teatro Colón, dos restaurantes de Puerto Madero, das ruas cheias de gente, do tango um pouco por toda a parte e a todas as horas.

Estive lá há seis anos e dizia-se então que era a cidade mais europeia do mundo. Fruto da colonização espanhola, também italiana, mais tarde com muitos alemães (primeiro os que fugiram de Hitler, depois os seus amigos), acolhia certamente muitos vizinhos da América do Sul, mas não homens e mulheres de origens mais longínquas - concretamente, não se viam nem árabes nem africanos. Para quem estava habituado às ruas de Paris, Londres (!...), ou mesmo Lisboa ou Estocolmo, a diferença era grande.

Leio hoje que tudo mudou e que, nos últimos anos, são em número crescente os que fogem de países como o Senegal, a Nigéria ou a Costa do Marfim e pedem asilo à Argentina por motivos políticos, raciais ou religiosos. Porque, depois dos Estados Unidos, são agora também os países europeus que fecham as portas aos emigrantes, mesmo refugiados, e os devolvem sem apelo à origem. É preciso portanto ir mais longe - até que estes novos acolhedores se retraiam também, pelas melhores ou pelas piores razões.

E assim se vão atravessando continentes e oceanos, em condições precárias e mais do que perigosas, pelo crime de se ter uma ideologia diferente, uma raça menos apreciada ou uma religião minoritária. Isto já não deveria ser possível quarenta anos depois de os homens terem conseguido ir à Lua, mas a realidade aí está para mostrar que não somos ainda capazes de criar uma plataforma mínima de tolerância para organizarmos a nossa vida nesta Terra. Parece absurdo e impossível, mas é a verdade nua e crua.

(Fonte)

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