9.9.09

Imprevistos
















A chegada de Zé Neves ao «5 Dias» veio enriquecer o debate à esquerda, num patamar de que ela tem andado relativamente afastada - tanto num plano teórico, como foi o caso com Terceira Margem, como em algumas reflexões sobre as entrevistas televisivas que estão a realizar-se nas semanas que correm.

Enquanto assistia ontem ao frente-a-frente entre Sócrates e Louçã, pensei exactamente o que Zé Neves refere:

«O que me interessa constatar, aliás, é a transformação dos pontos da agenda económica agora debatida. Há um ano atrás aquele que dissesse que as eleições legislativas teriam nas nacionalizações um dos tópicos de maior divergência seria considerado um louco. A questão nem se colocava. Há um ano atrás, quanto muito, discutir-se-ia os limites das privatizações. Hoje discutimos os limites das nacionalizações e o primeiro-ministro vê-se na circunstância de ler e debater com afinco - mesmo que seja para discordar e para fazê-lo de forma pouco séria - o programa de um partido que o próprio primeiro-ministro considera como radical, extremista e fanático. Independentemente de quem ganhou ou perdeu o debate, para mim o mais significativo é que sejam os tópicos do discurso económico do PCP e do BE que agora centram as divergências.»

Seja qual for ao lado da barricada em que se está nesse domínio, a discussão veio para ficar muito para além do dia 27 de Setembro.

2 comments:

José de Sousa disse...

Será assim. E o que me parece mais elucidativo nos debates que vi até hoje, da parte do BE, do PC e até do PS, foi essa centralidade, maior ou menor, de temas anteriormente proscritos.
Quanto ao mais, os debates têm-me parecido desenxabidos e pouco densos. E só me parecem curiosos porque, na relação entre uns e outros partidos e do que cada um pretende do potencial eleitoral do outro, assim vão mudando o conteúdo das afirmações e do tom com que os lideres as vão fazendo.
Só assim me aparece a anedota do Sócrates agarrado ao programa do BE e falando da sacrossanta classe média..
Estes velhos temas, das nacionalizações, etc., só são ignorados pelas direitas PSD e CD, talvez, quanto ao PSD, pela necessidade de se demarcar à direita, enquanto os outros (o PS também) oscilavam “perigosamente” para a esquerda.
Eu desejaria que este debate se prolongasse, como diz Joana Lopes, para além do 27 de Setembro e que fosse até para além do fim aparente da crise actual.
Se as coisas se agravarem e se a crise passar a ser profundamente social, fugindo aos pequenos aparelhos de enquadramento, Sindicatos, Partidos, etc., eu fico na expectativa se, depois dos actuais temas, não aparecerão os do controlo operário (trabalhador), da autogestão, da democracia operária (do trabalho), etc.
Não o desejaria. Não o desejaria porque não teria préstimo essa sopa requentada. Bem sei que o PC fala de ruptura, dizendo umas vulgaridades sem sentido sobre tal coisa, mas também sei que o BE trabalha para construir uma grande força de esquerda, a longo prazo, onde o plano gestionário da crise parece sobrepor-se a qualquer outra linha política. E com isso como que cheiram o futuro.
Por mim, desejaria que, a haver colapsos, rupturas, esvaziamento de poderes, fuga dos “cidadãos” ao que os controla, os enforma e os conduz, aquilo que há quem chame “êxodo”, isto é, e neste caso de forma radical, saída e recusa de quanto nos é dado política e socialmente, por mim, desejaria, repito, que para tal contribuíssem as actuais ideias de uma nova esquerda (outra economia, uma nova vida é possível, por exemplo) e que, nesse movimento, se renovassem e se multiplicassem as esquerdas na sua possível diversidade.

As esquerdas de que necessitamos.

Não vou mais além. E só mais duas coisas: não vejo os chamados comunistas, enfiados no Mausoléu do seu Partido, pesarem neste novo processo “revolucionário”. Já admito que o BE seja capaz de singrar por algum tempo nesse caudal. A existir.

Joana Lopes disse...

Já disseste tudo... como sempre.