13.10.09

No rescaldo de Domingo
















Não era minha intenção escrever agora sobre a derrota do Bloco de Esquerda nas eleições autárquicas, mas não param os comentários e os mails em que me pedem (estou a ser meiga…) que o faça «já», vá lá saber-se porquê. Assim seja.

Mesmo excluindo o caso especial de Lisboa, fiquei admirada com a baixíssima percentagem de votos no Bloco? Gostaria que este tivesse um vereador na CML? Certamente que sim e não fui a única. Já muitos, bem mais qualificados do que eu, apontaram causas, deram conselhos, adivinharam futuros. Não vou por aí.

É-me totalmente indiferente que, dentro de quatro anos, o Bloco tenha vereadores em mais trinta Câmaras ou presidentes de Assembleias Municipais em Alguidares de Baixo e no Pulo do Lobo. Também pouco me interessa saber se Luís Fazenda deve tentar ser um pouco menos leninista ou Louçã mais sorridente.

Aquilo que espero, não agora mas desde há alguns anos, é que uma força de esquerda, menos marcada do que outras por passados absolutamente louváveis mas inevitavelmente pesados, possa servir de mola para que algo de novo nasça - como resultado de fracturas várias, certamente, mas com um vigor suficientemente significativo para romper com este anátema de vivermos num país que vota à esquerda e é governado (quase sempre) à direita.

O sucesso do Bloco nas europeias e nas legislativas fez-me crer que tudo isto poderia acontecer mais depressa do que expectável? Com certeza. Mas não é a derrota nas autárquicas, grande e indesmentível, que é neste momento o mais grave, mas sim o seu aproveitamento em mais do que prováveis guerrilhas, umas internas outras atiçadas do exterior, que poderão ajudar a matar quase à nascença esforços positivos e louváveis, e que poderão acabar por comprometer o que parecia possível.

Se isso vier a acontecer, será mais uma oportunidade perdida e é lamentável. Mas outras virão. Retomo um dos meus lemas preferidos: nada leva a crer que o mundo acabe nos tempos que aí vêm.


P.S. – Exprimi-me mal no penúltimo parágrafo e recebi reacções por mail. Não pretendo de modo algum dizer que o Bloco não deva discutir internamente o que se passou em toda esta fase eleitoral – claro que sim e só se os seus dirigentes fossem inconscientes é que não o fariam. Espero apenas que essas discussões não paralisem tudo o resto.

6 comments:

António P. disse...

Boa tarde Joana,
Não leve a mal aqueles que instiram para que postasse sobre as autárquicas. É porque a estimam e gostam de ler o que escreve. Pelo menos é o meu caso.
Sobre o que escreve também eu gostaria que tivesse aparecido "uma força de esquerda, menos marcada do que outras por passados pesados ".
A questão é que o BE, ou as forças que lhe deram origem ( UDP, PSR e ex-PC ), tem um passado pesado. E até hoje não vi uma intenção clara de o criticarem e distanciarem-se dele.
Os tiques, pelo menos a nivel dos dirigentes, herdados desse passado estão lá todos.
Esperemos para ver qual a evolução.
Cumprimentos

Joana Lopes disse...

Não levo nada a mal, António...
Totalmente de acordo com o que diz sobre as forças que deram origem ao BE, mas ele já tem hoje muitos jovens, até em posições de responsabilidade (na nova AR, por exemplo) que nem idade têm para «sofrer» dessa pesada herança.

António P. disse...

Pois é Jona, os jovens não terão idade para "sofrer" dessa pesada herança mas :
- um partido /movimento muito personalizado e centralizado dará hipóteses a esses jovens ?
- e qual a ideologia que une os elementos do BE ( velhos e jovens )?
- e na ausência de um programa aprovado num congresso fundador ( que nunca se realizou ) será possível saberem ( os jovens ) ao que vão e o que defendem ?
Cumprimentos

virgili o vargas disse...

Olá Joana,

na minha humilde opinião, a baixíssima percentagem do Bloco nestas autárquicas não me surpreendeu nada. Para mim, Autárquicas tem muito a ver com caciquismo, e (ainda) não encontro muitos caciques do BE por aí. O povo eleitor vota nos seus caciques locais e pronto! Nas outras eleições deste ano, tb não achei que o povo eleitor fosse um povo muito à esquerda. Acho, isso sim, que estava numa de castigar o PS e qualquer voto que ajudasse esse objectivo era bom e válido. O BE e outros partidos viram bons resultados nessas eleições pela mesma razão.

Joana Lopes disse...

Virgílio,
Tendo a concordar contigo e, quanto às autárquicas, nem sei se o BE dve alguma vez pretender ser um partido «de bases». Mas nem entrei por aó no texto porque chegaria muito longe...

José de Sousa disse...

Joana
Embora tenha a tentação de palrar sobre o BE e os seus resultados eleitorais, vou seguir na tua pista.
Também eu fiquei surpreendido. Votei BE em tudo o que podia (ao contrário do que costume, porque, nas autárquicas, divido os 3 votos segundo princípios e utilidades), para aumentar a percentagem que o BE tinha alcançado nas Legislativas e nas europeias, bem como o seu efeito mítico.
Eu espero que o BE ultrapasse este encalhe e siga adiante renovado. Sem guerrilhas, nem divisões, nem interferências exteriores de maior.
O projecto de implantar o partido por todo o país, tinha muito que se lhe dissesse. A institucionalização e o jogo dos muitos deputados, muitos autarcas, também, muita representatividade institucional também. Etc.
Eu , no início, não via muito o BE como uma força que visasse o poder. Que influísse futuramente no exercício de tal poder, sim. Criando novas condições. Depois, fiquei na expectativa que tu tinhas. A de ver que um país, muitas vezes, vota à esquerda –embora aqui tenha as minhas dúvidas– fosse governado um pouco menos à direita. Ou governado um tanto à esquerda. Atenção, eu estive atento à tua expressão cuidada, em relação a este ponto, a que eu adiro por completo. Prudência, quando se nos referimos a um processo desta complexidade!
Seria a “vertigem do sucesso”? Com aquelas votações nas Legislativas e europeias. Queriam um partido e um peso político seguindo, diga-se, o formato habitual (será obrigatório!). Isso estava a deixar-me incomodado. Nem por isso deixei de votar, como o fiz.
Resumindo: receio que o BE esteja enredado na crise política que vivemos, não só conjuntural, como estrutural, e que não tenha capacidade de se colocar no seu exterior. E muito menos de rompê-la, num ponto qualquer. Dum modo muito geral, não encontro hoje, no BE, com a abandono das causas fracturantes e o prosseguimento da sua “nova” linha política, os elementos duma Nova Esquerda, duma Esquerda em renovação e procurando-se na sua reformulação e numa nova praxis.
E lá fico a ruminar a derrota do BE e a minha também, mas, como dizia o meu pai e eu repito vezes sem conta: “há mais marés que marinheiros”. Não, o mundo não acaba hoje e ainda teremos muitas marés.
Parece-me muito acertado o que diz Virgilio. Bem como o que escreve António P.
Abraço