Há 45 anos, foram presas em Lisboa dezenas de estudantes, activistas nas Associações de várias Faculdades. Artur Pinto foi um deles e conta na primeira pessoa.
E Diana Andringa comenta assim:
«Não fui presa nesse 21 de Janeiro de 1965 – tinha chegado à Universidade poucos meses antes, não tinha actividade política – mas também não esqueço esse dia. As notícias sobre as vossas prisões a chegarem aos poucos, frases sussurradas sobre alguns que tinham logrado escapar, pessoas que, sem que ao princípio soubesse porquê, desapareceram da Faculdade e de quem só voltei a saber muito tempo depois, quando já estavam seguras no exílio, a informação segredada de que havia um dirigente escondido no próprio Hospital de Santa Maria… Foi a minha primeira actividade clandestina: ir a casa dele e, com uma qualquer desculpa, conseguir que a senhoria me deixasse entrar e retirar de lá papéis e dinheiro que deixara escondido. Seria melhor não ir sozinha, sermos duas estudantes muito jovens a ir buscar um livro que o colega mais velho generosamente nos emprestava. Se bem recordo, foi a Zé Cabeçadas quem me acompanhou, cada uma emprestando à outra um pouco do sangue-frio que não tinha, distraindo a senhoria para a outra poder pesquisar, entre os livros, qual escondia o que procurávamos. Missão cumprida, voltámos a pé para o Hospital, esperando a cada momento ouvir uma ordem de prisão. Tinha 17 anos. Acho que nesse dia a minha vida começou a mudar.»
P.S. – Houve alguém que escreveu no dia seguinte um texto que ficou célebre e que nunca consegui ler: «Dia da Universidade Cativa». Se ainda o tiver…
E Diana Andringa comenta assim:
«Não fui presa nesse 21 de Janeiro de 1965 – tinha chegado à Universidade poucos meses antes, não tinha actividade política – mas também não esqueço esse dia. As notícias sobre as vossas prisões a chegarem aos poucos, frases sussurradas sobre alguns que tinham logrado escapar, pessoas que, sem que ao princípio soubesse porquê, desapareceram da Faculdade e de quem só voltei a saber muito tempo depois, quando já estavam seguras no exílio, a informação segredada de que havia um dirigente escondido no próprio Hospital de Santa Maria… Foi a minha primeira actividade clandestina: ir a casa dele e, com uma qualquer desculpa, conseguir que a senhoria me deixasse entrar e retirar de lá papéis e dinheiro que deixara escondido. Seria melhor não ir sozinha, sermos duas estudantes muito jovens a ir buscar um livro que o colega mais velho generosamente nos emprestava. Se bem recordo, foi a Zé Cabeçadas quem me acompanhou, cada uma emprestando à outra um pouco do sangue-frio que não tinha, distraindo a senhoria para a outra poder pesquisar, entre os livros, qual escondia o que procurávamos. Missão cumprida, voltámos a pé para o Hospital, esperando a cada momento ouvir uma ordem de prisão. Tinha 17 anos. Acho que nesse dia a minha vida começou a mudar.»
P.S. – Houve alguém que escreveu no dia seguinte um texto que ficou célebre e que nunca consegui ler: «Dia da Universidade Cativa». Se ainda o tiver…
2 comments:
Cara Joana:
Tenho algures esse comunicad, escrito a propósito dessas prisões,sendo o título sugerido pelo facto de ser aquele o Dia da Universidade,segundo o calendário corporativo.Quando o encontrar, publico!
Obrigadíssima, José... Ficamos à espera.
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