Como a discussão do Orçamento é pouco sexy e o PS nunca mais se decide a apoiar Manuel Alegre, nada melhor para alimentar comentadores, jornalistas e bloggers do que o drama da TAP. Junto-me a eles.
O que se sabe sobre a origem da catástrofe? Que um piloto disse no Facebook que não tinha gostado de viajar em classe económica quando tinha direito a fazê-lo em Executiva e que oito colegas o apoiaram. Como? Protestaram contra a compota de pêssego do último almoço a bordo? Lamentaram ter perdido dois carneiros no Farmville por causa dos atrasos nos voos? Disseram que todos os administradores da empresa são ladrões? Ameaçaram pôr uma bomba no próximo voo Lisboa – Luanda? Não se sabe ou, pelo menos, ainda não o vi escrito onde quer que seja. E faria toda a diferença sabê-lo.
Nem discuto a questão de perceber se um curso para que foram convocados é um «castigo» ou não, porque eles dizem que sim e a TAP nega-o. Mas já está envolvido o Ministério do Trabalho, há Assembleias Gerais de Trabalhadores e uma hipótese de greve. Nem no PREC vi algo de parecido, mas adiante.
Regresso ao Facebook.
O que lá se escreve pode ser pessoal mas não é privado - para isso há conversas, telefonemas e mails (pelo menos para quem não alinhe em teorias da conspiração, segundo as quais tudo isto está a ser vigiado). Não se convoque, portanto e em vão, o desgraçado Big Brother porque ele não é para aqui chamado.
Censura nunca mais? Mas qual censura? Alguém apagou páginas no Facebook?
Limite à liberdade de expressão porque um trabalhador nunca deixa de ser cidadão? Certamente, mas um cidadão também não deixa de ser empregado de uma determinada empresa só porque escreve numa rede social. Bom senso precisa-se.
Passei há pouco por uma Caixa de Comentários onde várias pessoas diziam a um desses bloggers escandalizadíssimos que talvez não lhe fizesse mal trabalhar uns tempos numa empresa a sério – com horário de trabalho, patrões e regras de conduta. Não posso estar mais de acordo: digo frequentemente aos meus amigos puramente académicos que nem sabem como esta experiência lhes mudaria a visão da vida e, sobretudo, critérios de julgamento rápido em situações como esta!
Neste caso da TAP, haverá «culpas» de ambas as partes? Talvez, mas todos sabemos, desde há muito, que quando um piloto bate as asas na Portela…
12 comments:
Não acompanhei a história deste conflito, que desconheço. Mas conheço as costumadas diatribes dos pilotos da TAP (e dos controladores da NAV e de outras classes profissionais com enquadramentos especiais), reflexo recorrente de humores de trabalhadores com estatutos de previlégio relativamente às outras classes profissionais: quase sempre a mentalidade novo-riquista aflora por tudo e por nada, com um olhar de indiferença e, mesmo, de sobranceria sobre todos os que os rodeiam, nos locais de trabalho ou nos locais públicos!
Por isso apoio totalmente este 'post' "reaccionário"...
Olá Joana, eu também apoio este post bué reaccionário. Quando li nos jornais algumas notícias sobre esta história, também fiquei a pensar que andavam com falta de histórias para encher as páginas.
Mas agora uma pergunta séria: o que são aquelas coisas em fila indiana, a preparar-se para saltar da prancha, na ilustração que usaste no teu post?. Moscas suicidas? Pilotos que ainda não sabem trabalhar com o facebook?
Ora cá estão dois apoios de peso, Jorge e Virgílio...
Quanto ao desenho, são pilotos em fila para saltarem para dentro do Facebook, sim.
"talvez não lhe fizesse mal trabalhar uns tempos numa empresa a sério – com horário de trabalho, patrões e regras de conduta."
Qual? Uma daquelas em que se tem de pedir licença para ir mijar?
Se já trabalhou nalguma em que isso acontecesse, acredite que o lamento.
Joana
a questao que coloca parece-me mais interessante do ponto de vista do confronto entre liberdades individuais e brio profissional. O tema em si é um pouco tonto (viajar em 1ª ou 2ª) e o meio da discussao ou de veiculaçao de opinioes é um meio publico ou semi-publico, é verdade. No entanto, a questao coloca-se se um trabalhador de uma empresa pode ser admoestado ou sofrer algum tipo de sançao (ou procedimento de melhoria de conduta - soa muito a programa chinês, nao soa?) por uma intervença fora da sua vida laboral.
Eu dou o meu exemplo concreto, eu trabalho para uma empresa que supostamente tem ligaçoes à Opus Dei e assumo a minha condiçao de comunista em redes sociais e no meu blog. Sempre fui bem tratado e nao sei se é do conhecimento da minha entidade patronal a minha filiaçao politica (por alguns comentários, creio que nao) e critico de forma despudorada procedimentos internos da empresa sem os mencionar (visto que muitos sao adoptados por outras empresas).
Nesse sentido, de forma "preventiva" tendo a autocensurar-me a fim de assegurar a minha estabilidade laboral e finaceira e no plano conceptual, parece-me uma aberraçao democrática. é a vida, como dizia o Guterres? É. Mas nao é por isso que deixamos de ser, cada dia que passa, um pouquinho mais esquizofrenicos laborais...
Obrigada, Rafael, pelo seu comentário que põe a questão em planos importantes.
Não utilizaria a expressão «brio profissional» para um dos termos do confronto que refere e que é real. Preferiria bom senso, realismo ou expressões equivalentes.
Eu ainda não li em parte alguma o que foi escrito no Facebook (por todos) para além da tal referência à viagem em Económica. Só com esses elementos me pronunciaria quanto à justeza ou não de uma admoestação e regresso aqui aos exemplos que dei, por absurdo, no meu post: terão ameaçado com bombas?
Não conheço o tipo de plano de cursos deste tipo que há na TAP mas, pelo que leio, são prática corrente. Goste-se ou não, chegaram a grandes empresas portuguesas há alguns anos, «lá fora» existem há décadas. Na IBM, participei em dezenas deles - muitas vezes sem qualquer vontade, globalmente e a distância, com proveito indiscutível. E a frequência dos mesmos não era voluntária - era assim mesmo, fazia parte da vida corrente. (Será uma prática mais americana do que propriamente chinesa…)
Quanto ao que diz ser a sua forma de actuar, eu até acharia perfeitamente natural que assumisse a sua filiação comunista no seu meio laboral e não só em blogues e nas redes sociais. Ora essa: não foi também para isso que foi feito o 25 de Abril? Evidentemente, que tem todo o direito de não o fazer se considera que isso pode pôr em causa o seu posto de trabalho, mas isso é uma opção sua. Outra coisa bem diferente seria se fizesse um post no seu blogue dizendo que o administrador sr. X da sua empresa chamada Y era um ladrão. Pode fazê-lo, obviamente, mas não lhe parece normal sofrer as devidas consequências? Ele devia poder – e pode – pô-lo em tribunal com base nisso.
Mas repito: não sei qual a gravidade do que terá sido escrito pelos nove trabalhadores da TAP: se é inócuo, que o divulguem.
Joana
concordo quase plenamente consigo, no entanto tenho que deixar uma salvaguarda: no exemplo que coloca, de um trabalahdor insultar um administrador ou patrao o recurso a um tribunal parece-me lógico, o da sançao laboral parece-me excessivo, por ambiguidade na justeza da avaliaçao do visado.
Relativamente à minha questao pessoal concreta, assim como outras situaçoes mais precárias que conheço e que me sao proximas (bastante proximas) garanto-lhe (e sei que tambem terá consciencia disso) que existem muitas empresas onde o 25 de Abril ainda nao chegou...
Era uma vez uma menina que num desvario disse : só se forem muito estúpidos é que me dispensavam".
Depois,veio o lobo mau e "papou-a" !
Conclusão : ainda que a história não se tenha passado no facebook, nem na TAP nem na IBM, não quer dizer que a burrice não ande por aí ...
Eh! Eh!, António, estás inspirado! Abraço
Rafael,
Não sei se entendo o seu primeiro parágrafo: se um empregado insultar o patrão, este pode recorrer a um tribunal, mas a empresa como tal não pode fazer nada, é isso (e já não estou a pensar em redes sociais)?
Hummmm....deixe-me pensar...eu acho que se for feito fora do ambiente laboral ou seja, se nao estiver envolvido nem quebrado o sistema de relaçoes hierarquicas, creio que sim, que seria isso que quereria dizer. Isto se for um insulto.
Se for o questionar de uma determinada linha de orientaçao empresarial e a sua expressao publica poder trazer prejuizos para a empresa, creio que essa atitude já seria passivel de um procedimento disciplinar.
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