11.1.10

Só faltavam as Conservatórias, ó céus…














Punham as mangas-de-alpaca, moviam-se como num aquário, abriam lentamente uns belíssimos móveis com uma espécie de persianas de tabuinhas e retiravam uns grandes livros onde iriam registar nascimentos, mortes, casamentos, divórcios e não sei se mais alguma coisa. Havia filhos normais, outros ilegítimos e muitos de pais incógnitos. Cada cidadão esperava calmamente pela sua vez, sentado numa cadeira de pau, depois de ter fixado a cor da gravata de quem seria atendido imediatamente antes. Não existiam máquinas com senhas nem painéis electrónicos e ninguém sonhava com a hipótese de fazer paciências num PC nas horas de menor movimento. As conservatórias eram uma boa montra do cinzentismo, em tempos de ditadura.

Tudo é hoje diferente e ainda bem: o atendimento é muito melhor, mais rápido e mais eficaz. Por causa do Simplex e / ou pelo progresso da humanidade.

O que não estava previsto é que, em 2010, os conservadores de registo civil assumissem a repulsa que levou no passado muitos portugueses a desertarem por não quererem matar pessoas, pretendendo invocar o estatuto de objectores de consciência por não aceitarem casar quem tem o mesmo sexo. Consciências curtas, certamente, prepotentes e ainda totalmente cinzentas.

E o mais extraordinário é que haja quem diga que sim, que os funcionários podem, eles próprios, considerar a lei inconstitucional, enquanto outros desejam que esta inclua uma cláusula que preveja a possibilidade de objecção.

Este país ensandeceu?

(A propósito desta notícia)

5 comments:

Miguel Cardina disse...

Parece notícia do Inimigo Público... o que virá a seguir? Professores xenófobos que se recusam dar aulas a ciganos? Empregados de café adeptos da saúde que se recusam servir fumadores? O senhor do quiosque só vender A Bola a quem for benfiquista?

Joana Lopes disse...

Tudo hipóteses possíveis, para não dizer altamente prováveis.

Anónimo disse...

Com umas luvas, mascara da gripá e preservativo, não há problema.

dr maybe disse...

houve uma situação idêntica no Reino Unido. Uma funcionaria municipal, onde aqui são feitos esse tipo de registos, recusou-se celebrar parcerias civis (nas monarquias a religião pode impor mais). Parece-me que foi no município de Islington e se não foi despedida esteve perto disso.

maria disse...

como diz um comentário na notícia isto é um espirro. Um espirro umas tosses uns esgares e isto passa. Estamos a falar de Portugal, certo?