28.2.10

«Nuestros hermanos» nunca brincaram em serviço




José Maria Aznar deixou a presidência do governo espanhol há seis anos e «reformou-se da política» aos 51. Ou talvez não.

Já conseguiu entretanto atingir dois objectivos que tinha definido: manter-se jovem e falar inglês. O primeiro revela-se num físico apurado, com uns quilos a menos e abdominais mais firmes, o segundo num sotaque razoável e numa fluência normal. Tudo bem por aí, portanto.

Tudo igualmente bem quanto à vida numa bela casa nova em Marbella, onde flutua, vá lá saber-se porquê, uma enorme bandeira espanhola.

Tudo ainda melhor para a sua conta bancária, já que cobra cerca de 27.000 por cada uma das muitas conferências que faz e dá aulas em Georgetownn, entre muitas outras tarefas – 224 dias fora de Espanha, em 2009, o equivalente a nove voltas ao mundo.

Através de tudo isto, consolida as suas posições neocon, alinhadas com os seus pares americanos e já bem «à frente» dos conservadores europeus.

Há quem ainda se interrogue sobre fronteiras entre uma actividade política privada e simples tráfico de influências privado? Who cares!

Novidade? Nenhuma mas, desta vez, passa-se mesmo aqui ao lado. Por isso, quando leio tudo isto e muito mais, no El País de hoje, fico a pensar que os nossos ex-, PR’s ou PM’s, são verdadeiros meninos de coro! Um vive a esfalfar-se bem ou mal em Bruxelas, outros dois andam pelo mundo a tratarem de tuberculosos ou de refugiados (meu deus…), há quem se tenha retirado para Chelas e quem não descanse enquanto não se vinga de um milhão de votos que lhe roubaram. E chego mesmo a ter simpatia pelo que continua a defender túneis e congressos.

Pode ser que isto acabe com a próxima leva de ex-, que se aproxima talvez mais depressa do que previsto. Aprendam, se faz favor, olhem para nuestros hetmanos e elevem um pouco o nível da nossa presença no mundo!

17 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Pois, visto deste lado, o copo parece meio cheio...
Mas visto do outro lado, do Reino Unido do Tony Bliar, parece meio vazio.

Por outro lado, estás talvez a ser injusta?
Para quem andou a berrar de cima das mesas nas RGAs, a roubar sofás da faculdade para mobilar a sede do partido, a criticar as camaradas de tendências burguesas que tomavam banho todos os dias, estar hoje em Bruxelas e poder tomar banho todos os dias até é um salto bastante significativo!

xatoo disse...

Carissima
se pode estar aqui a divertir-se com o fucking up feito pelo Aznar bem o pode agradecer à incorrectamente chamada extrema Esquerda: foi contra um grupo de manifestantes que lhe chamavam criminoso e reclamavam que a Espanha não deveria dar mais cobertura a guerras de agressão que Aznar fez o gesto obsceno.
Este reparo é só para situar este post no contexto - para que não se pense que há "uma outra esquerda" cordata, "responsável" que combate efectivamente o imperialismo e a guerra.
É inacreditável que não se veja que os sonsos do BE se preparam para celebrar uma aliança com os saudosistas do PS para se perpetuarem no regime do mercado livre...

Vitor M. Trigo disse...

Manuel,

São as vantagens de ser "EX".

Nos tempos que correm até parece que quem não for EX-qualquer coisa não tem direito a estatuto que se veja.

É vê-los nos poleiros...

Joana Lopes disse...

xatoo, a foto é tirada do Google, sem que tivesse pretendido dar-lhe contexto.
Voltei e ler o meu post na tentativa de lhe encontrar qualquer conexão com a segunda parte do seu comentário - em vão.

Joana Lopes disse...

Todos somos ex-, Vítor...Toda a questão é decidirmos o que fazemos com isso.

Joana Lopes disse...

Talvez, Manel, Bruxelas seja um salto bom e, nesse caso, ainda outros saltos podem estar em perspectiva - no após Bruxelas.

Vitor M. Trigo disse...

Pois é, Joana, se nem todos ainda somos EX para lá caminhamos. Já que mais não seja todos havemos de ser um dia EX-Vivos.

Mas creio que percebeste onde queria chegar. Dou alguns exemplos para que o meu comentário anterior, fique mais claro :

No PSD:
Durão Barroso, ex-extrema-esquerda, passou-se para falcão da direita, claro.
Santana Lopes, idem.
Morais Sarmento, idem.
Zita Seabra, que é feito da combativa militante do PC?
Sobre Pacheco Pereira, nem falo.

No PS:
É ver os pelouros dos ex-PC Pina Moura, José Magalhães, ou do ex-ministro Jamé? Onde estariam hoje se não tivessem mudado de clube?
E que dizer de Alegre e Ana Gomes? Se não estivessem sempre dispostos a ser "problema", como conseguiriam o mediatismo de que dispõem?

E no BE quem não foi já ex-qualquer coisa?

A questão, na minha opinião, não está em mudar. Mário Soares até disse um dia que só os burros não mudam (já não me lembro em que contexto).

Mas, porque é que tanta gente (só) fica com os nervos em franja com o Fernando Nobre é que eu não entendo. Não é por ele ter sido ex-apoiante de Mário Soares, Miguel Portas, Durão Barroso, e António Capucho. Até já se tecem conjecturas por ele ser AMI. Ou será por ter sido ex-monárquico? Este homem de tanto eclectismo parece possuir o pragmatismo que um “presidente de todos os portugueses” precisa de ter. Ou é por já lhe terem colocado o rótulo de anti-MA (foi ao próprio MA que ouvi isto pela primeira vez…)? E MA não é anti-PS, ou, no mínimo, anti-Sócrates ou anti-Soares?

Como sabes, já o declarei várias vezes, tenho dificuldade em ver os partidos políticos num patamar inferior da democracia. E é por isso, que não gosto de movimentos sem-partido (ou acima dos partidos) venham donde vierem.

Mas também não consigo aceitar que um CV unicamente assente em discursos mais ou menos inflamados seja suficiente garantia de capacidade para assumir grandes responsabilidades e liderança.

Muitas bitolas para o meu gosto.

É por isso que eu desconfio dos que apresentam como abonatório (qual virtude intrínseca) o facto de terem sido qualquer coisa. Alguns até se tornaram acérrimos inimigos de foram.

Ah, Valentes!

virgili o vargas disse...

Joana Lopes disse...

Todos somos ex-, Vítor...Toda a questão é decidirmos o que fazemos com isso.

Joana, a melhor coisa que se pode fazer com o "ex" é, na minha humilde opinião, precedê-lo com um"S".

Vitor M. Trigo disse...

Pois eu acho Virgílio que entraste muito bem na conversa.

Como a Joana disse "Toda a questão é decidirmos o que fazemos com isso".

ISSO a que alguns insistem em chamam EX precedido de S.

Um abraço, Amigo, que não te vejo faz tanto tempo.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Joana, pensando nisso, talvez a "esquerda" não devesse fazer tanto alarido com umas mentirinhas de chacha do actual primeiro ministro, que desvaloriza a gravidade do acto de mentir, e devesse guardar o alarido para as mentiras realmente graves de um primeiro ministro anterior, caso ele regresse a Lisboa.

Vitor M. Trigo disse...

Quando se começa a conversar com alguma calma e, como costumo dizer, sem raiva (que como se sabe é uma emoção básica que, como o medo, está no "controlo" quase absoluto da amígdala) os assuntos encadeiam-se como minhocas.

Quero eu dizer com isto, meu Caro Manuel, que vou utilizar esta última intervenção (peço compreensão pelo eventual abuso) para dizer o que penso sobre essa história da "esquerda" estar a fazer alarido exagerado sobre o PM e as suas eventuais mentiras ou mentirinhas, como se lhes quiser chamar.

É que eu não acho que seja a "esquerda" a única responsável. Isto não a iliba, pelo contrário. Na minha opinião quem está a montar todo este esquema é a dita social-democracia do PSD e a comunicação social por ele dominada. O CDS, esse espreita a melhor oportunidade de ter algumas pastas - não mais do que isso.

A "esquerda", a meu ver aproveitou o reboque, em especial a dita "extrema-esquerda" que, como de costume, continua a sofrer de "esquerdismo". Está-lhe no ADN.

Se realmente, o actual PM e o seu partido são os criminosos, coveiros do nosso país (sim, porque quem comete crimes é criminoso), então que assumam TODOS a nobre acção de o fazer cair, e, democraticamente, vamos para eleições (se o PR não se lembrar duma daquelas incríveis alternativas reformistas como a de DR por PSL, de tão má memória).

Mas a questão fundamental é que todos querem continuar a criticar e destruir, mas todos ^sabem que não têm unhas para liderar a solução que o nosso país e o nosso sacrificado povo necessitam.

Estamos a falar de pessoas, não de qualquer outra entidade como a maioria dos bloguers insiste em considerar. Veja como se cumprimentam uns aos outros, numa doentia troca de apoios, e a forma como maltratam quem ousa deles discordar.

Bom, como a adernalina já me está a subir, vou ficar por aqui. Por agora.

Nota final: eu não me lembro de um único política que nunca tenha mentido.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Bom dia, Vítor,

De facto, é fácil irmos vagueando pelo mundo ao longo de uma conversa, mas sugiro que regressemos ao tema inicial.
Eu não falei na participação da esquerda nesta campanha por não haver também participação da direita, mas por considerar que seria de interesse na esquerda reservar o exercício da crítica à mentira para mentiras graves, não o desbaratando e desvalorizando com mentiras menos graves.
Porque qualquer dia regressa à metrópole o primeiro ministro que mentiu gravemente ao país, e como pretexto para envolver Portugal numa guerra (que por mero acaso não nos atingiu, mas atingiu gravemente a Espanha, por exemplo).
E o que ele possa tentar fazer na sequência desse regresso não incomodará muito a direita, mas incomodará a esquerda, penso eu.
E se a esquerda tiver desvalorizado as acusações de mentira, nomeadamente ao exigir a demissão de um primeiro ministro apenas por mexer os cordelinhos para colocar na TVI gente mais simpática para ele (o que até é um bocado contraditório da parte de quem vivia feliz e contente com a comunicação social nacionalizada, expoente máximo da sua tomada de controle pelo governo), não vai ter munições para o acusar das mentiras dele, essas sim muito graves.

Sobre o caso "Face Oculta" direi apenas que acho que devo ignorar factos de que tomei conhecimento através de escutas telefónicas e da violação do segredo de justiça, até porque considero correcto o princípio de a justiça ignorar as provas adquiridas deslealmente.
Interessa-me deste caso essencialmente aquilo que me parece ser o germinar (mas não é o primeiro) de uma prática de o sistema judicial fazer justiça pelas suas próprias mãos, usando os poderosos instrumentos de violação dos direitos civis que tem à sua disposição, não para a finalidade que os justifica, a aquisição de provas para usar em tribunal, mas para colocar na praça pública informação que incrimina, mais pessoal e política do que criminalmente, os investigados.

Finalmente deixa-me acrescentar uma pequena nota de cinismo realista, considero o actual primeiro ministro péssimo em todos os aspectos mas, se for derrubado, não será por isso, nem por ter mentido, nem por ter tentado comprar a TVI, mas por estar em minoria na AR.

xatoo disse...

vem no jornal I de hoje, página 7:
o CDS quer que os deputados do grupo apresentem um moção de censura contra o regime cubano no Parlamento. Vão já a correr apoiar...
clap, clap, clap
les beaux esprits se rencontrent, qual é a desculpa séria para não se juntarem à nobre causa comum?

Joana Lopes disse...

E daí, xatoo? Depende dos termos da moção, não? Pode até acontecer que surjam outra(s) moções, vinda(s) de outra(s) bancada(s).
A AR é o que é, não propriamente uma «assembleia do povo». Ou considera-a como tal?

Bem recentemente, TODAS AS BANCADAS apoiaram um voto de pesar pela morte de Manuel Serra, um indiscutível antifascista. Ou não o foi para si?

Vitor M. Trigo disse...

Caro Manuel,
O problema maior dos debates escritos está aqui à vista – não permitem o esclarecimento imediato dos mais do que prováveis desvios interpretativos.
Creio, no entanto, que tive o cuidado de relevar o facto de que iria aproveitar o que escreveras, e até pedindo desculpa pelo abuso.
O que me preocupa é a "esquerda" que identifiquei, estar a fazer o jogo da direita, que também defini.
Se a "esquerda" quiser, de facto, evitar que uma marioneta como Durão possa voltar ao nosso país e condicionar o seu futuro, então tem de ser coerente e lutar por isso. Não pode fazer o jogo do inimigo à custa de discursos pseudo-intelectuais. Por mim estou farto de retórica e inqualificáveis sessões da AR que o povo não entende nem aceita.
Não creio que o nosso povo aprecie o trabalho de deputados que disputam o título de argumentador mais perspicaz. O que o povo precisa é que o país lhes ofereça melhores condições de vida, formação, e respeito.
É o futuro dos nossos filhos e netos que está em causa, não quem melhor se aguenta em permanentes exercícios de dialética.
Para finalizar, recordando que nunca votei nem tenciono votar PS, não estou de acordo quando se a apontar as políticas de Sócrates como altamente lesivas para o país.
Podem ignorar-se, ou vilipendiar, medidas estruturantes como:
- Aposta na formação (Novas Oportunidades; fecho de escolas insustentáveis; remodelação e construção de novas escolas; avaliação e requalificação de professores; etc.)
- Aposta na Saúde (fecho de SAPs obsoletos e inadequados; fecho de maternidades sem meios; lançamento de construção de novos hospitais; campanha para cobertura total de médicos de família; etc.)
- Aposta no Apoio Social (abono de família; RSI; fundo de desemprego; apoio fiscal ao emprego; etc.)
- Vergonha o que se está a passar na justiça. Concordo inteiramente. Não tenho palavras para expressar o que sinto.
É por isto que não perdoo à "esquerda" a diversão em que se deixou embalar com o canto de sereia da direita.
Um abraço, Manuel. Temos de marcar uma tarde inteira, pelo menos, para descascar tudo isto.
Joana, estamos a monopolizar o teu blog. Se achares demais, diz.

Joana Lopes disse...

Nem por sombras, Vítor, assisto, com prazer, à vossa conversa. Mas já vi este filme e sei como geralmente continua: cada um de vocês acabará por criar um blogue! É fácil, é barato e só não dá milhões!! :-)

Vitor M. Trigo disse...

A propósito da eventual moção do CDS referida por xatoo, e já comentada por Joana.

Em Março de 2008 resolvi guardar um artigo da LUSA sobre uma moção do BE, inicialmente apoiada pelo PS, que após desculpa esfarrapada lhe merecu uma abstenção. Resultado a AR rejeitou um voto de condenação ao apoio dado por Portugal (via actuação do ex-PM Durão) à criminosa guerra do Iraque.

Aqui fica para poderem recordar:

ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=335684&visual=26&rss=0

Como é que eu adivinhei que um dia ainda iria precisar disto?