1.2.10

Para pais super-protectores




(Via «i»)


Muita matéria para reflexão e talvez alguns benefícios colaterais: filhos não aconchegados em casa até aos 35 anos...

17 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Já noutras longitudes as modas são diferentes, e os filhos saem de casa antes dos 35 anos...

http://www.cmjornal.xl.pt/noticia.aspx?channelid=00000021-0000-0000-0000-000000000021&contentid=22F075B6-A4C8-48A0-886A-8386D91B57D5&h=6
(não sei se há forma mais científca de colocar aqui um link...)

Joana Lopes disse...

Muito bom!!

Manuel Vilarinho Pires disse...

Joana, agora sou eu que digo que a resposta a esse comentário exigiria um ou mais "posts", nomeadamente para perceber se o objectivo do comunismo era a)acabar com os pobres, ou b)acabar com os ricos, ou c)acabar com todos, ou d)não acabar com nenhuns.
Olhando para o que sobre hoje, parece-me que a resposta certa é d).
Mas andou muita gente muito enganada a dar o litro e alguns a dar muito mais do que o litro.

Joana Lopes disse...

Para além do link que deixaste para uma notícia em que uma criancinha chinesa estava amarrada a um poste para não fugir, o que é que isto tem a ver com comunismo??
Deve estar a escapar-me algo...

Manuel Vilarinho Pires disse...

Ai, Joana, logo a mim que tenho tão fraca capacidade de síntese, me havia de calhar esta pergunta...
Se calhar, um bocadinho por vaidade, que me faz achar alguma piada ao que escrevo e me dificulta a circunscrição àquilo que é importante dizer.
Vai sair certamente longo, confuso, mal acabado e chato de ler.

1)Para que serve o comunismo?
2)Porque se deixou desgraçar e matar tanta gente em nome do comunismo?
3)E porque se matou tanta gente, também?

Uma visão cínica possível responderia: para tomar o poder.
E a pergunta 3) ficaria respondida.
Uma visão mais generosa responderia que foi a luta por um ideal de justiça social, pela implantação de uma sociedade baseada em valores de igualdade e de fraternidade, em contraponto a outra baseada no egoísmo individual (a economia de mercado é mesmo baseada na liberdade de cada indivíduo ser egoísta e procurar satisfazer os seus interesses individuais tendo apenas como limites não prejudicar os outros indivíduos).
Não é preciso grande sofisticação analítica micro-económica para perceber que no limite, se toda a gente fosse perfeita, um sistema comunista poderia criar tanta riqueza como um sistema de economia de mercado, mesmo com pessoas imperfeitas.
Mas como nem toda a gente, ou talvez até mesmo ninguém, é perfeita, um sistema comunista cria na realidade muito menos riqueza que uma economia de mercado.
Mas a ideia de justiça, igualdade e fraternidade é tão apelativa para quem é bem formado, quase irresistível, e precede o interesse pela análise económica no processo de crescimento e aculturação individual, que muita gente se deixou seduzir por ela, ou para um namoro mais ou menos prolongado, mais baseado em afectos ou em interesses, ou mesmo para um matrimónio para toda a vida.
E isto responde às perguntas 1) e 2).

Isto já vai longo, e ainda não entrei no assunto...

O marketing do comunismo a seguir ao 25 de Abril usava imagens simplificadoras como esta para procurar explicar o conceito a quem tinha passado a vida a ouvir descrições medonhas sobre ele: "não é para acabar com os ricos, é para acabar com os pobres".

Na realidade, a segunda metade do Séc.XX demonstrou bem que o comunismo real não gerava tanta riqueza como as economias de mercado, nomeadamente através da assimetria de desenvolvimento entre economias que partiram de bases semelhantes (as Alemanhas, as Coreias e por aí fora).
Nomeadamente, que não acabava com a pobreza, não acabava com os pobres.
Mas finalmente também se veio a perceber que não acabava com os ricos.
Não coleccionando estatísticas como o amigo Penin Redondo e correndo, portanto, o risco de errar, creio que a China é hoje em dia o país com mais milionários no mundo.
Ao lado de e/imigrantes internos que não têm sequer direito a uma creche para deixar os filhos quando vão trabalhar (como o Dr. Portas ou o Sr. Le Pen apreciariam o conceito: os imigrantes que se amanhem, não temos nada que tratar deles).
Ou seja, nem igualdade, nem fraternidade.

Resta na história o reflexo de um facto que parece ter vingado em todos os países comunistas: os sistemas judiciais são tão eficazes, tão eficazes, que por vezes parecem ter eficácias superiores a 100%.
Assim sendo, o gesto de amarrar o miúdo de 2 anos até pode ter uma carga pedagógica, habituando-o desde já àquilo que o poderá eventualmente esperar no futuro, com razão ou sem ela...

Foi longo, confuso, mal acabado e chato de ler, mas não queria deixar de pelo menos tentar responder.
Bom fim de semana!

Joana Lopes disse...

Só percebi no fim. Quer dizer que tu achas que a China é um país comunista???? Capitalismo puro e duro, Manel!

Manuel Vilarinho Pires disse...

Quem diz a China podia estar a dizer Coreia do Norte, onde muita gente morre de fome mas há colecções de Bugattis e Lamborghinis.
Ou Angola, onde muita criança morre de caganeira mas as mulheres dos generais gastam milhares de contos em cada vinda às compras a Lisboa o ao cabeleireiro a Paris.
Se a China não é comunista, que país é comunista hoje em dia? *

Atenção, Joana, a China não é capitalismo puro e duro.
O capitalismo, ou para ser mais preciso, a economia de mercado, que não é a mesma coisa mas é o que no fundo conta, baseia-se na liberdade.
Liberdade de estabelecimento, liberdade de comércio, liberdade de informação e liberdade de escolha.
As equações da micro-economia mostram que restrições à liberdade do exercício de actividades económicas e consumidores menos bem informados e com menos liberdade de escolha conduzem a menor criação de riqueza.
E na China o partido comunista chinês não permite essa liberdade.

* Cuba, não é? Mas se ainda não viste procura um filme cubano de 1995 chamado "Guantanamera" (http://www.imdb.com/title/tt0109949/), que mostra, com uma boa disposição sul-americana (eu sei que é América central, mas mesmo assim) notável que, por baixo da economia oficial comunista, vive uma economia real de desenrascanço, muito capitalista.

Joana Lopes disse...

Não há nenhum país comunista no mundo, Manel. O comunismo falhou, Manel.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Paz à sua alma...
E eu, distraído, nem tinha dado pela extinção, pensei que ainda estava vivo.
Sabe-se de que é que morreu?

Manuel Vilarinho Pires disse...

Com mais calma, depois de experimentar uma primeira aula de Tai-Chi por descaminho de uma ex-colega da IBM, a Paula Silvestre, posso ensaiar uma resposta.
Morreu, porque é óptimo não comer no McDonald's porque não se quer, mas é péssimo não comer no McDonald's porque não se pode, e a vontade de experimentar é irresistível.
A sua morte lança um desafio curioso.
Se muita gente se deixou seduzir pelo comunismo por uma mistura de valores generosos com "mis-concepções" económicas que a realidade se encarregou de desmentir, como canalizar esses valores generosos, ou pelo menos os que sobreviveram à decepção, para uma causa útil?
Hoje em dia a generosidade não é valor de se deitar fora...

Joana Lopes disse...

Ah, este tem muito que se lhe diga. Vou sair agora, mas logo respondo e remeto-te para algumas coisas que já escrevi neste blogue.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Fico entusiasticamente à espera, porque é um tema que me fascina realmente e para o qual, por razões que posso explicar mais tarde, não tenho resposta.
Confesso que já estava com receio de não estar a ser mais do que um bocadinho chato com a insistência em sublinhar os malefícios do comunismo que, afinal, já estava morto.
Agora, o que vais dizer é certamente tão interessante que não merecia ficar aqui escondido numa conversa privada antre nós os dois, merecia se calhar um novo "post", ainda que começado por: "Um melga andou-me a chatear com um pregão sobre os malefícios do comunismo, e vai aqui a resposta:...".

Joana Lopes disse...

Manel, Não é uma resposta teórica, mas lê isto para me situares:

http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/2009/11/ainda-por-causa-do-avante-ainda-epilogo.html

Manuel Vilarinho Pires disse...

Bom, tu tiveste de facto um percurso que matematicamente foi secante com o PCP ao mais alto nível.
Eu também tive algum contacto, mas apenas tangente e a um nível de bases.
O meu primeiro sogro era militante do PCP, não sei ao certo se funcionário.
Filho bastardo de um baronete de Viseu e da governanta da família, partiu à aventura aos 16 anos (antes dos 35!) para a África do Sul, e regressou comunista.
Entre períodos de prisão e de clandestinidade casou, já cinquentão, com uma criada de uma pensão aonde viveu, e assentou mais ou menos, tendo ela deixado de trabalhar.
Ainda voltou a ser preso depois de casado, o que a minha sogra aproveitou para baptizar a Madalena.
Tinha uma profissão que suponho que era relativamente comum naquela gente, era tipógrafo no Diário de Lisboa.
Quando o jornal fechou reformou-se com uma pensão muito modesta derivada da carreira contributiva curta e muito interrompida.
Não sei ao certo o que fazia no partido, mas algumas figuras conhecidas eram visitas ocasionais de casa dele.
Quando morreu, a minha sogra, já cinquantona, ficou numa situação muito difícil, mas foi acudida pela solidariedade do PC: estava para abrir uma livraria da Editorial Caminho na Amadora, e foi-lhe oferecido um emprego a fazer a limpeza da livraria, que estava em obras.
O trabalho era duro, mas agradeceu de coração aberto a solidariedade e sabia que depois de acabarem as obras e abrir a livraria o trabalho seria muito mais leve.
Quando as obras acabaram foi despedida...
Ainda é viva, deixou de ter contacto com o PCP, mas nunca deixou de votar no partido!!!

Manuel Vilarinho Pires disse...

Dou uma resposta possível à pergunta que lancei no meu antepenúltimo "post".

Podem sempre arranjar um tipo decente para se candidatar à Presidência da República, um tipo mais ligado aos valores generosos do que às "misconcepções" económicas, independente dos aparelhos partidários da esquerda dos negócios, da esquerda megalítica e da esquerda telegénica, com esperança de discutir mais no plano dos princípios e menos no da táctica.

PS: esta referência às 3 esquerdas foi para activar o modo de leitura entre-linhas, e confirmar a lendária falta de tacto masculina, ao sublinhar aqui o que já estava claro no texto!

Joana Lopes disse...

Deves ter ido à bruxa antes de escreveres isto porque acabo de ler que Fernando Nobre é candidato a PR, o que, a mim pessoalmente, não me dá qualquer alegria.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Não foi milagre, sabia o caminho ds pedras...