18.3.10

Voando sobre um ninho de cucos


Uma das maravilhas que levaremos deste mundo, quando deixarmos de cá andar, é certamente a capacidade de nos surpreendermos. Quando tudo parece conhecido e mais ou menos previsível, eis que uma notícia nos sobressalta. Foi o que me aconteceu hoje ao ler este estranho título do DN: «Renovadores comunistas seguro de vida da 'lei da rolha'».

Saudoso do PREC, o PPD/PSD esqueceu lutas passadas e futuras e rendeu-se à asa protectora do centralismo democrático, na pessoa de alguns juristas que vieram recordar que, em 2003, o Tribunal Constitucional deu razão ao PCP, contra um recurso interposto por Edgar Correia, Carlos Figueira e Carlos Brito, suspensos ou expulsos pelo Comité Central daquele partido. Pediam estes que o dito centralismo democrático fosse eliminado dos estatutos do PCP, consideraram os juízes que não tinham razão.

Não será por criticar o marxismo-leninismo que algum militante laranja será eliminado das listas de sócios (digo eu, mas já sem certezas definitivas…), mas Santana Lopes and friends poderão continuar a sua cruzada. Good luck, camaradas!

3 comments:

Vitor M. Trigo disse...

Joana,
Detesto uma discussão em que os intervenientes sistematicamente dão "uma no cravo e outra na ferradura”. Ora poderá ser isso que me vai acontecer neste comentário.
Em relação a esta inconcebível (para o comum dos mortais, que não para o de-vez-em-quando iluminado PSL) lei da rolha, e utilizando os suportes argumentativos que referencias no teu post, acho o seguinte:
1. Há que não confundir o Marxismo" (nem o próprio Marx gostava deste termo), uma teoria fantástica e imortal que muita gente cita sem nunca a ter estudado, com Marxismo-Leninismo, que não passou duma interpretação polítco-governamental;
2. Muito menos se pode, penso eu, confundir Marxismo com Maoísmo. Basta ler escritos fundamentais de Mao para se tornar muito difícil a identificação das duas correntes – uma filosófica a outra política;
3. Eu, fruto da minha formação política enquanto jovem, habituei-me a ver no centralismo democrático do PC uma vantagem desse partido na prossecução dos seus objectivos. Posteriormente, porque o conhecimento nos trás por vezes algumas surpresas, passei a não estar tão certo desses atributos, outrora aceites sem rebuço. Mas, pelo Maoísmo, nunca cultivei significativo apreço nem identificação. Pelo contrário, desenvolvi grande desconfiança;
4. Ora acontece que é pela mão de ex-Maoístas que tenho sido vindo a confirmar as minhas reticências, sistematicamente transformadas em repúdio.
E é neste ponto 4. que incluo os disparates de PSL, os equívocos de Ana Gomes, as trapaças (para ser benevolente) de Barroso, e a "honestidade intelectual" de Pacheco Pereira. Nenhum deles perdeu o espírito trauliteiro. Como se diz agora, está-lhes no ADN.
E é neste cenário que faço um esforço por entender os pareceres constitucionalistas das figuras citadas. Faço o esforço, mas não consigo lá chegar.
E não digo mais nada, pois já deve ser suficiente para ter irritado alguns dos teus leitores.

Vitor M. Trigo disse...

A propósito do poster que utilizaste, Joana - Que mau feitio.

Aquilo foi feito no tempo de Sá Carneiro e mais alguns jovens imberbes (há muito esquecidos pelos que agora se reclamam de herdeiros), que estavam a dar os primeiros passos na descoberta da política.

Não deixas passar nada, caramba!

Joana Lopes disse...

Nem te vou responder à «teoria» da primeira parte, Vítor, mas pára o barco: se algum ex-ML te ouve dizer que o Santana Lopes alguma vez foi maoista, tem os dias contados! Foi sempre de movimentos estudantis bem à direita!! Bem basta o Durão e outros...
Portanto, esta deriva do PSL não tem raízes por aí...