29.5.10

Cohn-Bendit, uma vez mais

Ajuda a reflectir sobre a crise grega. E não só.



Via Ladrões de Bicicletas

6 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Intervenção interessante, no estilo eloquente dele...

Mas faço um sublinhado sobre o conteúdo.
Nos mercados financeiros o juro serve para remunerar o risco. E o risco está associado à capacidade de pagar a dívida, e vai crescendo à medida que o devedor se vai endividando mais, com o consequente aumento do preço do crédito.
Quando os países da UE emprestam dinheiro à Grécia a uma taxa de juro inferior à de mercado, ainda que superior à taxa de juro a que se financiam, a Grécia ganha, porque tem acesso a crédito mais barato do que o mercado lhe oferece, mas o diferencial entre as taxas de juro a que os países se financiam e emprestam à Grécia não é necessariamente lucro deles.
Porque, por um lado, estão a assumir um risco, o de a Grécia vir a não pagar estas dívidas, que não podem transmitir aos seus próprios financiadores.
Por outro lado, ao aumentarem o seu financiamento para emprestar à Grécia, podem-se expor a um aumento das taxas de juro a que financiam toda a sua dívida.
Não corramos a chamar-lhes párias sem fazer bem as contas primeiro.

O estilo eloquente dele é engraçado, mas está a milhas do do Louçã na capacidade de pôr o Barroso aos gritos e aos saltos, ou na de pôr o Sócrates a mandá-lo para a tia... não ter o Louçã no PE é mais um dos "perqs" do "assingnment" do Barroso...

Anónimo disse...

MV Pires: A questão é política, meu caro. E a Alemanha- na economia de mercado austera e diabólica que dirige- foi a grande beneficiada pelo crescimento " artificial " dos PIIGS nos últimos anos. A Zona Euro - em especial os PIIGS - é o couto privado mais rentável da poderosa economia tedesca. Se bem que eles tenham outras ambições: Rússia, em especial, e China. Sabe que o TGV alemão- que se chama ICE - e para mim é muito melhor e seguro do que o francês - tem duas linhas já a explorar- no caso russo completamente entre Moscovo e St. Petersburgo- e entre Pequim e Xangai- coisa de perto de 900 kms em ambos os casos...- que vão funcionar como postos de ataque massiço da cooperação internacional alemã nos dois colossos? O caso do ICE russo parece que é um sucesso total, fulgurante e a redourar cada vez mais a excelência da indústria, pesquisa e tecnologia alemã. Salut! Niet

Manuel Vilarinho Pires disse...

Caro Niet,
O Euro-deputado disse claramente que uma das vias possíveis para uma reforma financeira da Grécia é a redução das suas despesas militares, e adiantou mesmo uma sugestão que me parece excelente, a de influenciar a Turquia, que gostaria de ser admitida na UE e por isso é algo influenciável, no sentido de também "descomprimir" a actual relação de vizinhança com a Grécia e, assim, tornar esse desinvestimento em militarização mais viável, para os dois países.
Não sei se trazer mais variáveis à equação ajuda a resolvê-la, principalmente quando são independentes das que estamos a tentar calcular, mas a minha formação matemática diz-me que não, de modo que é capaz de valer a pena resolver este assunto sem introduzir o TGV na discussão.
E a questão do TGV nem sequer é relevante para nós, porque não vai ser construído, porque não há no mercado dinheiro para o financiar, e o contrato assinado há 15 dias com o consórcio vai servir apenas para o consórcio processar o Estado e receber uma simpática indeminização... que retribuirá certamente com empregos confortáveis a quem lhes tornou possível recebê-la.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Caro MV Pires: A questão do ICE- TGV alemão pilotado pela Siemens - era para ilustrar a perfomance do capitalismo alemão fora da UE. Montaram, equiparam- no caso russo até a linha fizeram- e colocaram a funcionar nos dois colossos, Rússia e China- o " brinquedo"alemão. Pelo menos, 10 mil milhões de Euros irrigados na indústria alemã e exploração integral da linha por parte do consórcio do país construtor, pelo menos, no caso russo. Eu não queria falar do anedótico TGV luso. De forma alguma. Era só para lhe dar um exemplo da " voracidade e ambição " dos tedescos. E o Cohn-Bendit, que recusou ser ministro com Schröder, está cada vez mais integrado na lógica dos super-grandes...No sentido, vamos lá, de acautelar o reforço da democracia pluralista pelo lançamento destes mega-projectos fora da UE. Aliàs, fala-se muito- para "dobrar" o Poutine e muchachos da nova KGB...-da inclusão da Rússia na U.Europeia. O caso da Turquia é mais uma rábula para " envolver/cercar " o Irão, país vizinho e com afinidades linguísticas muito sensíveis com os turcos.E cheio de petróleo e gaz à mão de semear, como sabemos. Cordiais saudações, Niet

Manuel Vilarinho Pires disse...

Caro Niet,
É um prazer verificar que um interlocutor que nos primeiros contactos me parecia vindo directamente do Séc.XIX vive, afinal, em pleno Séc.XXI.

Mas gostaria que me permitisse fazer-lhe uma sugestão amigável.
Trazer para análise todos os aspectos e mais alguns de um problema pode enriquecer a discussão mas nem sempre contribui para a sua resolução.
Discutir um problema atendendo a todos os seus aspectos pode torná-lo tão complexo que impede o cálculo de soluções e, deste modo, aniquila a análise.

É um bocado a diferença entre a Física e a Engenharia. Um físico consegue-lhe calcular o que é necessário para um engenho ir a Marte e regressar, mas não é capaz de construir um que levante voo; um engenheiro, por simplificar conceitos, consegue construir um engenho que faça aquilo que o físico idealizou.

Qual é então a forma mais eficaz de resolver problemas? É criar um modelo de aproximação que inclua os aspectos mais relevantes e que seja suficientemente simples para permitir chegar a conclusões, e depois testar as conclusões com alguns dos aspectos que não foram usados na análise para ver se elas são resilientes à introdução de informação adicional.

Isto para dizer que a ideia do Euro-deputado me parece boa e, a não ser que seja desmontada por esses considerandos adicionais que invoca, vale a pena procurar implementá-la, deixando essas considerações para uma discussão futura... não concorda?
Um abraço

Anónimo disse...

MV Pires: O Cohn-Bendit, o herói de Mai 68 francês, que é agora o todo poderoso presidente( ou vice...) do grupo Europe-Verts no Parlamento Europeu, sabe da poda toda...e quer postar-se a ser ministeriável. O seu grande e íntimo amigo Joscha Fischer, o antigo MNE alemão e líder dos Verdes alemães nos golden times, abandonou a política, tem uma reforma de vice-chanceler belíssima e dá conselhos ao espantoso grupo industrial de Munique, o da BMW...Mas a geopolítica que subentende as declarações de Daniel C-B. prende-se, quanto a mim, com a lógica de ferro neo-bismarckiana da Realpolitik que visa o acesso e controlo das fontes principais de matérias-primas essenciais, dê lá por onde der... Salut! Niet