Quase peço desculpa por dizer, uma vez mais, que não consigo tentar posicionar a Europa e os seus estados de alma, o Ocidente em geral e as suas crises, os PECs e contra-PECs, a não ser vistos de fora, de preferência a partir de onde se encontra agora o centro de tudo o que de verdadeiramente importante está a acontecer: a Ásia e, mais concretamente, a China e sua vizinhança.
Neste contexto, um texto que Le Monde publicou ontem sobre o Vietname, se nada traz de verdadeiramente novo, realça factos importantes e põe o dedo em várias feridas.
O povo vietnamita não esquece que a vizinho chinês o dominou durante dez séculos, mas copiou-lhe o modelo económico, com maior sucesso do que qualquer outro país do sudoeste asiático (5,3% de crescimento em 2009, em tempo de crise mundial, não é nada mau, mesmo se se regista uma certa inveja em relação 8,7% do mestre…) e sabe que a China é «o grande irmão, o único inimigo político e o principal parceiro económico». Isto apesar de tentar diversificar, olhando para Singapura e para a Rússia como aliados que quer ter em conta.
Os seus 86 milhões de habitantes correspondem à população de uma província da China e o seu PIB é 1/40º do chinês. A balança comercial é desequilibrada, a favor da potência mais forte, claro, que exporta maquinaria, computadores e automóveis e importa matérias-primas (petróleo, carvão e borracha).
Mas - e aqui há um facto importante a registar – o aumento de salários na China está a provocar deslocalizações de empresas para o Vietname, onde a mão-de-obra é mais barata. E o que faz Hanói? Aproveita e, simultaneamente, deslocaliza já para o Laos e para o Cambodja (isso não vem no artigo de Le Monde, mas sei-o eu) e começa a olhar para África – no fim da linha, sempre, e sabe-se lá até quando…
Continua portanto esta transumância da produção de bens e de serviços, também de pessoas, num ciclo talvez inevitável mas infernal, que nós, europeus e americanos, iniciámos – é bom não esquecer. Como acabará tudo isto? Sem nenhum risco de um efeito boomerang?
Foto: ruas de Hanói, onde estive há um ano.
Na página que se segue: alguns artesãos – com os dias contados.
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