21.6.10

Revoltas chinesas em Paris


Belleville é um bairro no Nordeste de Paris, onde, como em muitos outros, se misturam vários povos e diferentes culturas.

Nas últimas décadas, aumentou a presença de asiáticos e, se se manteve a coabitação com outras comunidades, nomeadamente magrebinas, turcas e africanas, a verdade é que o comércio mais importante passou para as mãos dos chineses, o que faz com que a sua força se venha a sentir e a impor cada vez mais.

É sabido que se trata de uma comunidade de imigrados que não se envolve normalmente em incidentes e dela disse SarKozy, há apenas quarto meses, que era «o modelo de uma integração com sucesso».

Precisamente por essa razão, os acontecimentos registados há poucos dias, em Belleville, revestem-se de uma especial importância. Durante uma manifestação organizada por um conjunto de associações contra a insegurança da comunidade chinesa, nomeadamente de pequenos comerciantes que são vítimas de assaltos frequentes, um pequeno incidente funcionou como um rastilho : depois de um roubo de um saco a uma cidadã chinesa, os compatriotas conseguiram agarrar o ladrão, entregaram-no à polícia francesa, esta nada fez e deixou-o partir em liberdade.

Foi o suficiente para se seguir o que nos habituámos a ver com outros protagonistas: carros virados, cadeiras e mesas pelo ar, garrafas contra a polícia, gás lacrimogéneo desta contra os manifestantes, etc., etc.

Nada de especialmente original, portanto? Nem tanto assim, já que a entrada em cena de uma comunidade normalmente avessa a este tipo de reacções pode significar o início de uma nova vaga de problemas, qualitativa e quantitativamente preocupante.


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11 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Joana,
Esta história, que eu não conhecia, é muito diferente das histórias habituais de desacatos das comunidades imigrantes em França...
Normalmente, os episódios seguem-se a um confronto com a polícia. Desta vez parece terem-se seguido à cooperação com a polícia...
Ou, olhando por outro ângulo, a um confronto da polícia com um grupo de cidadãos que estava a zelar pela ordem pública e pela justiça, ou seja, pelos seus direitos de cidadania.
Nem sempre é assim...

Joana Lopes disse...

Exacto, Manel. O que dizes parece-me bem característico da atitude típica dos chineses.

Manuel Vilarinho Pires disse...

... que deve colocar alguns problemas analíticos interessantes...

Fico cheio de curiosidade em ver a reacção daqueles esquerdistas que se entusiasmam tanto com os desacatos populares, normalmente decorrentes de a polícia balear um assaltante numa perseguição (se bem que às vezes não seja nenhum assaltante mas apenas um miúdo árabe), a este episódio que foi originado, nos antípodas, pela recusa da polícia em cumprir as suas obrigações de manutenção da lei e da ordem pública...

Joana Lopes disse...

O 2º link que só vi depois de escrever o post (no «também»), ainda é mais elucidativo.

septuagenário disse...

A velha e decadente europa já está a pagar as patifarias que andou a praticar pelo mundo fora.

Mas vai pagar mais ainda pelos tiros que vai dando nos próprios pés.

Já nem uns problamazinhos criados por meia dúzia de africanos que fugiram da miséria colonizada, e ainda continuam a enviar militares para o Afeganistão.

Sem falar nos Kosovos que vão ameaçando em toda a europa sem saber o que se ha-de fazer.

Joana Lopes disse...

A Europa está sem saber o que fazer. Estou a ouvir neste momento o P&C e é absolutamente óbvio.

Anónimo disse...

Meus caros: O que parece, conforme se pode ver em Paris, onde estive recentemente - e o mesmo se passa em Estrasburgo- é que o Governo Fillon/Sarkozy adoptou uma estratégia de provocação muito sofisticada contra as autarquias de Esquerda: " evacuar ", reduzir ao máximo os efectivos de CRS e de polícia nas ruas.Para perversamente acontecer o irreparável de um momento para o outro... O Quartier Latin, agora, parece um oásis de paz(falsa), sem os autocarros da polícia de choque permanentes e intimidantes- estilo Guerra Civil preventiva...- como nos " velhos tempos " de Chirac e Tibéri, os dois últimos maires de direita da capital francesa. De resto, a tensão social é muito grande e a taxa de desemprego catastrófica em certos " bairros " dificéis intra-muros; isto para não se falar dos arredores da planície de Saint-Denis...Salut! Niet

Joana Lopes disse...

Manel,
Segue o link do que pus agora em P.S.

Joana Lopes disse...

Niet,
É verdade que estive há uns meses em Paris, onde não ia há já alguns anos, e estranhei a ausência de polícia no Quartier Latin.
Se é também assim na periferia...

Anónimo disse...

Joana Lopes: Parece, ao que li e vi na TV esta semana, que um recauchutado parecer de Sarkozy- sim, ele o omnioresidente!- aplicado à lufa-lufa na polícia...dos arredores, decidiu, à beira de mais um ciclo eleitoral maior- presidenciais dentro de um ano-colocar no terreno, junto aos mais problemáticos lotes de HLM dos arredores, zonas de Seine-Saint-Denis e Vale de Marne, unidades especiais de polícia de intervenção, sobretudo nos locais de tráfico de droga. E nomeou mesmo um Perfeito da sua inteira e absoluta confiança política para tal trabalho, que engloba também- ao arrepio de toda a missão histórica e administrativa desse corpo importante do aparelho de Estado - funções sociais e...de fomento económico. O Sarkozy é mesmo capaz de tudo...E lá anda- qual elefante numa loja de porcelana a tentar instruentar a venda do " Le Monde, como sabe.Salut!Niet

Manuel Vilarinho Pires disse...

Uma lição de cidadania dos imigrantes chineses aos franceses, que tanto adoram excitar-se com os "enragés", quer adorando-os, como se fossem uma herança do Maio de 68, que detestando-os, como os que elegeram Sarkozy por lhes ter chamado "escumalha"...
Curioso é o facto de não interpretarem a selecção de alvos dos assaltantes como racista, mas como escolha racional, por andarem com dinheiro e evitarem fazer queixa na polícia (fosse o Saramago assaltado e chamar-lhe-ia perseguição religiosa ou política).
Ao contrário dos assaltantes que, quando são apanhados e não são brancos, se queixam de racismo da polícia.
E queria a santa Maria José Nogueira Pinto expulsá-los da Baixa... burrinha!