9.8.10

Da decência


«Li num blogue insuspeito de simpatias ideológicas pelo PCP a expressão "um homem decente" para caracterizar o desaparecido dirigente comunista António Dias Lourenço, e vi depois a mesma expressão repetida mais do que uma vez em outros dispersos lugares. Caracterizar é distinguir. Numa sociedade minimamente saudável do ponto de vista moral, em que a decência, e não a falta de escrúpulos, fosse a regra, a expressão "um homem decente" não distinguiria. Só em sociedades moralmente doentes como aquela em que hoje vivemos a decência se torna uma característica distintiva e expressões como "um homem decente" têm conteúdo informativo. Dias Lourenço dedicou toda a vida (17 anos dela passados nas prisões de Salazar, outros tantos na clandestinidade) a bater-se por ideias e valores e não por interesses pessoais. Quase 40 anos depois do 25 de Abril, em tempos, como estes, de recém-chegados e de oportunistas, isso é certamente motivo de escândalo. De quantas das notoriedades que abundam hoje na nossa vida política e económica poderemos dizer "um homem decente" sem abastardar a própria noção de decência?»
Manuel António Pina, no JL.

«Decência» significa respeito pelos bons costumes, honestidade, dignidade nas maneiras, compostura. Também se pode falar de dignidade, honestidade, integridade, rectidão, respeitabilidade, seriedade.

Tudo regras que nos nos vamos habituando a elogiar como excepções.
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3 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

É o meu elogio preferido, e já o usei neste blogue uma série de vezes.
Duvido que o facto de ser uma excepção que distingue os visados dos outros seja de hoje, ou que hoje o seja em grau diferente de ontem...

Já agora, e tendo em atenção que já me compararam com uma versão ecológica de um comentador de consumo energético elevado, posso revelar que adoptei este elogio a partir de uma crónica desse mesmo comentador a propósito da morte do actor James Stewart, que ele resumia, e bem, na expressão "um tipo decente". (private joke)

Joana Lopes disse...

Eu sei que é o teu elogio preferido e pensei nisso quando li o MAP.

Ana Cristina Leonardo disse...

O MAP tem uma capacidade de síntese notável! Tudo em meia dúzias de linhas.