Só quem viveu uma greve geral em Paris pode imaginar o pandemónio que reinará hoje por lá e um pouco por todo o país, embora os números da adesão sejam, à hora a que escrevo, confusos e, como sempre, divergentes.
Os sindicatos esperam parar milhões de franceses como forma de protesto contra o adiamento da passagem à reforma. Em resumo e concretamente, a partir de Julho de 2011, atrasa-se quatro meses por ano a idade mínima, que atingirá 62 anos em 2018, e só se beneficiará de reforma por inteiro aos 67 - e não aos 65 como actualmente (tudo explicado, detalhadamente, aqui). Claro que o PS, porque está na oposição, já veio dizer que reporá os valores anteriores se e quando for governo…
Nós e a maior parte dos europeus olhamos para estes números com uma (legítima) inveja e, certamente, com um elevado grau de descrença quanto à vitória da luta que está em causa, pelo menos a médio e longo prazo. Se é certo que seria mais do que justo e desejável que cada um pudesse tirar partido do aumento da esperança de vida, dispondo dela a seu belo prazer e dando lugar aos mais jovens, não é nesse sentido que sopram os ventos da (nova) história desta envelhecidíssima Europa.
E Sarkozy não está a fazer muito mais do que os seus congéneres ao manter os velhos a trabalhar e ao tentar libertar-se de imigrantes, ciganos e naturalizados indesejados. É mais espectacular e radical, sim, e decidiu colocar-se na crista da onda. Infelizmente.
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7 comments:
Bom dia, Joana,
Não são os ventos que impedem a Europa de permitir a cada um tirar partido do aumento da sua esperança de vida... é a natalidade.
Olhando com cinismo, até há aqui alguma justiça: uma geração que não quis ter (nem a despesa, nem o trabalho, de ter) filhos, agora não tem quem a sustente na velhice.
Porque não é ao governo que se dirigem estas reivindicações: é às novas gerações! O que quer que se decida agora, são elas que vão pagar...
Mas o problema da natalidade resolve-se, pelo menos parcialmente, com imigrantes! O mundo está cheio de crianças!!!!
É verdade.
Mandar embora imigrantes não tem nenhum sentido, muito menos do ponto de vista do financiamento da segurança social. Para ser preciso, poderia ter algum sentido nesse domínio se os postos de trabalho dos imigrantes expulsos fossem ocupados por nacionais, que deixariam de sobrecarregar o desemprego, mas parece que há uma certa estanquicidade nesses mercados de trabalho.
Mas esta greve é ortogonal à questão da imigração, e tenta apenas impedir as alterações às regras de pensões.
Não é?
Certo, tanto quanto sei a greve é mesmo só contra a alteração da idade da reforma. MAS NÃO DEVIA SER!
Pois não.
Mas se os franceses fossem associar na mesma manifestação a questão da imigração à questão da idade da reforma, "chances are that" se manifestassem pela manutenção da idade da "retraite" e pela expulsão dos "arabes" que lhes (não) roubam os empregos.
É que mesmo os "francófilos", que apreciam a combatividade e a eloquência do povo francês, não são obrigados a considerá-lo tão inteligente como combativo e eloquente. Ao fim e ao cabo, estamos a discutir o povo de Chauvin...
N'est-ce pas? ;-)
Meus caros: Sem me querer atribuir grandes dotes de antecipação-eu bem tinha razão quando alertei, há cerca de duas semanas, para o perigo de Sarkozy estar a fazer " o trabalho sujo " da Merkel e do seu Governo de Centro-Direita, castigando as franjas mais desprotegidas da emigração residente nos dois compères centrais da UE. É que Sarko tem muitas contas a acertar com os alemães por causa da Política Agrícola Comum( PAC), onde os teutónicos descontam astronómicas somas para os...agricultores gauleses, desde há décadas...E como tudo se cifra em cifrões- e a venda de carros franceses caiu a pique nos últimos meses, o que quer dizer que as voitures allemands " se vendem como croissants... A balança comercial entre os dois países só pode remeter o PR francês para estes atropelos éticos... Esta gentinha sem coluna vertebral é capaz de tudo: mandar às urtigas convenções com dezenas de anos com os países do Magrebe, especialmente sobre a Emigração, e atraiçoar Portugal e a Grécia neste momento de grande aperto económico,dado que possuem grandes contingentes de emigrantes na França e na Alemanha, respectivamente. De um artigo do Le Monde,extraio este parágrafo de um texto da nova vedeta da ultra-gauche francesa, a líder dos Verdes, Cécile Duflot: " A xenofobia de Estado, a destruição de quase todas as conquistas sociais criadas desde 1945, a submissão da Comunicação Social aos "amigos" das cadeias privadas, a vassalização pela NATO são sinais de que Sarkozy não hesitará em destruir os valores da República para salvar o seu " clan " e se fazer reeleger em 2012 ". Salut! Niet
Bom contributo, Niet. Sarkozy não hesitará em todos os atropelos necessários para tentar ser reeleito.
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