Continuam em França greves e manifestações mais ou menos espectaculares, e embora o seu motivo imediato possa provocar em nós um sorriso amarelo de inveja (a luta contra a passagem da idade da reforma de 60 para 62 anos…), vale a pena parar e reflectir para além dos títulos dos jornais e da substituição do celebérrimo «métro, boulot, dodo» pelo novo «métro, boulot, caveau».
Polémica à parte sobre o número de manifestantes (ontem, 3.000.000 segundo os sindicatos, 825.000 para a polícia), a mobilização é impressionante pela persistência a que, de resto, os franceses nos habituaram desde sempre. E o que está em causa não é apenas o seu pretexto imediato, mas um protesto global, bem concretizado pela presença em massa de jovens que dizem recusar uma vida pior do que a da geração dos seus pais.
Inevitavelmente, há quem identifique semelhanças com Maio de 68, mas não vou por aí. O que considero significativo é que um país que nem sequer pertence ao famigerado grupo dos PIIG’s venha para a rua com esta virulência. Porque, no meu entender, é agora mais do que evidente que não é dos gabinetes ministeriais nem dos corredores de Bruxelas, muito menos de alternâncias ou consensos (!!!) entre governos mais ou menos clonados ou siameses, que se pode esperar uma solução para ultrapassar a fase trágica em que nos encontramos. É, não só mas certamente também, da rua, com solidariedades e sem barreiras patrióticas, pelo menos do Atlântico aos Urais. Pacificamente, antes que seja demasiado tarde para evitar que a violência tome conta da situação.
...
...
6 comments:
Pois é, Joana, ainda esta semana perguntei aos meus alunos o que pensavam fazer perante este cenário e responderam-me que não podiam fazer nada porque ainda não trabalhavam...Mudança de atitude precisa-se. Bom domingo!
Mande-os para a manif no dia 24 de Novembro, Cristina...
Bom domingo também.
E outros sinais (maiores ou menores) se vão verificando por essa Europa: na França, mas também em Espanha, na Grécia, na Roménia, etc.. Entre nós continua o monolitismo de opiniões nas tv's, mas ouvem-se debates interessantes na rádio, como o ocorrido no final da tarde de sexta-feira passada na Rádio Europa-Lisboa, aqui com a participação de vozes não-dinossáuricas... gostei! Foi uma janela de esperança num modo diferente de operar o futuro!
Não podia estar mais de acordo.
3 milhões nas ruas contra Sarkozy
E atenção, a idade da reforma em França não é, como por aí se pensa, aos 60 anos
Bom post, Joana.
Abrç
msp
Enviar um comentário