A escrever, nem que seja num post-it colado no frigorífico:
«Não vejo muito mais por onde ir se os mercados nos exigirem mais.»
«Não pode garantir, portanto, que estas são as últimas medidas?
Espero e estou confiante que terão impacto já. Mas de facto nós temos que ver o que está a acontecer. É quase uma insaciabilidade dos mercados a medidas de austeridade desta natureza.
Se isso vier a acontecer consegue antever o que é que podemos fazer mais? Continuar a subir o IVA? Cortar mais nos salários?
Eu não vejo muito mais por onde ir. »
E nós? Iremos por onde? A ler:
Daniel Oliveira, Zero de tolerância
...
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9 comments:
De facto, o Dr. Teixeira dos Santos ainda tem uma última alternativa a que pode recorrer, mas só em desespero de causa, porque é uma autêntica bomba atómica, e vai desencadear as reacções mais violentas do PCP e do BE por colocar definitivamente Portugal na cauda da Europa: é parar os processos do TGV e do novo Aeroporto...
Não serão isso peanuts?
A perguntas parecidas com essa já me tens respondido que substancialmente podem parecer "peanuts", mas simbolicamente têm um valor importante. :-)
E têm valor simbólico porque permitem distinguir se Portugal (ia dizer o Governo, mas o "mercado" só vê Portugal) está mesmo decidido a endireitar as suas contas públicas ou se está apenas a abonecar-se para uma fotografia e pronto para se abandalhar logo depois da fotografia ter sido tirada.
Mas a resposta substancial é: são e não são "peanuts".
Por causa da desorçamentação parecem "peanuts", o Governo parece que pretende gastar não mais do que algumas dezenas de milhões de Euros por ano em estudos e consultorias, e isso são de facto "peanuts".
Mas vamos fazer aqui uma especulação e um cálculo com base nela.
Os números que tenho de memória para garantir a viabilidade do TGV são 5 milhões de passageiros por ano (13.500 por dia) a pagar 100 Euros para viajar entre Lisboa e Madrid. Não sei se tens seguido o debate com mais atenção que eu e tens números mais precisos? Se tiveres, podemos refazer este exercício com informação melhor.
Se, uma vez construído o TGV a troco dos tais "peanuts", as previsões de tráfego contratualizadas não se vierem a verificar, os contratos de PPP dão origem a indeminizações compensatórias. Se houver, por exemplo, 3.500 passageiros por dia entre Lisboa e Madrid (uns bons 30 aviões...), a indeminização deverá ser de 10.000 passageiros que faltam a 100 Euros cada, quanquer coisa como 1 milhão de Euros. Por dia!
E 365 milhões de Euros por ano, durante umas décadas, não são "peanuts"... Ou, se são, são um comboio de "peanuts"!
Por outro lado, é preciso ter noção que os 13.500 passageiros por dia que o Governo "enfia" no TGV não vão fazer a viagem de avião... tira 5 milhões de passageiros por ano à Portela, e diz-me que é um aeroporto com a capacidade esgotada.
Mas acima de tudo, acima da discussão sobre se temos ou não dinheiro suficiente, se são "peanuts" ou não, se é imprescindível ou não, pode haver aqui uma burla monumental e bilionária, montada sobre o argumento, sempre estafado, mas que pega sempre, "gaste agora, mande pagar depois aos seus filhos", escondendo o custo real em cláusulas escritas em letra pequenina e ilegível por trás de estudos que prometem maravilhas.
Não é?
Falei de peanuts apenas para realçar a frase do ministro e tê-lo-ia dito se, em vez de referires TGV, tivesses falado de outra coisa qualquer: ele fala de mercados «insaciáveis»! Ou seja, demonstra não saber, de todo, se o OE que propôs os vai calar, por quanto tempo, nem sequer qual é a possível dimensão da «fome» antropofágica com a qual podem engolir-nos…
Olá Joana,
ando a ficar cada vez mais irritado com quase tudo o que leio e vejo , tanto na "bloga" como nos média em relação à "CRISE". Não falando já do concluio que a maioria do média faz em torno dos "comentadores económicos" de serviço, que na sua maioria contribuiram activamente para o estado em que o pais hoje se encontra, para já não falar na sua falta de moral (de muitos deles) relativamente às varias "pensões" e outras mordomias acumuladas, que receberam ou continuam a receber do tal Estado a abater. É sem sombra de dúvida, uma campanha de intoxicação ideológica, com o objectivo muito concreto de convecer o Zé de que não há outras alternativas: é pagar e calar (como sempre). Se isto acontecesse nalguns países que conhecemos, diríamos que estavamos em presença de uma campanha fascizóide. Todos clamam contra o Estado, os funcionários públicos e os restantes portugueses que "têm gasto muito para além do que deviam". Acabemos com a fantuchada. Alguns (muitos dos que que hoje assim o afirmam) o terão feito... Aqueles que sempre se encostaram ao tal Estado e comeram à sua mesa; os que sempre beneficiaram dos negócios e negociatas proporcionadas pelo tal Estado que odeiam; as clientelas do PS, do PSD e do CDS que se têm aproveitado, insaciávelvemte, do tal Estado; a Banca que vive encostada ao Estado que também odeia mas que tem dificuldade de viver sem ele e que paga de IRC um terço do que paga a mercearia da minha rua; os vários signatários da maioria das PPP que em todos os casos privatizam os lucros e socializam os prejuízos... Quem tem pago toda esta ganância e desvarios ? Sempre os mesmos... os trabalhadores em geral, com principal incidência na classe média. Não será altura de perguntar quem são e para que servem os endeusados MERCADOS que tudo querem e tudo podem ? Como diz o Daniel Oliveira “Por esse Mundo fora jogaram sem medo e rebentaram com as economias com a sua assombrosa irresponsabilidade. Os contribuintes salvaram os estroinas. “ E tu Joana, penso que acertas em cheio quando afirmas "Porque, no meu entender, é agora mais do que evidente que não é dos gabinetes ministeriais nem dos corredores de Bruxelas, muito menos de alternâncias ou consensos (!!!) entre governos mais ou menos clonados ou siameses, que se pode esperar uma solução para ultrapassar a fase trágica em que nos encontramos. É, não só mas certamente também, da rua, com solidariedades e sem barreiras patrióticas, pelo menos do Atlântico aos Urais. Pacificamente, antes que seja demasiado tarde para evitar que a violência tome conta da situação." Sim, penso que está na hora de não ficarmos parados, de dizermos BASTA ! mas estou também cada vez mais convencido que se queremos que estas lutas tenham significado e proveito, têm de ser levadas a cabo "do Atlântico aos Urais". Para que serve a União Europeia, a Comissão e o Parlamento Eurupeu ? Cabe na cabeça de alguém que se permita a negociata que é o empréstimo de dinheiro do BCE aos países, através da banca comercial ? NÃO... Já pagámos demais para encher os bolsos de uns poucos. Aqui e por esse mundo fora. (desculpa o tamanho do post)
Boa Zé, escreves raramente, mas deste-lhe forte. Não tenho nada de especial a comentar já que concordas comigo , mas talvez o nosso ex-colega Manuel Vilarinho Pires queira entrar na conversa :-)
A discussão sobre o TGV é muito iluminante, pena é que não tenha rigorosamente nada a ver com a terrível frase do ministro
Tenho dois comentários, um para a Joana, outro para o Zé.
Joana,
Eu não consigo entender como é que um tipo que pede dinheiro emprestado todas as semanas, e em montantes cada vez mais elevados, porque pede para pagar o empréstimo que tem que liquidar já mais o déficit desta semana, consegue chamar insaciáveis aos "mercados". Quem é insaciável? O gastador compulsivo que passa a vida a pedir emprestado, ou quem lhe empresta, cada vez com maior relutância, e a juros mais altos por ter dúvidas da sua capacidade em honrar os compromissos? E essa dúvida que faz subir o preço do dinheiro será pradadora, ou razoável? Se eu fosse um credor potencial e visse que no meio desta sangria desatada que paralisa a economia e monta uma gigantesca operação de extorsão de riqueza aos cidadãos, o Governo persiste em construir o TGV e o Aeroporto, era capaz de ter sérias dúvidas na sua vontade e capacidade de juntar o dinheiro para me vir a pagar o que me pede agora emprestado.
Vejo duas explicações para o uso do epíteto: uma é um piscar de olhos ao eleitorado do PCP e do BE, que gosta de demonizar os mercados; outra é a desresponsabilização pura e simples de quem tem todas as responsabilidades nos últimos anos desta saga da dívida.
Nenhuma delas me é simpática...
Os mercados podem ser insensíveis, insaciáveis e predadores. Mas só com quem lá vai pedir. Se a República Portuguesa não pedisse mais nenhum empréstimo, a insaciabilidade dos mercados passaria a ser-nos completamente irrelevante. Mas será que temos essa liberdade?
Não, porque a entregámos ao pedir emprestado...
Zé,
Essa irritação com a falta de apresentação de alternativas nos media advém de conheceres alguma alternativa viável ou apenas da frustação por não conheceres nenhuma?
Eu já me tenho fartado de escrever que nós não pedimos emprestado aos credores, porque a esses acabaremos por pagar. Pedimos emprestado ao nosso futuro, ao momento em que formos chamados a liquidar o empréstimo que fazemos agora. E o grande custo do empréstimo não está nos juros que pagamos ao credor, sejam eles de 3%, 6% ou mesmo 35% (juro do meu primeiro crédito à habitação em 1985, falem-me de juros predadores...). Está na liberdade futura que empenhamos até liquidar o empréstimo.
Empenhámos a nossa, colectivamente. A culpa não será tua, nem minha, nem da Joana, suponho que nenhum de nós fez parte do bando de parasitas que tem sangrado o nosso Estado. E até podemos nunca ter votado nos governos que sucessivamente foram agravando a dívida e empenhando a nossa liberdade actual (eu nunca votei num partido que subisse ao Governo). Mas em democracia todos os cidadãos são colectivamente responsáveis pelas escolhas da maioria, concordem com elas ou não.
E chegados a este ponto, para além da obrigação que temos de não permitir que os reponsáveis escapem impunes, denunciando-os como tu fazes de forma cristalina, o que podemos fazer?
E todas as semanas temos uma decisão incontornável a tomar: liquidar o empréstimo que caduca nesta semana ou não?
Chamarmos predador ao credor, desresponsabilizando-nos do facto de o empréstimo não nos ter sido imposto por ele, mas pedido por nós, não ajuda a resolver o dilema nem, muito menos, a eliminar as consequências da decisão.
O que fazer esta semana? Pagar, ou não pagar?
Dou a palavra às propostas alternativas...
Eu não si li como vi e ouvi T. dos Santos dizer esta frase ou outra muito parecida. A postura e o tom era de cansaço, semi-desistência.
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