17.11.10

A quem mando a factura? - Notícias de uma Cimeira (7)

Estive em Buenos Aires há sete anos e sempre pensei lá voltar. Não estava planeado que fosse agora, mas será se…

Se… o quê? Se conseguir sair desta terra sitiada onde os nossos governantes aceitaram (ou propuseram?) albergar uns senhores encartados que vão discutir para que serve exactamente a organização que os congrega. Prejudica-se toda uma cidade, mesmo um país, deslocam-se milhares de pessoas para um recinto, onde, até prova em contrário, nem se sabe se algo de significativamente importante poderá acontecer. Umas dezenas de actores e multidões de paparazzi que vão tirar umas fotografias e filmar cenas absolutamente triviais. Todo um absurdo, se pararmos um pouco para pensar que o progresso das telecomunicações já devia ser usado para evitar, ou pelo menos minimizar, estas invasões mais ou menos bárbaras e despudoradamente caras.

Mas regressando ao que interessa. É certo que, quando o meu grupo viajante projectou esta ida à Argentina e ao Chile, já se sabia que haveria guerreiros em Lisboa a 20 de Novembro, mas ninguém - nem nós, nem a agência de viagens, muito menos a Ibéria -, previu o arsenal que se preparava e partiu-se do princípio que a capital de um país tem sempre um aeroporto. Ilusão e erro que nos custará uma ida até ao Porto para conseguir chegar a Madrid, esperando que não exista nenhum VIP que resolva fazer por lá uma escala e fechar também os céus da Invicta... Rumaremos na véspera à margem Sul, para evitar cortes de acesso ao Norte... De carro, obviamente, porque já foram anunciados atrasos e interrupções também na circulação de comboios e não escaparíamos, pelo menos, a uma inspecção das malas onde levamos roupinha para dezassete dias, por polícias zelosos com esperança de lá encontrarem canivetes, catanas ou coktails molotov e de nos colarem na testa uma etiqueta de anarquistas.

Só não sei se devo mandar a factura de danos, gasolina e  portagens para Belém, para S. Bento ou para a Casa Branca.

P.S. - Ainda escreverei talvez sobre o que se vai sabendo das actuações policiais. Para já, leia-se este texto do Pedro Sales.
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9 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Eu tinha avisado...
http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/2010/11/raiva.html

E tenho uma sugestão, que pode ser útil se juntares um grupo de viajantes com possibilidade e vontade de gastar algum tempo e dinheiro sem garantia de o(s) reaver, o que tem ar de ser possível.
É meterem uma acção cível ao Estado português por perdas e danos (facilmente comprováveis)...

Joana Lopes disse...

OK, avisaste no dia 10... demasiado tarde para alterar a viagem para dois dias mais tarde :-)
Quanto à acção contra o Estado: há companhias de aviação que já ameaçaram, incluindo a TAP.
Fazê-lo eu? Não sou masoquista... Mas talvez consulte o defensor do viajante porque é meu amigo.

Manuel Vilarinho Pires disse...

A TAP, se meter uma acção, será para se indeminizar dos seus próprios prejuízos, não dos teus...
O que eu sugeria era uma acção do grupo de pessoas que vão ser igualmente afectadas por essa perturbação na viagem. Mas é preciso ter uma certa predisposição para litigar por litigar, sem grande garantia de ganhar a acção.
Mas, ganhando, dá um gozo do caraças!

Joana Lopes disse...

E a minha paz de espírito para programar as viagens seguintes?

Manuel Vilarinho Pires disse...

Não tenho nada a criticar a essa posição... mas não decidas sem antes figurar a paz de espírito que dá ganhar uma acção dessas, aos parolos porreiros, pá, que tomam para si e para os seus amiguinhos o espaço público de todos.

Joana Lopes disse...

Preferia fazer estardalhaço com Petição de protesto com relato de factos, a fazer chegar à imprensa estrangeira (é fácil) - até para chatear o dr. Cavaco que quer que se esteja calado :-)

Manuel Vilarinho Pires disse...

Continuo a não ter nada a criticar.
Mas volto a propor que não decidas sem antes imaginar o estardalhaço que podia dar, até na imprensa estrangeira, uma sentença judicial a condenar o Estado por prejuízos causados a cidadãos nestes eventos em que ele se auto-atribui a "privatização" do espaço público que é, e deve ser, de todos.
O protesto tem todo o sentido, mas, se não se esgotarem previamente todos os instrumentos que o sistema coloca à disposição os prejudicados, nomeadamente na justiça, tem o seu quê de conformista e passageiro. Uma sentença acerta no coração e é para sempre.

Manuel Vilarinho Pires disse...

...e se de repente um desconhecido lhe oferecer um bocadinho de bom senso?
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=454323
:-)

Joana Lopes disse...

Ora bem, há sempre uma primeira oportunidade para citar alguém: hoje, vai ser esta.