11.11.10

Violência em escalada?


É difícil acreditar mas parece que é verdade: as tão badaladas seis viaturas, que a PSP receberá dentro de dias, são «verdadeiros blindados de guerra, idênticos aos usados pelos americanos e ingleses no Iraque» - e não simples «viaturas de transporte pessoal com protecção balística», como o ministro da Administração Interna garantiu na AR.

Chegarão ou não a tempo da sinistra Cimeira que transformará Lisboa numa cidade sitiada, mas o seu destino final será «a guerra» nos chamados bairros problemáticos.

A aquisição para este fim é justificada pelos ataques de que os polícias têm sido vítimas, por armas com calibre de guerra. Acontece que julgo que não se vêem tanques conduzidos por moradores das ruas da Amadora, do Monte da Caparica ou da Quinta do Mocho. E que todos sabemos o que se passa quando se responde a violência subindo a parada, mesmo que apenas intimidatória ou preventivamente.

É por isso legítimo interrogarmo-nos sobre o significado destes factos e sobre a intenção por trás dos mesmos. Pretende-se o quê? Fomentar e reforçar atitudes xenófobas, para começar nos próprios polícias? Sejamos claros: os que vivem nesses bairros são, fundamentalmente, negros e de outras minorias étnicas, é contra eles que os tanques da PSP poderão avançar. Alguém mede as consequências e assume a responsabilidade pela evolução de tudo isto?

Há três ou quatro meses, assisti a um debate em que estavam presentes algumas dezenas de moradores desses bairros – negros, todos eles, naturalizados portugueses em muitos casos, já nascidos alguns na Maternidade Alfredo da Costa. Contaram histórias, muitas histórias. Retenho uma: a de um pai cujos filhos, crianças, se recusam a sair de casa com medo dos polícias armados que passaram a estar por tudo o que é esquina, mesmo que nada de especial se passe ou seja previsível. Quando virem chegar o primeiro tanque que o governo do engenheiro Sócrates deixará como legado securitário do seu reinado, farão o quê, essas crianças? E o que se espera que sejam dentro de dez ou quinze anos? Pacíficos e dóceis eleitores? Haja juízo – não me parece que seja pedir muito!


Vive-se e faz-se música nos «bairros problemáticos»:


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6 comments:

Jorge Conceição disse...

Eis uma solução que faz o Paulo «Betinho» Portas desenhar um sorriso de orelha a orelha!

Para, activamente, desmobilizar os polícias armados até aos dentes e que assustam as crianças desses bairros proponho, para começar, que comecemos a ser habituais frequentadores dos restaurantes que têm surgido no interior da Cova da Moura. Já ali comi uma excelente cachupa num deles e bebi um chope num bar! Nada como furar o ghetto que os de fora criaram!!!

A ameaça tem aguçado o engenho e o associativismo. Várias são as organizações de solidariedade popular ali fomadas e actuantes. E os vários restaurantes populares criaram uma sigla única de qualidade certificada, embora à escala local! Alguma coisa de muito positivo mexe por ali que dá gosto ver e sentir. E sempre as mesmas perguntas dos nossos interlocutores: "Então, diga-me: sentiu-se inseguro ao andar pelas ruas da Cova da Moura? Só tem visto bandidos pelas esquinas? Alguém o ameaçou? Vê alguma coisa parecida com o que a televisão mostra?"

Joana Lopes disse...

Tens toda a razão, Jorge, tem mesmo de se furar o gueto. Havemos de combinar um almoço na Cova da Moura em Dezembro ou Janeiro. (Desafiamos o nosso amigo da margem Sul e retribuímos assim o convite dele...)
Eu conheci entretanto algumas pessoas que são activistas/vítimas nesses bairros e por isso sou especialmente sensível a estas bestialidades.

Jorge Conceição disse...

Combinado, Joana!

Diana Andringa disse...

Posso juntar-me ao almoço?
Além da cachupa ao almoço, quem sabe se mais tarde não teremos hipótese de ouvir uma morna ou uma coladera...
Joana, tu que és especialista em passeios de grupo, não queres abrir inscrições?

Diana

Joana Lopes disse...

Claro que podes juntar-te ao almoço, Diana, mas a organização deste é do Jorge Conceição que conhece o local (se não sabes quem é, passarás a saber, mas talvez o tenhas encontrado na C. de C. dos Caminhos). O outro, de que não referi aqui o nome, conheces.

Jorge, se leres isto (julgo que sim), planeia lá isso para depois do meu regresso do Chile a 6/12. Pode ser antes do Natal...

Jorge Conceição disse...

Com todo o gosto, Joana. A Diana, embora o não saiba, já teve diálogos comigo através do twitter numa mesa redonda organizada pelo Clube dos Pensadores.