Regressada há uma semana de dois grandes países – a Argentina e o Chile – vejo confirmadas, pelos dados e pelas conclusões revelados pelo Latinobarómetro 2010 (1), as minhas impressões de turista, embora pouco acidental: a América Latina vai bem, melhor do que há sete anos, e também se recomenda.
Esqueça-se a crise de 2008 e início de 2009, porque se estima que a economia do conjunto da região cresça 5,2% em 2010, o que revela uma solidez macro-económica notável e indiscutível.
Também, e trata-se de um dado importante sublinhado em todas as análises, aumentou entretanto significativamente o «apoio à democracia» (2) – de um modo geral, porque é óbvio que se registam diferenças, por vezes significativas, de país para país –, enquanto o calcanhar de Aquiles continua a ser a delinquência, com 90% dos latino-americanos convictos que podem vir a ser vítimas de crimes violentos.
O vigor da confiança na democracia aparece intimamente ligado às variações no plano económico. A década acaba bem melhor do que começou, nomeadamente com a crise do peso argentino e os receios das reacções à eleição de Lula. E «o caos económico tinha sido associado pelo conjunto das populações latino-americanas ao falhanço das políticas de privatização e de abertura comercial dos governos democráticos dos anos 90, que sucederam aos tiranos da trágica década de 80.» «Democracia» foi então associada por muitos a «corrupção», o que explica os péssimos resultados do Latinobarómetro de 2001.
Deixando agora de lado o relatório e os números – e haveria muitos a referir –, «regresso» às ruas de Buenos Aires e de Santiago do Chile (não necessariamente às de Atacama…): vê-se prosperidade, não se sente nem se fala de crise (a não ser, um pouco, no turismo, mas que é agora largamente alimentado pelos países vizinhos…), as perspectivas parecem tão vastas como as amplas avenidas que cruzam as duas cidades, os projectos tão firmes como os novos e lindíssimos edifícios que não existiam há poucos anos (Puerto Madero, nas antigas docas de Buenos Aires, está irreconhecível!), o lazer tão intenso como o número de restaurantes, de todas as categorias, cheios de gente a todas as horas, o poder de compra tão evidenciado num sem número de recentes complexos comerciais mais ou menos luxuosos.
Claro que o Chile (ainda) ficou pessimamente colocado no PISA 2009 e é verdade que, 24h depois do meu regresso, morreram mais de oitenta pessoas numa prisão de Santiago, em condições talvez impensáveis em qualquer país europeu. Mas o (bom) futuro próximo passa certamente mais por ali… do que por aqui. É só preciso andar de olhos abertos para regressar, com essa certeza, a esta velha Europa!
(1) Para eventuais interessados, coloquei online o Informe 2010, de acesso directo difícil na rede, e que é baseado no resultado de 19.000 entrevistas realizadas em 18 países.
(2) Para mais detalhes sobre este conceito, ver Informe 2010. pp. 38-49.
(2) Para mais detalhes sobre este conceito, ver Informe 2010. pp. 38-49.
(A partir daqui.)
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