«Ontem, ao fim da manhã, o presidente da CIP anunciou ao país que o Governo iria, em Conselho de Ministros extraordinário a realizar nesse dia, aprovar a diminuição do valor das indemnizações a pagar pelo patronato aos trabalhadores em caso de despedimento e que essas regras se aplicarão apenas a "novos contratados".
À tarde, em conferência de Imprensa, o Governo revelou ter aprovado um tecto para as indemnizações a pagar em caso de despedimento, com essas regras a aplicar-se apenas a novos contratados.
De manhã, o presidente da CIP anunciou que a contratação colectiva iria ser alargada às comissões de trabalhadores "em empresas com mais de 200 ou 300 pessoas".
À tarde, o Governo deu conta da aprovação do alargamento da contratação colectiva às comissões de trabalhadores em empresas com mais de 250 pessoas. O Governo não justificou, mas não era preciso, pois o presidente da CIP já o tinha feito horas antes: "Os sindicatos têm-se mostrado pouco disponíveis para acolher novas ideias e soluções".
De manhã, o presidente da CIP anunciou ainda medidas de reabilitação urbana, de apoio à exportação e de combate à economia paralela. À tarde, o Governo confirmou.
Resta perceber se é o presidente da CIP o porta-voz do Governo ou se é o Governo o porta-voz da CIP. Ou então (hipótese não descartável) se haverá no Governo algum espião da CIP. Talvez o internacionalmente famoso 007 do BCP.»
Manuel António Pina
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