Quando olhámos horas e horas para a Praça Tahrir, ou quando nos mostram agora imagens de todas as manifestações, de Marrocos ao Bahrein, vemos jovens, jovens e mais jovens.
Se é sabido, em termos gerais, que a taxa de natalidade nestes países é elevada, outra coisa bem diferente é ler essa realidade reflectida nalguns números: cerca de 60% da população do Médio Oriente e do Norte de África tem menos de 30 anos e a idade média situa-se à volta de 25 (19, no caso extremo do Iémen), como resultado de um verdadeiro boom demográfico que teve lugar a partir de meados da década de 80. Nos últimos 30 anos, o analfabetismo entre os jovens foi drasticamente reduzido de 42 para 10% e o acesso às universidades largamente facilitado (*).
Tudo boas notícias? Sim mas não inteiramente, já que, apesar de registarem um índice de crescimento económico relativamente elevado, estes países não se adaptaram a novas exigências e foram incapazes de integrar as multidões de jovens que foram chegando ao mercado de trabalho. Tudo isto teve também como resultado que a permanência de ditaduras se tornou insuportável para sociedades renovadas, muito mais instruídas e com um acesso crescente, mesmo que limitado, ao mundo global.
O que está agora a acontecer na bacia do Mediterrâneo chegará a outras paragens por contágio ou, pura e simplesmente, por analogia. Estou a pensar, por exemplo, no Sudoeste Asiático, certamente com condições políticas e culturais muito diferentes, mas também com taxas de natalidade elevadas, populações impressionantemente jovens e regimes mais ou menos autoritários. Se há 16% de portugueses com 14 anos ou menos, e se o valor dessa percentagem é 32 no caso do Egipto, sobe para 33 no Cambodja e para 41 no Laos, só para citar dois exemplos onde os reflexos destes números se «vêem» a cada esquina.
Alguém acredita que os quase 5 milhões de cambojanos, nascidos desde 1997, não vão revoltar-se se tiverem no horizonte trabalhar, como os seus pais, 364 dias por ano, sem horários e com ordenados de miséria? Claro que não. Espero que não. E o Ocidente que se cuide.
(*) Fonte
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