Já cá faltava Vasco Graça Moura, com o seu proverbial «optimismo» e com uma escondida certeza, se não esperança, de o futuro lhe vir a dar razão.
«Em vez de acompanhar o que se tem vindo a passar na Tunísia e no Egipto com litanias, ditirambos e lágrimas ao canto do olho sobre a queda das ditaduras, a implantação dos direitos humanos e a construção de democracias naquelas paragens, o mundo ocidental deveria olhar com grande apreensão as perturbações consecutivas que ali estão a acontecer e ameaçam alastrar rapidamente aos restantes países islâmicos do Médio Oriente e do Norte de África.
A questão que levanto não pretende configurar-se como uma defesa cínica da manutenção do statu quo, nem reconduzir-se artificialmente a um pretexto para a não aplicação dos direitos humanos, ou para a desistência da prestação de apoio à construção de democracias de modelo europeu ocidental naqueles espaços políticos. Essas são ideias importantes relativamente a valores igualmente importantes. Mas o que me parece é que tanto a Europa como os Estados Unidos (e talvez fossem ainda de considerar a Rússia, a Índia e a China) deveriam analisar cuidadosamente as condições internas e externas de que dispõem para sua protecção e defesa, se por acaso as coisas correrem mal. E está na cara que podem correr mal, mesmo muito mal. (…)
Não é preciso ser politólogo nem especialista para se perceber que isto tem uma grande probabilidade de acontecer. E, se assim for, para o Ocidente será tarde demais. O Ocidente fala muito de cooperação, mas não tem condições satisfatórias para prestar ajuda que se veja a muitos milhões de seres humanos, de modo a neutralizar a insatisfação e as tensões acumuladas de populações paupérrimas; fala muito em democracia e combate ao terrorismo, mas não está já em condições de se defender, por falta de valores éticos e cívicos que foi dissipando em nome de uma permissividade politicamente correcta e desastrosa e, também, por falta, tanto de autoridade geopolítica, como de capacidades policiais e militares idóneas. Sem contar que a Europa, com todos os seus complexos pós-coloniais, está aberta ao alastramento e funcionamento de redes radicais dentro do seu próprio espaço, e não terá então grandes possibilidades de prevenir ou reprimir o alastramento do fenómeno.»
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