19.4.11

Desmitos


… é o nome de um blogue que descobri há poucos dias, juntamente com o seu autor, Álvaro Santos Pereira, com quem agora «esbarro» a cada esquina. Ignorância minha em boa hora reparada, porque gosto, e preciso, de explicações em linguagem simples para assuntos que são para mim complicados.

É o caso deste post sobre O impacto da reestruturação grega.

«Continua a abrir-se a porta para uma reestruturação da dívida grega. (…)  Já há bastante tempo se percebeu que esse cenário é realmente inevitável. Basta comparar a dívida pública grega com a dívida de outros países que foram forçados a reestruturar as suas dívidas e/ou entraram em insolvência para chegar à conclusão de que não há grande alternativa.

E se a Europa continua (oficialmente) a negar essa possibilidade não é só por uma questão de orgulho, mas também porque os líderes europeus (e os bancos) preferiam que essa reestruturação acontecesse só partir de 2013, depois do início do Mecanismo de Estabilização Europeu, onde já se prevêem reestruturações das dívidas. Só que, neste caso, não é linear que o que é melhor para a Europa (isto é, os bancos do centro da Europa), é realmente preferível para os países altamente endividados, como a Grécia (e Portugal e a Irlanda). É que a haver uma reestruturação, seria bom se esta acontecesse o mais cedo possível.

É certo que é sempre melhor evitar uma reestruturação da dívida, principalmente devido às eventuais repercussões em relação ao financiamento dos países que são obrigados a fazê-la. No entanto, se o endividamento chegar a um ponto tal que se torna verdadeiramente insustentável, é melhor efectuar a reestruturação da dívida o quanto antes, até porque os custos dos "default" são mais de curto e médio prazo do que de horizontes temporais muito longos. Por outro lado, protelar aquilo que é inevitável só agrava a situação económica e social dos países altamente endividados. (…)

E quanto a nós? Será que uma eventual reestruturação da dívida grega nos vai impactar? Obviamente que sim. A nós e à Irlanda. No entanto, e como já aqui defendi e vários outros economistas já chamaram à atenção, se tal acontecer, seria bom que Portugal, a Irlanda e a Grécia pensassem em encetar uma estratégia concertada de negociação com os nossos credores para que entrassem nessas negociações numa posição mais forte. (…)

Se nos acontecer o mesmo e se as coisas forem bem feitas e bem planeadas, uma reestruturação da dívida poderá ser o primeiro passo (ou o segundo, agora que o resgate foi activado) para conseguirmos mudar a trajectória insustentável dos últimos anos. Um primeiro passo que terá de incluir uma nova política de finanças públicas, uma economia muito menos endividada, e uma economia mais dinâmica e produtiva. Um primeiro passo que nos conduza uma trajectória mais responsável, mais sustentada e mais sustentável. O mais importante é que saibamos aprender as lições do presente para que, no futuro, não tenhamos de cair na mesma lamentável situação.»
...

2 comments:

José Meireles Graça disse...

E se, Joana, andar para trás nesse blogue, vai ver que a chamada direita dos interesses é muitas vezes, simplesmente, a direita da lucidez. Enfim, é o que eu acho.

septuagenário disse...

Nunca o nosso Otelo pensou ouvir na vida dele, tantas aulas sobre economia.

Merece já um diploma na matéria e não é daqueles diplomas obtidos ao "Domingo".

Se ele soubesse que ainda ia ter que se debruçar sobre a economia grega...tinha fugido como fizeram outros!