Serei talvez ingénua, mas não consigo considerar absolutamente «normais» algumas das declarações do director da CIA, em entrevista à cadeia de televisão NBC. O mundo está cada vez mais perigoso e não só pela possível vingança da Al-Qaeda.
Sublinho dois temas:
A partir do minuto 4:48, Leon Panetta confirma que as ordens recebidas de Obama eram claramente para matar e não simplesmente para prender. Mas claro que, «para cumprir regras», teriam capturado Bin Laden se este tivesse levantado imediatamente os braços e se rendesse… Sabe-se agora que nem sequer estava armado e não parece portanto que fosse uma missão impossível manietá-lo, mantê-lo vivo e julgá-lo. Mas claro que não seria a mesma coisa…
Ao minuto 8:02, o entrevistador pergunta se, nas técnicas de interrogação usadas com presos com vista à obtenção de informações sobre o paradeiro de Bin Laden, se incluiu o waterboarding (simulação de asfixia). O director da CIA confirmou que sim, que essa foi uma das «técnicas de investigação» que esteve em causa. Como se fosse a coisa mais natural deste mundo…
(A ler: Bin Laden Raid Revives Debate on Value of Torture)
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4 comments:
Sim, Joana, os aspectos que sublinhas e outros - como a camisa de onze varas que seria, para o governo dos EUA, julgar Bin Laden ou vê-lo reclamado por um tribunal internacional - explicam a "ordem para matar" e, provavelmente, são uma das razões fortes para a falta de vontade em divulgar imagens da operação.
Devo dizer que se como operação militar punitiva a liquidação de Bin Laden não me choca, considero uma séria ameaça a hipocrisia (já por ti denunciada) que a apresenta como "fazer justiça" e a hipocrisia dos governos que a aplaudem como uma vitória do direito.
Mais arrepiantes são ainda as declarações a que te referes no sentido da justificação da tortura nos casos de "suspeitos de terrorismo". Razão tem o Ricardo Alves num post (http://esquerda-republicana.blogspot.com/2011/05/ossama-bin-laden-1957-2011.html)em que se refere às vitórias de Bin Laden, que perduram e que, como bem mostras, os seus inimigos, em cooperação com os seus aliados, estão a tentar consolidar ao nível da ordem global.
Abraço
miguel (sp)
Exacto, Miguel: seria um bico de obra ter BL nas mãos para o julgar...
E esta história da tortura, que os americanos continuam a praticar apesar do seu virtuoso PR, é absolutamente intolerável!
Se W. Bush ainda fosse presidente, o que muitas das pessoas que agora aplaudem Obama não diriam; como se um acto fosse mais ou menos correcto única e exclusivamente em função de quem o pratica.
Para os donos do Poder e seus serviçais há dois terrorismo o de primeira, o nosso e dos nosso aliados, que não pode sequer ser conhecido publicamente como tal mas que se designa por acções militares, de defesa da ordem e da segurança nacional, embora nos bons tempos fosse conhecido por contra-terrorismo. O outro, o dos nossos inimigos, esse só pode chamado de terrorismo ou barbárie. Pelo menos até aos seus autores se tornarem nossos amigos ou aliados.
O que decide se é terrorismo não é a natureza dos actos, a sua escala em número de mortos e feridos, os seus objectivos ou as suas consequências. Mas sim se são cometidos pelos nossos ou pelos outros. Matar um general americano (ou russo) é obrigatoriamente terrorismo, matar dez soldados inimigos não o é, mesmo se os dois actos forem cometidos da mesma forma. Assassinar um líder político incómodo, ou «extremista», é uma acção extra-judicial, mas matar um especialista de tortura norte-americano na América Latina é um revoltante acto de terrorismo. Matar uma família inteira para liquidar um «terrorista» são os chamados danos colaterais…
As palavras e a língua servem para tudo, principalmente para manipular os factos e a realidade! A contra-informação e a propaganda são elementos decisivos da gestão do Poder pelos grupos dominantes.
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