21.7.11

Promiscuidade como regra?

@Paulete Matos

Afinal sempre há alguns benefícios colaterais da presença da troika em Portugal. Por exemplo, um relatório que lhe foi enviado pela TIAC (Transparência e Integridade – Associação Cívica), ponto de contacto em Portugal de uma organização internacional de luta contra a corrupção.

O Jornal de Notícias de hoje dedica uma página inteira a este tema (sem link), pela qual se fica a saber não só que «dos 230 deputados que integravam o anterior Parlamento cerca de 70 (um terço) eram simultaneamente administradores, gestores ou consultores de empresas que tinham directamente negócios com o Estado», como, mais concretamente e «melhor» que, «na Comissão Parlamentar de Obras Públicas, “quase metade dos deputados eram administradores de empresas privadas de obras públicas”» (sic!).

Chama-se a atenção da troika para o facto de algumas medidas previstas no Memorando (privatizações, parcerias público-privadas, etc.), poderem criar mais oportunidades para corrupção, «dada a forte promiscuidade entre interesses públicos e privados em Portugal» e acusa-se a Comissão de Ética, «uma das vergonhas do Parlamento», de «branquear todo e qualquer conflito de interesses». A cada momento, os deputados não sabem que interesses estão a defender: «Representam o povo junto do seu sector ou os seus sectores junto do Estado?»

É também sublinhada a facilidade com que dirigentes políticos transitam para empresas privadas que anteriormente tutelavam, defendendo-se um período de nojo mais longo e abrangendo também empresas públicas.

Fidedigno ou exagerado, este estudo merece toda a atenção. Porque não temos uma Assembleia de anjos, mas sim de seres humanos, todo o cuidado é pouco e mais vale prevenir do que remediar. Para além de que, como é sabido, à mulher de César não lhe basta ser honesta…

P.S. – No mesmo relatório, é abordada a já clássica discussão sobre compatibilidade entre exercício de advocacia e actividade de deputado, neste caso com link para a JN: Um quinto dos deputados são também advogados.
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