7.8.11

As três derrotas de Obama


A edição portuguesa de Le Monde Diplomatique tem agora, na sua página online, uma secção intitulada «Mala diplomática: a actualidade pela redacção», onde oferece um olhar sobre a actualidade, entre as edições mensais. Foi lá que se encontrei este texto.

O mandato de Barack Obama, iniciado sob auspícios encorajadores, está a parecer-se cada vez mais com uma sucessão de provas. Em particular para os partidários do presidente dos Estados Unidos. O acordo que este último acaba de patrocinar com a maioria republicana da Câmara dos Representantes (apesar da derrota eleitoral de Novembro de 2010, os democratas conservam o controlo do Senado) é mau por, pelo menos, três razões.

1) Constitui uma capitulação da Casa Branca num ponto sensível, o de um eventual aumento de impostos. Com efeito, Obama aceitou que toda a redução prevista do défice orçamental americano ocorra sob a forma de cortes no crédito público, civil e militar. Há apenas três meses, nem sequer os republicanos mais optimistas teriam previsto este resultado. No entanto, a carga fiscal nos Estados Unidos está quase no nível histórico mais baixo (em particular a que incide sobre as grandes fortunas), ao mesmo tempo que, num contexto económico difícil e com um desemprego muito significativo (9,2%), as despesas sociais representam uma rede de segurança que é mais necessária do que nunca (sobretudo para as famílias mais pobres e para as classes médias). Uma vez mais, os sacrifícios vão poupar os privilegiados. Mas também é verdade que são eles que financiam as campanhas eleitorais [1].…

2) O acordo ratificado pelas duas câmaras do Congresso americano testemunha, além disso, a perda de autoridade e estatura do presidente dos Estados Unidos, numa altura em que se preparam as eleições presidenciais de Novembro de 2012. Depois de ter negociado arduamente com os adversários políticos, Obama cedeu no essencial. Uma vez mais, as suas acções não estão à altura das suas palavras. E isso desvaloriza a sua presidência. A mania «centrista» do compromisso que caracteriza Obama vai conduzir a uma perda de entusiasmo dos seus partidários, já desanimados, e vai penalizar a sua candidatura a um segundo mandato. De facto, mesmo os parlamentares que supostamente apoiam o presidente americano mostraram má cara perante as concessões extravagantes da Casa Branca: na Câmara dos Representantes, metade dos eleitos democratas votaram contra o acordo orçamental (95 a favor, 95 contra), enquanto três quartos dos parlamentares republicanos votaram a seu favor (174 contra 66).

3) As medidas de austeridade que este plano aprova chegam no pior momento, quando parece que os Estados Unidos vão entrar em recessão (ou entrar novamente). De certo modo, a recessão tinha sido amortecida por um plano de relançamento e agora, quando o consumo das famílias está a diminuir e a produção industrial a derrapar, é que surge esta injecção de uma dose de austeridade na economia.

É claro que o tecto da dívida pública foi elevado, mas esta operação teria sido muito banal, quase automática (já ocorreu setenta e oito vezes desde 1960), se os republicamos não tivessem chantageado — e quebrado — o presidente dos Estados Unidos em troca de um novo aumento. Do seu ponto de vista, a operação de extorsão foi muito bem sucedida e ninguém duvida que em breve será repetida.

Um plano draconiano de inspiração republicana, uma presidência diminuída, uma recessão ameaçadora: estão reunidas todas as condições para uma campanha presidencial que os democratas têm tudo para temer.

(Ver também, na edição de Agosto, Serge Halimi, «Chantagem em Washington»)

quarta-feira 3 de Agosto de 2011

Notas
[1] Ler, no numéro de Agosto do Le Monde diplomatique — edição portuguesa, o artigo de Robert W. McChesney e John Nichols, «Estados Unidos : media, poder e dinheiro completam fusão»
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