19.8.11

O golpe de Agosto


Sobre a tentativa de golpe de Estado na União Soviética, em 19 de Agosto de 1991, leia-se um conjunto de textos - para todos os gostos e muitos paladares…

- No Der Spiegel (a não perder):

- Do PCP, com data de ontem:

- De Miguel Portas, hoje no Facebook:

Ao cair do pano
Há 20 anos o sector mais conservador do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) tentou um golpe de Estado contra o seu secretário-geral e presidente do país, Michail Gorbatchev. A operação, dirigida pelo vice-presidente, pelo Ministro da Defesa e por altos responsáveis da polícia politica (KGB), teve contornos de farsa. Foi tão mal gizada que Gorbachev foi informado da sua preparação pelo presidente dos EUA e, não acreditando na aventura, estava de férias quando tudo se passou. A 19 de Agosto os golpistas anunciaram que Gorbachev tinha sido afastado por “motivos de saúde”, mas não houve repressão nem detenções e o “plano”, se existia, dispensara a tomada militar de posições estratégicas... Menos de 24 horas depois era óbvio que a operação se saldara num estrondoso fracasso. O vencedor do conflito estava na rua com os moscovitas que se mobilizaram em defesa das liberdades recentemente adquiridas com a Perestroika. Era tão bêbado quanto ambicioso. É Boris Ieltsin que, a 22 de Agosto, ilegaliza o PCUS. A União Soviética dissolve-se em Dezembro desse ano. No seu amadorismo e desespero, os golpistas tinham acabado de acelerar uma história que já só podia acabar mal. Eles são bem a caricatura do fim de um regime que acabou por levar consigo o homem e as forças que tinham, in extremis, procurado renovar o socialismo. Não houve fins felizes.

Paradoxalmente, em Portugal, as consequências destes acontecimentos longínquos foram marcantes à esquerda. O apoio da direcção do PCP aos golpistas desencadeia uma cadeia de acontecimentos que viria a acelerar os movimentos de recomposição na esquerda portuguesa. Com efeito, foi esse apoio que levou à convocação, pela primeira vez na história daquele partido, de uma assembleia pública de comunistas à revelia das instâncias partidárias. Nunca se tinha visto tal afronta ao “centralismo democrático” no PCP. Os “críticos” tinham produzido documentos e criado uma associação que envolvia não comunistas. Mas nunca tinham arriscado uma infracção frontal aos Estatutos. Em pleno mês de férias, mobilizaram-se 200 militantes. Porque se realizavam eleições um mês depois, Álvaro Cunhal deixou os inevitáveis procedimentos disciplinares para Outubro, mês em que são expulsos os membros mesa da reunião. Foi a dualidade de critérios patente na decisão – uns expulsos, todos os outros inocentados – que me levou a sair do partido onde militara durante 18 anos. Tinha estado na decisão, tinha estado na assembleia e só não fora expulso porque ficara na plateia...

A custo, o PCP sobreviveu à sua crise. Quanto aos críticos, seguiram caminhos diversos. Alguns acabaram por ficar no PCP. Outros, os mais conhecidos, aderiram ao PS. E outros ainda, em regra mais jovens e inquietos, fizeram a travessia que os levaria, anos mais tarde, ao Bloco de Esquerda.
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9 comments:

folha seca disse...

Cara Joana Lopes
Fui um dos militantes do Partido Comunista que deixou de aguentar a vergonha de ter um cartão dum Partido, onde deixei completamente de me rever depois do Apoio da Velha Guarda do PCP à velha Guarda do PCUS., naquele acto vergonho, que sim permitiu derrotar a correcção que se pretendia fazer. Embora já estivesse há muito tempo em rota de colisão, este acontecimento foi a gota de água.
Subscrevo o comentário do Miguel Portas. Apenas há uma questão que creio não corresponder. Criou-se a ideia de que quen saíu, foi para o PS e outros para o bloco de esquerda.
Creio que naquela leva e noutras o PCP perdeu mais de 100.000 militantes dos 200.000 que tinha.
Não me parece que algum partido tenha crescido assim tanto. É um erro. A grande maioria dos que saíram tornaram-se independentes. Grande parte não se tornou anti-comunista. Embora possam em termos eleitorais ter dado outro sentido ao voto, mantendo-se muitos tambem votantes do PCP.
Desculpas pelo tamanho.
Cumprimentos
Rodrigo Henriques

Joana Lopes disse...

Muito obrigada, Rodrigo Henriques, pela sua precisão. Creio que MP estaria a pensar, como aliás refere mas não de uma forma correcta, nos «mais conhecidos».
Mas uma coisa me surpreende no que diz: nunca imaginei que o número de militantes que deixaram o PCP, nessa fase, pudesse ser tão elevado.

Amélia disse...

Achei interessante ouvir ontem Gorbachev dizer que o único erro que cometera fora o de ter ido de férias...

folha seca disse...

Cara Joana Lopes
De facto o PCP chegou a ter mais de 200.000 militantes. Fiz parte da Comissão Central de organização que todos os anos fazia um censo a que se chamava "balanço da organização" esses numeros eram publicados no "militante".
Os numeros divulgados no ultimo Congresso eram de 70.000 (+-).
Claro que esta diferença não se deve só a saídas por divergência. Naturalmente que muitos saíram pela própria lei da vida.
Cumprimentos
Rodrigo

Anónimo disse...

Olá Joana, olá Miguel!(Bom Verão, amigos!)
Caro Rodrigo
Apenas meia dúzia de palavrinhas para confirmar o dito por si acerca destas saídas do PCP. Também eu «folha seca», na designação de Álvaro Cunhal, à época, ao referir-se na comunicação social a militantes críticos e por isso incómodos. Eu podia transcrever como minhas – os factos são rigorosamente coincidentes – as palavras que escreveu acima. Saí do PCP,pelas mesmas razões, provavelmente no mesmo mês, depois de 30 anos de militância. Até hoje não fui para qualquer outro partido. Independente, e muitas vezes politicamente solitária, não me afastei da política e caminho na esquerda (ou nas esquerdas!), à procura do que não consigo encontrar, mas de bem com o meu passado e a minha consciência.
Recebam um abraço fraterno, apesar do anonimato que, excepcionalmente, nesta situação, faço questão de guardar.
HP

A.Silva disse...

As "folhas secas" que por aqui pairam bem se podem juntar e fazer uns brindes à derrota dos "conservadores" do PCUS e à grande vitória das forças "progressistas" que há 20 anos nos lançaram na senda do desenvolvimento e progresso em que a humanidade se encontra hoje. Parabéns a vocês que esta grande vitória dos povos também é vossa!

Anónimo disse...

Vai uma grande confusão na cabeça de A. Silva… Dou-lhe um conselho: não se enerve, não fique a esbracejar, que vai mais depressa ao fundo. Respire fundo, deixe-se boiar por uns tempos e depois tente vir calmamente para terra! Há pessoas na praia, gente que mantém a lucidez e que pode ajudá-lo a recuperar…
HP

folha seca disse...

Cara HP
Não respondi ao presumivel A.Silva
porque creio que o mesmo, é do tipo toca e foje. Não volta para ler as eventuais respostas. De facto o "racciocinio" está errado. Eu não estou nada satisfeito pelo rumo que o mundo está a levar. Mas estou cá para contribuir para o melhorar. Será que o A.Silva,estará? Ou está apenas agarrado às oportunidades perdidas?
Abraços
Rodrigo

Anónimo disse...

Olhe que não, olhe que não, Rodrigo! Se não me enganar no perfil psicológico para que apontam as palavras do comentário, carregadas de ansiedade, A. Silva não deixará de vir, na expectativa de mais um combate pela "vitória final".
Quanto ao resto, não posso estar mais de acordo consigo.E por aqui fico.
Um abraço
HP