Quem já era minimamente «crescido» em 1968 não esquecerá o mês de Setembro em que uma cadeira pôs fim a décadas de salazarismo e um discurso de Américo Tomás deu início ao marcelismo.
Perdidas as esperanças de recuperação do Presidente do Conselho, o da República anunciou ao país que a chefia do governo seria confiada a um outro (embora «mantendo todas as honras» do cargo para o primeiro que, como é sabido, nem sequer foi informado da substituição e se considerou, ou fingiu considerar-se, até ao fim, com as rédeas da Nação).
Américo Tomás falou às 20:00 do dia 26 de Setembro, num discurso absolutamente soturno, como era próprio do seu feitio e adequado às circunstâncias. Extraordinário, no conteúdo e na forma, a 43 anos de distância. A ouvir AQUI.
No dia seguinte, às 17:00, tomou posse o novo governo e começou a chamada «Primavera Marcelista». Do discurso de Caetano, o país reteve uma frase e uma palavra para muitos até então desconhecida: «Não me falta ânimo para enfrentar os ciclópicos trabalhos que antevejo.»
Ciclópicos seriam, de facto, os cinco anos e meio que se seguiram – sobretudo para nós.
(Imagem: Fundação Mário Soares)
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2 comments:
Cara Joana Lopes
Em 1968 era um miudo com 13 anos. Já com 3 anos de trabalho à boca dos fornos de vidro da estinta FEIS(pelo pelo Prof. Cavaco, largos anos mais tarde)
Recordo perfeitamente a esperança que o trambolhão do referido, trouxe. Chegou a sonhar-se que a liberdade viria a seguir. Veio (conquistou-se) muito mais tarde.
Foi bom lembrar-nos, sobretudo quando vivemos uma fase da nossa história em que temos liberdade (alguma) mas parece-me que colectivamente não sabemos bem o que fazer com ela. Refiro-me à incapacidade das esquerdas fazerem qualquer coisa para unir e assim criar a esperança de que precisamos para nos animarmos.
Abraço
Rodrigo
Não aprendemos nadinha com as várias lições da história.
Como sempre diz o Alberto João, "alguem pagará", quando lhe perguntam pela dívida.
Diz isso há mais de 30 anos.
Os gregos teem desculpa porque são loucos, o Zorba é grego, mas nós parecemos uns "parvinhos" porque somos mesmo pequeninos.
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