Os subscritores, participantes sobrevivos da Revolta Armada de Beja - cujo quinquagésimo aniversário ocorre no próximo 1º Janeiro – pretendem, através da divulgação pública desta evocação, contribuir para resgatar a “memória apagada” dessa efeméride, remetida como está para o limbo dos acontecimentos avulsos, insignificativos; situação, aliás, em consonância com muitas outras relativas à memória da resistência antifascista; e em contraste flagrante com o desvelo comemorativo dedicado ao chamado Estado Novo, seus personagens e afins.
Na realidade, o combate e a resistência contra a ditadura e o fascismo em Portugal, constituíram um processo histórico contínuo ao longo de metade do séc. XX. Nesse processo insere-se a Revolta de Beja...porque aconteceu e ficou selada em sangue e morte. A sua importância e significado são-lhe conferidos pelo fluxo histórico no seu todo. Não foi um episódio isolado, fora do contexto da luta comum do povo português pela libertação de um regime ditatorial.
Com efeito, no caso da Revolta de Beja, é fácil estabelecer a sua ligação orgânica com o grandioso movimento de massas/levantamento popular provocado pelas eleições presidenciais em 1958; vindo a ser, exactamente, o general Humberto Delgado o impulsionador da Revolta de Beja e, como tal, figurando em 1º lugar na lista dos 87 incriminados pronunciados para julgamento no Tribunal Plenário Fascista.
Na sequência imediata da Revolta de Beja, eclodiu em Março desse mesmo ano de 1962, a revolta estudantil de maiores proporções contra o regime; o 1ºde Maio desse ano foi assinalado pelos trabalhadores e outros sectores da população com a maior força e amplitude de sempre. E o processo histórico continuou, já com a guerra colonial, por mais 12 anos, até 1974.
Tem sido prática corrente, após o derrubamento do fascismo até aos dias de hoje, minimizar a importância e o significado da Revolta de Beja. Obras antigas e recentes, de pretensa intenção histórico/cronológica, nem sequer anotam o acontecido. Mas bastaria ter consultado a imprensa da época para ver em grandes parangonas a dimensão do impacto e do sobressalto que provocou no País e além-fronteiras. O ditador tão emocionado ficou (citando) “com os acontecimentos das últimas semanas” que perdeu a voz e alguém teve de ler-lhe o discurso na sessão da Assembleia Nacional de 3 Janeiro; e cancelada teve de ser a costumada manifestação de desagravo.
Mas não serão certamente a contrafacção histórica ou a posição negacionista, até hoje dominante, que conseguirá alterar o significado patriótico/cívico/ético da Acção Revolucionária de Beja; que conseguirão apagar no registo da história o facto de “ter acontecido”; que abalarão as convicções e o orgulho, mantido sempre enquanto houve/houver alento pelos revoltosos de Beja, por terem dado corpo e presença e não terem recuado na hora de confirmação.
A 50 anos de distância temporal, neste ensejo evocativo os abaixo-assinados sentem-se felizes por poderem afirmar que a Revolta Armada de Beja insere-se, com honra, no processo histórico de luta e resistência do Povo Português contra a ditadura e o fascismo.
Simultaneamente, manifestam óbvia solidariedade, respeito e admiração, para com todas as outras “memórias apagadas”, por idênticos e obscuros propósitos de desvalorização do historial da resistência antifascista portuguesa.
Resta portanto, aos resistentes sobreviventes da Revolta de Beja saírem em defesa da causa pela qual empenharam as suas vidas, que continua a ser a Causa da Liberdade pela Justiça Social, a qual, neste século XXI, corresponde a ser a Causa contra o retrocesso civilizacional, contra o neoliberalismo que retira todos os recursos da economia real para entregá-los ao capital financeiro, avassalando o mundo e ameaçando o destino das gerações vindouras.
Assim foi aqui feito,
Evocando o Cinquentenário da Revolta Armada de Beja.
Em Lisboa, na última semana do ano 2011
ass)
Airolde Casal Simões
Alexandre Hipólito dos Santos
Alfredo da Conceição Guaparrão Santos
António da Graça Miranda
António Pombo Miguel
António Ricardo Barbado
António Vieira Franco
Artur dos Santos Tavares
Delmar Silva
Edmundo Pedro
Eugénio Filipe de Oliveira
Fernando Rôxo da Gama
Francisco Brissos de Carvalho
Francisco Leonel Rodrigues Francisco Lobo
João Varela Gomes
José Duarte Galo
José Hipólito dos Santos
Manuel da Costa
Manuel Joaquim Peralta Bação
Raul Zagalo
Venceslau Luís Lopes de Almeida
Victor Manuel Quintão Caldeira
Victor Zacarias da Piedade de Sousa
(Fotos: Manuel Serra, um dos intervenientes no Golpe (1931-2010) e António Vilar / David de Abreu, os dois caídos civis em combate no interior do quartel.)
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6 comments:
Como às 22h e 55m do dia 24 de Abril 74 desempenhei idênticas funções que Varela Gomes, sendo tenente, tendo 25 anos, sei o que custa assaltar o gabinete do Comandante e em74, já sabíamos que Varela Gomes tinha levado um tiro, e por isso íamos preparados para não nos deixarmos matar.
Mas qual a admiração de terem apagado a vossa história, a da tomada da Escola Prática de Artilharia é mais recente e foi roubada com a conivência de todos,incluindo a associação 25 de Abril,pelo, então capitão Santos Silva que só chegou à unidade, escola Prática de artilharia às 23 e 30 do dia 24 de Abril 74. Mas alguém se importa com isto, a maior parte da gente só quer o estrelado, para quê?
Um grande abraço ao meu camarada Varela Gomes e recordo a memória do então capitão pestana
andrade da silva
Ao camarada Varela Gomes e a todos os camaradas que participaram nessa jornada de luta contra o fascismo, vai um grande abraço fraterno e grato pela vossa coragem.
As hienas estão cá de novo.
Em primeiro lugar os meus cumprimentos para a Joana Lopes, que dedica uma vida atenta a estas e outras falhas da Cidadania. Bem haja e muito obrigado.
Em segundo, um forte e solidário abraço aos meus Caros Amigos Edmundo Pedro e Eugénio de Oliveira, pela sua vida de continua e permanente luta contra as tiranias e pela identidade destes pobre País e Povo.
Para não alongar, sugiro que não esqueçam Ramalho e as suas palavras. Temos vindo todos os dias a torná-las actuais desde então.
E sim! Recordo bem essa madrugada e esse dia, porque os vivi perto, em Évora, e sei o burburinho que foi e o que se seguiu. Nos meses seguintes até a PIDE lá "montou escritório", dando início a um novo ciclo de perseguição entre os estudantes, intelectuais e alguns velhos militares oposicionistas.
Cumprimentos, saudações e gratidão.
Esquecimento NUNCA!!!
Jerónimo Sardinha.
Em memória do meu PAI, Germano dos Santos Madeira.
Luis Carlos
Associo-me à sua homenagem, Luís Carlos.
O sr. tenente Alexandre Hipólito dos Santos alguém tem notícias recentes?
Grata
Lela
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