… pergunta João Paulo Guerra, num texto nada meigo, a propósito da posição da bancada do PS face à iniciativa de um grupo de deputados que requereu ontem a fiscalização do Orçamento de Estado pelo Tribunal Constitucional.
«Perante a rendição da direcção do partido, alguns deputados do PS tomaram a iniciativa de recolher as assinaturas necessárias para enviar o Orçamento a Tribunal. Nem sequer se pode dizer que se trata de um grupo de nostálgicos esquerdistas que sonham com uma aliança à esquerda (…) E a iniciativa que agora tomaram visa um aspecto meramente formal de um Orçamento que se propõe reduzir os portugueses à miséria e Portugal a uma reserva de mão-de-obra barata e precária.
Ter um governo como o da coligação PSD/CDS já é mau. Ter um tal governo e não ter alternativa de poder é péssimo. E pode querer dizer que o objectivo a curto e médio prazo do PS é abichar uns lugares à mesa do Estado.»
Num outro palco, também convém não deixar de sublinhar o apoio expresso de alguns dirigentes do PS à assinatura do acordo de concertação social pela UGT. Foi o caso de Francisco Assis: no longo texto da sua crónica semanal no Público (sem link), embora reconhecendo que o acordo em questão representa um «indiscutível retrocesso», escreve:
«Contra todas as evidências do senso comum ideológico João Proença agiu correctamente e tem razão. Um sindicalista não é um profeta, nem um clérigo tonitruante empenhado em anunciar um novo milenanismo. A sua função é outra e o líder da UGT compreendeu isso mesmo e actuou com elevado sentido de responsabilidade. (…) Não é possível avaliar uma negociação ignorando deliberadamente o contexto em que ela ocorre e a natureza objectiva do que está em causa, tendo em consideração a própria correlação de forças prevalecente. (…)
A UGT prestou uma vez mais um grande serviço ao país em geral e aos trabalhadores em particular. Ao país porquanto se afigura de grande importância, quer por motivos de ordem interna, quer por razões de imagem externa, a aprovação de um acordo de concertação social. Aos trabalhadores na medida em que impediu a consagração de soluções que atentavam contra direitos básicos.»
Referindo-se ao PS, Assis termina que é cm agrado que verifica «que tem rejeitado o caminho de um radicalismo oposicionista que talvez proporcionasse pequenas vitórias momentâneas, mas teria consequências dramáticas num futuro não muito distante.»
Realpolitik, ou o que se pretenda chamar-lhe. Ela, sempre ela, que, de cedência em cedência, nos tem conduzido ao ponto a que agora chegámos. Tristíssima resignação, cinzentismo que a realidade se tem encarregado de desmascarar. E que leva à descrença nos políticos e na política, que não é apenas má mas sim pior do que péssima.
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