14.2.12

Feios, porcos e maus?


Os europeus meridionais são preguiçosos, embora não tanto como os africanos, que vivem ainda mais a Sul e são mais morenos, mas ainda assim…?

Confessadamente ou não, a ideia fez caminho e o preconceito está instalado. Com o primeiro lugar do ranking atribuído neste momento aos gregos que, para além de mandriões, seriam também perdulários e desordeiros – (quase) feios, porcos e maus. Mais ou menos acima do paralelo 45o tudo começa a compor-se: as populações são mais «virtuosas» (talvez porque os dias mais frios e as noites mais longas no Inverno convidam ao recato e ao afinco no trabalho) e não estarão dispostas a continuar a sustentar vícios de outros. Por isso mesmo, castigam, condenam e mandam.

Mas um dia virá em que será evidente – e a História registará – que as causas dos dramas de hoje nada tiveram a ver com preguiça ou ociosidade de uns tantos. Demasiado tarde, e dramaticamente, para muitos.

A partir desta citação:
«As ladainhas populistas e a especulação abundante sobre os preguiçosos culpados da crise evocam uma situação que se viveu na Inglaterra no início do século XIX. Na aurora da era industrial, o aparecimento do capitalismo levou a uma explosão da pobreza.

Encontrar resposta para a questão "o que causou isto?" tinha-se tornado a preocupação central. As causas identificadas foram, entre outras, o aparecimento de um novo tipo de ovelhas enormes, um número excessivo de cães ou consumo desmedido de chá, cujo desaparecimento erradicaria a pobreza.

Talvez daqui a um século, as especulações contemporâneas sobre a preguiça dos europeus do Sul também pareçam insignificantes. Uma vaga de pensamentos obscuros que esconde os redemoinhos que ameaçam o oceano da história.»
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