Não foram apenas mais de 400 pessoas que exprimiram a sua indignação perante as recentes cargas policiais, em almoço festivo que comemorava o 50º aniversário de um Dia do Estudante em que também houve bastonadas. Outras vozes se vão juntando à comparação entre duas situações separadas por cinco décadas, como a de Manuel António Pina, hoje, no JN.
50 anos depois
Colette Magny cantou-os chamando-lhes "les gens de la moyenne": "Os estudantes manifestaram-se,/ foram seviciados pela Polícia/ (..) em Lisboa, Portugal". Foi a 24 de Março de 1962, em plena ditadura, quando a Polícia de Choque atacou com grande violência estudantes que se manifestavam em Lisboa, dando origem à primeira das "crises académicas" (a segunda seria sete anos depois, em Coimbra) que abalaram os alicerces do regime salazarista.
Escreveu Marx que a História acontece como tragédia e se repete como farsa. 50 anos passados sobre esse episódio (e 38 anos sobre o 25 de Abril...), a Polícia de Choque mudou de nome para Corpo de Intervenção mas não parece ter mudado de métodos: violência e recurso a agentes provocadores para a justificar. E a ditadura é hoje uma farsa formalmente democrática - um "caos com urnas eleitorais", diria Borges - em que é suposto existirem direito à greve e à manifestação.
Quem viu na TV a imagem de um homem ensanguentado gritando "Liberdade! Liberdade!" em direcção à tropa do dr. Miguel Macedo que, como em 24 de Novembro último, espancou selvaticamente jovens que, em vez de acatarem o conselho do primeiro-ministro e emigrarem, se manifestaram na quinta-feira em Lisboa, não pode deixar de descobrir afinidades (até nas agressões a jornalistas e nos comunicados oficiais falando de "ordem e segurança" e culpando as vítimas) com o que aconteceu há 50 anos. E de inquietar-se.
«Les étudiants ont manifesté,
Par la police, ont subi des sévices.
Ils étaient à Lisbonne, au Portugal.
Mais, cette fois, c’était leur chair, c’etait leur sang.
Les bourgeois de la ville ont renié publiquement
40 années de gouvernement»
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8 comments:
"Mais cette fois c'était leur chair, c'était leur sang, les bourgeois de la ville ont renié publiquement 4o années de gouvernement..."
Seria bom que os dirigentes e os membros do serviço de ordem da CGTP ouvissem a Collette Magny e percebessem que esses jovens indignados e espancados são também a nossa carne e o nosso sangue - e os defendessem em vez de os isolar, como fizeram, nas crises académicas da década de 60, professores inesquecíveis como Lindley Cintra e muitos, muitos dos "bourgeois de la ville". Foi bom ver os de 62 lembrar essa solidariedade entre gerações. O pior que nos poderia acontecer era evoluir como as personagens da canção de Brel... (Precisamente "Les bourgeois".
Cara Joana Lopes
Sou mais de unir do que dividir, mas também me pareceu que o que ouvi da boca do novel líder da CGTP foi uma demarcação dos acontecimentos e implicitamente uma critica aos participantes "não enquadrados". Será bom ver até que ponto não terão havido estranhas cumplicidades. É sabido que antes duma manifestação os responsáveis da CGTP se reunem com a PSP no sentido de coordenar as coisas. É importante que haja esclarecimentos.
Abraço e permitam-me mandar uma saudação à Diana Andriga, pelo trabalho que há décadas faz em prol do bom jornalismo.
Rodrigo
Foi mais do que isso, Rodrigo, infelizmente!
Pode ler <a href=">aqui</a> um resumo esclarecedor.
Joana
Não consigo aceder ao link
abraço
Rodrigo
Desculpe, Rodrigo, falha minha.
Aqui.
Fotografias a cores:
http://expresso.sapo.pt/agentes-da-psp-processados-por-carga-na-manifestacao=f715983
E mais estas
Esta história nem consigo descodificar...
Não me tinha apercebido desta personagem na história. Quando vi o título pensei que era sobre o homem das barbas.
Mas afinal quem é que apresentou a queixa (a resposta não é o MP que, a partir de uma uma queixa, arquiva ou acusa, e desta vez acusou), a polícia, que negou a queixa em tribunal, ou o Anonymous?
E o que é um "artifício de divertimento" e para que se leva a uma manifestação? É um "very light", como os que antes as claques de futebol usavam nos estádios?
Mas a história da IGAI percebo, e não aparecia nas fotografias a preto e branco. O MAP (by the way, as ligações para uma crónica dele levam sempre à última crónica dele)vai certamente falar nela numa próxima crónica, se estiver a procurar contar uma história a partir dos factos que a constituem. Ou não, se estiver a procurar ilustrar uma história apenas com os factos que lhe dão crédito.
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