11.3.12

No mundo do faz de conta



Dois dos países por onde andei nas últimas semanas são verdadeiros paraísos para a contrafacção: a Malásia e a Tailândia. 

Em lojas ou mercados de rua com quilómetros de extensão onde se alinham bancadas e barracas, é possível encontrar toda a espécie de produtos «de marca» a preços inimaginavelmente baixos. Tudo se negoceia, evidentemente, chegando-se por vezes a pagar 10 ou 20% do que é inicialmente pedido… Os clientes mais especializados sabem ajuizar da perfeição do que compram, não só pelo aspecto geral mas também pelos detalhes: uma determinada mala Prada deve ter certas gravações em todas as argolinhas e não apenas numa, etc., etc. 

Tive a minha primeira grande experiência neste domínio na China, já há alguns anos. Nunca esquecerei os vendedores ambulantes que abordavam os turistas propondo-lhes «Moubelã Lolex» e do tempo que levei a perceber que se tratava de canetas Montblanc e de relógios Rolex! 

Confesso a minha simpatia por este mundo. Sempre tive uma especial embirração por griffes, sempre me pareceu absurdo que sejam pagas quantias exorbitantes porque sim, por puro exibicionismo de um feitio, de um crocodilo ou de uma fivela. Dá-me um certo gozo que a realidade seja subvertida e que nós, ocidentais, procuremos imitações dos nossos produtos no outro lado do mundo, sobretudo em países que, entretanto, começam a ter dinheiro para pagar os originais. Há um lado irracional, de nonsense, que me diverte nesta espécie de jogo de espelhos… 

Nada disto é hoje permitido na nossa Europa controlada e liofilizada, mas tenho algumas saudades do tempo em que os vendedores ambulantes fintavam a polícia na Praça de Alvalade, em Lisboa, e gritavam bem alto: «Podem comprar, nada tem defeito, é tudo roubado!». E se calhar era...
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5 comments:

Jorge Conceição disse...

Não é preciso ir tão longe para encontrar com abundância artigos contrafeitos bem manufacturados, tão bons ou melhores que os originais!... Se não for fácil aqui pela Península, encontram-se pelo menos com toda a qualidade em Roma ou Milão...

Helena Araújo disse...

Essa fotografia é uma maravilha, Joana. O perfeito contra-senso.
Mas a minha simpatia por gente que vende coisas roubadas (e por gente que compra coisas que provavelmente são roubadas) é muito limitada.

Joana Lopes disse...

Helena,
As coisas «roubadas» eram aqui secundárias.
A contrafacção rouba (apenas) as patentes e isso tem a minha simpatia...

Helena Araújo disse...

Joana, eu percebi.
Esse roubo da imagem tem-me dado que pensar. As empresas gastam rios de dinheiro a criar uma imagem, e depois eu colo-me a essa imagem sem lhes pagar o serviço...
No fundo, é tudo muito ridículo. Vivemos mesmo no mundo do faz de conta.

Joana Lopes disse...

Helena,
Rios de dinheiro? Quantas vezes já estará paga a «imagem» do crocodilo da Lacosta? E serve para quê exactamente?
Claro que, se as pessoas continuam dispostas a pagar, o problema não é da Lacoste...