19.3.12

A tomada da Bastilha por Jean-Luc Mélenchon



O candidato do Front de Gauche às próximas eleições presidenciais em França teve ontem os seus 24 minutos de glória na Praça da Bastilha, no dia em que se comemorou mais um aniversário do início da Comuna de Paris. 

Confesso que ouvi os primeiros minutos com dificuldade, a tal ponto me pareceram vazios de conteúdo e insuportavelmente populistas, mas fui mudando de opinião. Goste-se ou nem por isso, concorde-se ou não, a tarde de ontem ficará como um marco importante e como uma peça indispensável no puzzle da actual campanha. 

Ideológico e radical do princípio até ao fim, Mélenchon referiu a primavera dos povos, chamou pelo tempo das cerejas, falou de cravo vermelho ao peito, exprimiu solidariedade com gregos, espanhóis e portugueses, condenou todas as troikas, apelou à insurreição cívica. Mas, sobretudo, nada esqueceu na sua proposta de uma Constituinte fundadora de uma VI República: paridade absoluta, fim dos privilégios do capital, igualdade de direitos entre hétero e homossexuais, direito ao aborto, ecologia, independência da justiça garantida pelo parlamento, etc., etc., etc. Uma pedrada no charco, sem qualquer espécie de dúvida, no marasmo europeu de todas crises.

O discurso deve ser ouvido na íntegra (só para francófonos, pelo menos para já…): 



Claro que os comentários e as reacções não se fizeram esperar e passei umas boas horas a percorrê-los. 

Retenho uma intervenção de François Hollande, já de hoje, em France Info: de «voto útil», passou para «voto eficaz»: «Je n'appelle pas au vote utile. Nous sommes à cinq semaines de l'élection, je dirai à chaque fois que le vote doit être efficace (..) Ma responsabilité : faire gagner la gauche.» 

O voto em Mélenchon não seria inútil mas ineficaz. Palavra de ordem, portanto: «É preciso tornar o voto em Mélenchon útil, votando na eficácia, ou seja em François Hollande.» 

Jogos de palavras que os franceses adoram, mas que exprimem apreensão e algum incómodo, apesar de as sondagens (antes da sessão de ontem) não darem a Méchelon, à primeira volta, mais de 11% de hipóteses. 

Próximos episódios a serem seguidos com atenção. Não só, ou nem tanto, por causa das eleições presidenciais propriamente ditas, mas pelo que poderá ficar deste passo da esquerda à esquerda, em França. 

A ler:
* Libération: Mélenchon trône à la Bastille
* Le Nouvel Observateur: Mélenchon fait rougir de plaisir la Bastille
* Rue 89: A la Bastille, Mélenchon appelle au «printemps des peuples»


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3 comments:

Niet disse...

Olá, Joana Lopes: O Mélenchon tem feito uma belíssima campanha, ao contrário da dos candidatos trotsquistas do NP Anti-Capitalista e Luta Operária. Claro que é um populista refinado com a tagarelice de zinc(balcão) de Paris. E ele defende Castro, Chavèz,etc.Apesar de ter sido um fogoso aparatchik do PS- durante décadas- conseguiu fazer um texto com Oskar Lafontaine, dos Die Linke, o BE alemãom que tem a sua qualidade e novidade. A ver vamos, se Hollande consegue vencer Sarkozy, por causa dos efeitos de uma severa crise económica e social que sacode a França. Salut! Niet

Joana Lopes disse...

Muito obrigada pelo comentário, Niet. Vá dando notícias!

Niet disse...

Caríssima, não tem nada que agradecer. Era preciso,era derrotar Sarkozy. A ver vamos!!! Salut! Niet