A memória histórica de um povo, ou de uma cidade, não é tecida apenas por monumentos que recordam acontecimentos políticos gloriosos e por edifícios onde alguns foram vítimas da repressão fascista e que se tenta, quase sempre em vão, que sejam preservados como testemunhos tangíveis de um passado que importa não esconder. Também há casas, ruas e instituições com um tal peso afectivo e simbólico que não devem ser «apagadas» por simples cálculos contabilísticos de mangas-de-alpaca engravatados.
Ouvi hoje Carlos Monjardino, neto do fundador da Maternidade Alfredo da Costa, sublinhar que esta é «um ex-libris de Lisboa e da Saúde em Portugal». É bem verdade. E este aspecto, para além de tudo o que já foi dito, não pode, e não deve, ser pura e simplesmente desprezado. Nascer não é um acto banal. Que ali tenham vindo a este mundo milhares e milhares de portugueses, durante 80 anos, que ali se tenha contribuído para uma diminuição drástica da taxa de mortalidade infantil neste país, que naquele local e com as pessoas que lá trabalham estejam reunidas as condições para que prossiga um trabalho de excelência (ainda ninguém disse o contrário) só pode ser indiferente para quem nem respeita o passado nem olha para o futuro por cima da espuma dos dias e dos cifrões.
Memória é também afecto. Por isso esta tarde se falou de um «abraço» àquele mítico quarteirão de Lisboa. Se há momentos em que os portugueses precisam que não lhes cortem as raízes a que se agarram, sem motivos de força razoável e maior, este é certamente um deles.
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