Quando pensei escrever este texto, estava convencida de que se comemoraria hoje o 50º aniversário da encíclica Pacem in Terris. Adiantei-me um ano, já que João XXIII só a lançou em 11 de Abril de 1963, mas aqui fica um apontamento.
O Concílio Vaticano começara seis meses antes, as expectativas quanto ao mesmo eram muito grandes e, em plena Guerra Fria, este texto veio defender que «os conflitos entre as nações devem ser resolvidos com negociações e não com armas, e na confiança mútua». Foi um verdadeiro grito expressamento lançado a todos os homens «de boa vontade» – poucos meses depois da crise dos mísseis em Cuba e com o Muro de Berlim nos primeiros anos de vida.
Em Portugal, já em plena guerra colonial e cada vez mais acossado internacionalmente por esse motivo, a P.in T. foi um bálsamo para a oposição e mais uma preocupação para o regime. Na sua obra sobre Salazar (vol. V, p. 477), Franco Nogueira viria a escrever: «Sem o pretender, a Pacem in Terris agrava o desarmamento moral do Ocidente e enfraquece-o no plano ideológico e dialéctico. Do facto, sofre reflexos a posição portuguesa.» E, clarividente como sempre, Salazar anotou no seu diário, seis dias depois da publicação da encíclica: «João XXIII escancarou as janelas do Vaticano às tempestades do mundo.»
Com toda a razão, diga-se. Nunca se saberá como teria evoluído o Concílio Vaticano, e a própria Igreja, se João XXIII não tivesse morrido dois meses depois. O travão veio a seguir, as ditas janelas foram-se fechando.
P.S. – Também num 11 de Abril, e precisamente para comemorar o primeiro aniversário da publicação da P.inT., foi fundada, em Portugal, a Cooperativa PRAGMA.
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