9.4.12

O PS e a síndrome de Estocolmo



O Partido Socialista põe dramatismo no apelo lançado à maioria para que aprove a adenda que propôs ao novo pacto orçamental europeu, mas mantém que vai votar a favor mesmo que a referida adenda não seja tida em conta. 

Isto, apesar de Mário Soares ter vindo a público afirmar expressamente «há rumores de que o Governo português quer que o nosso Parlamento ratifique, quanto antes, o tratado para continuar a ser "o melhor aluno da senhora Merkel"» e que espera «que reflicta e arrepie caminho, para bem dos portugueses mais desfavorecidos»; e apesar de vários deputados [socialistas] ameaçarem não respeitar a disciplina de voto, como João Galamba que «defendeu esta semana que o texto é inconstitucional, por considerar que põe em causa a soberania nacional»

O PS está refém de fantasmas que o sequestram e esses fantasmas chamam-se Merkel, Troika e Comissão Europeia. Fabrica uma estratégia ilusória para se proteger e isso impede-o de ver claramente a realidade, de medir os perigos e de perder o medo de se libertar. Normalmente, estas histórias não acabam bem. 

Andam uns turistas pelo Atlântico a comemorar o centenário do naufrágio do Titanic. Espero que, em 2112, os nossos netos e bisnetos não organizem excursões ao Largo do Rato. 
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5 comments:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Também se pode dar o caso de o PS estar apenas a manter o rumo político que tem o acordo do seu eleitorado e não o do eleitorado do BE, ou de militantes como o Galamba ou a Ana Gomes, que são militantes do PS mas também podiam ser militantes do BE?
Se há coisa que o Sócrates fez com profissionalismo foi esvaziar eleitoralmente o BE, defendendo as causas no domínio das liberdades individuais de que o BE tinha o monopólio da defesa, largamente desejadas pelos eleitores, mas não as do domínio da economia que o BE continua a defender desde as suas origens, não largamente desejadas pelos eleitores, mas apenas pelos que já votavam na UDP ou no PSR ou nos outros.
Talvez ir atrás do BE nestas causas contribuisse mais para um naufrágio do PS que não ir?

Joana Lopes disse...

Surprise! Eis-te socrático, quiçá militante de Seguro? Ó Manel...

Última hora: Mário Soares acaba de aderir a BE.

Manuel Vilarinho Pires disse...

Tu sabes melhor do que essa resposta diz... Objectivo, nem socrático nem segurático.
Reconhecer que o Porto ganhou o campeonato do ano passado não significa ser adepto do Porto. Mas dizer que foi o Sporting que o ganhou significaria ser tontinho...
O Sócrates chegou ao poder com o BE a duplicar o grupo parlamentar em cada nova eleição, e saiu com o BE regressado à sua dimensão inicial de 8 deputados.
A história o dirá, mas eu acredito que tenha sido por ter colocado o PS a jogar declaradamente no terreno das liberdades cívicas aonde só o BE jogava declaradamente, e ter deixado o BE a jogar com o PCP no terreno do combate à economia de mercado, que eleitoralmente, e mesmo em crise profunda, vale o que vale, e onde o PCP tem um palmarés muito mais sólido.
Com ou sem habilidade, com ou sem sucesso, o PS anda a disputar o eleitorado do centro com o PSD. Se se colasse às posições do PCP e do BE, estaria a voltar-lhe as costas para disputar umas migalhas do eleitorado reduzido destes partidos. Quem ganhava? O PSD, obviamente. Quem perdia? O PCP e o BE. E o PS, claro.
Eu, se fosse do PCP ou do BE, preferia ver o PS a disputar o centro com o PSD, a vê-lo a disputar a esquerda com o meu partido. Porque quem determina finalmente os resultados são os eleitores. E pensar que um PS mais de esquerda traria para a esquerda os eleitores do PS do centro é uma ilusão monumental.
Colocar o PS a disputar a primeira liga, mesmo correndo o risco de perder, em vez de disputar a liga de honra, mesmo com vitória garantida, não me parece má opção estratégica da actual direcção do PS...

Joana Lopes disse...

Falar de cálculos eleitorais do PS em relação à esquerda nesta altura do campeonato? Nem está aí, mas sim, «à rasca», sem saber para onde se virar ao centro (nas relações com a maioria)e, talvez sobretudo, internamente: duas camisas de sete varas!

Manuel Vilarinho Pires disse...

Do que acontece internamente, em qualquer partido, nem vale a pena falar. Basta ter a noção que, na oposição, a oposição interna é sempre mais viva do que na situação. Ou, o simétrico, na situação, a oposiçao interna prostitui-se, algumas vezes a peso de ouro. Adiante.

Ao centro, o PS não tem a vida fácil, até porque foi, até demasiado tarde, demasiado tenaz na orientação política que nos meteu na crise. Mas, se largar o centro, enfia-se num beco de onde só pode voltar a sair pelo centro. Fica pior do que está.
E a esquerda à esquerda do PS também fica pior.
Se, actualmente, o PS e essa esquerda valem 45%, pode ser apelativo para a esquerda pensar que, se o PS fosse mais à esquerda, a esquerda valeria 45%. Mas, na verdade, se o PS abandonasse o centro, a esquerda ficaria confinada aos 45% actuais subtraídos dos eleitores de centro que vão votando no PS. Perdiam os partidos à esquerda do PS, a quem ele conquistaria eleitores, perdia o PS, que perderia mais ao centro do que ganhava à esquerda, e ganhava o PSD, que ficava sózinho no centro.
Por isso, custa-me a entender o lamento permanente da esquerda relativamente à actual orientação de centro do PS, que lhe (à esquerda) é mais favorável do que uma orientação de esquerda do PS...