Por razões que não vêm agora ao caso, andei ontem a mexer em envelopes com apontamentos de viagens e verifiquei que, exactamente há oito anos, passeava pela China (mais precisamente que, em 5 de Abril de 2004, estava em Pequim) e que já em tempos tinha escrito neste blogue algo relacionado com a data de hoje.
Antes de partir, tinha relido, nessa espantosa obra de Jung Chang Cisnes Selvagens, uma curta descrição de uma forte repressão policial – bem antes daquela que nunca esqueceremos, em 1989 – para impedir comemorações em honra de Zhou Enlai que morrera poucos meses antes.
«A 8 de Janeiro de 1976, faleceu o primeiro-ministro Zhou Enlai. Para mim e para muitos outros chineses, Zhou representara um governo relativamente liberal e são de espírito que se esforçava por fazer o país funcionar. Nos anos negros da revolução Cultural, Zhou tinha sido a nossa única e débil esperança. (…)
[Na Primavera] Em Beijing, centenas de milhares de cidadãos reuniram-se na Praça de Tiananmen durante dias seguidos, para honrar Zhou com coroas de flores especialmente preparadas, leitura de versos apaixonados e discursos. Através de simbolismos e numa linguagem que, apesar de codificada, toda a gente compreendia, deram largas ao seu ódio contra o Bando dos Quatro, e até contra Mao. Os protestos foram esmagados na noite de 5 de Abril, quando a polícia atacou a multidão, prendendo centenas de pessoas. Mao e o Bando dos quatro chamaram a este movimento “um levantamento contra-revolucionário do tipo húngaro”».
13 anos mais tarde, foi o que se sabe, 28 anos depois, divagava eu por aquela enorme e desconfortável praça, tentando, em vão, «revivê-la» como ela foi em 1976 e em 1989. Viajar também é isto.
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