Luís Januário publicou mais uma excelente crónica no jornal i de hoje: O Bill já não diz nada.
Partindo da morte de Miguel Portas, e da comoção muito generalizada que a mesma provocou, LJ conta duas histórias sobre criaturas imaginárias, imaginadas, cuja perda é sentida como a de seres absolutamente reais.
Muitos terão sentido a falta de Miguel Portas, e sobre ela escreveram quase sem o conhecerem, como se de um próximo se tratasse quando na realidade não o era. De repente, dezenas, centenas de pessoas sentiram necessidade de elogiar, de contar um episódio, referir um encontro falhado, um telefonema perdido ou até uma simples reunião em que o avistaram a dezenas de metros. No fundo, era sem dúvida também sobre elas próprias que escreviam. Porque, como diz LJ, «não podemos viver sem pão, sem grupos sociais, sem esperança e sem pessoas de referência que exprimem o que há de melhor em nós, o que em nós ainda acredita».
Confesso que este texto me ajudou a interpretar a onda gigantesca (para mim inesperada e, porque não dizê-lo, que me apareceu por vezes com laivos de um certo exagero) que se ergueu após a morte de uma figura que, em vida, nem sempre foi tão venerada assim. Aconteceu talvez porque se precisava de uma trégua nos dias amargos que atravessamos, de algo de bom que encarnasse optimismo, confiança no futuro, solidariedade. Terá sido afinal a procura, um pouco desesperada, da tal esperança que se recusa mesmo morrer.
.
0 comments:
Enviar um comentário