7.5.12

Grécia, no dia seguinte



Os gregos votaram ontem «com o coração e com as vísceras», como leio em El País. Chegados ao ponto em que se encontram, foi mesmo disso que se tratou, mas desengane-se quem julgue que deixaram a cabeça em casa. 

Muito claramente, ou se abstiveram (o que é grave mas compreensível e expectável dado o desencantamento com partidos e com política, bem patente nos últimos tempos), ou condenaram, expressivamente, a política de austeridade extrema a que estão submetidos, castigando o centro e fazendo crescer «as pontas» – para além do esperado, é certo. Se é de lamentar, e de olhar com extrema preocupação, que a extrema-direita tenha conseguido eleger 21 deputados, saudemos (eu saúdo…) o Syriza (não anti-europeísta) que vai ter 52. 

Por mais que veja a grande e comovente felicidade dos que ontem embandeiraram em arco a vitória de Hollande (e, sim, ela foi importante porque correu com Sarkozy e introduzirá alguns paus na engrenagem europeia), ninguém me convence que não foi muito mais importante o que aconteceu na Grécia, com todos os riscos implicados no que vai seguir-se. Arriscada está a Europa e esta pedrada no charco só pode fazer-lhe bem. 

Alguns comentários: 

1 - Quebrou-se a alternância no poder (Nova Democracia / PASOK), essa pecha dos regimes parlamentares em que vivemos. Página virada e digo apenas: «Aleluia!» 

2 - Lamente-se a reacção imediata de rejeição, por parte do Partido Comunista, ao apelo do líder do Syriza para uma tentativa de coligação da esquerda. 

 3 - Registe-se a pressa do PASOK em propor a união de todos os que apoiam o Memorando com a União Europeia. Não aprende, apesar de ter perdido cerca de 2/3 dos votos. 

4 - Entre nós, sublinhe-se o silêncio significativo sobre a Grécia (no Facebook foi / é flagrante), por parte dos grandes entusiastas da vitória de Hollande. Não cheguei a perceber o que esperavam ou desejavam: muito provavelmente uma vitória do PASOK, com a Nova Democracia em segundo lugar e uma maioria garantida por ambos no Parlamento, certamente nunca que o que se passou com o Syriga.

Sobre tudo isto, apetece-me para já dizer, como o outro: «Pois é, habituem-se!» 
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2 comments:

vítor dias disse...

Cara Joana Lopes:

Registo o seu

«2 - Lamente-se a reacção imediata de rejeição, por parte do Partido Comunista, ao apelo do líder do Syriza para uma tentativa de coligação da esquerda».

Como talvez não seja muito díficil de intuir, eu não teria respondido como Aleka Papariga.

Teria antes dito ao líder do Syrisa: «mas, meu caro amigo, a esta hora em que ainda não há resultados finais, importa-se de me explicar onde está a maioria parlamentar de suporte a esse governo ?».

Joana Lopes disse...

De acordo, Vítor Dias. O líder do Syrisa devia ter posto um «se». Só não sei se a resposta não teria sido a mesma...