José Queirós, «Provedor do Leitor» do Público, explicou ontem
longamente, na sua coluna semanal, a posição que tem neste momento
quanto à saga que opõe o ministro Relvas a várias instâncias daquele
órgão de comunicação.
Alguns dirão, imediatamente, que é parte interessada neste caso. Mas a
sua análise (que pode ser lida aqui na íntegra) parece-me muito calma, lúcida e cuidadosa.
Destaco o seguinte:
«Convirá recordar que são abertamente contraditórias
as descrições feitas por Miguel Relvas e Leonete Botelho acerca do conteúdo
das conversas telefónicas que, por iniciativa do primeiro, mantiveram
no dia 16. A editora reafirma que foram proferidas, em duas chamadas distintas,
as ameaças que o jornal denunciou; o ministro nega tê-las feito. Não esperem
os leitores encontrar aqui uma verdade apurada de acordo com inequívocas
provas materiais, que, ao que tudo indica, não existirão.
Não me furtarei, contudo, a um juízo de verosimilhança.
Não considero crível que as ameaças denunciadas possam ter sido inventadas
pelo PÚBLICO, e a consistência das explicações que
recebi reforça essa convicção. Não se vislumbra que motivo ou interesse
pudessem conduzir a tamanho atentado à ética profissional, que pressuporia
o envolvimento de um conjunto de jornalistas respeitados numa conspiração
inimaginável em que estariam a enganar consciente e deliberadamente
os seus leitores. No essencial, o balanço da história do jornal é o maior
argumento contra essa hipótese mirabolante, e a reputação profissional
da editora que escutou as frases agressivas de Relvas desautoriza qualquer
suspeita desse tipo. (…)
Não posso dizer o mesmo da credibilidade do
ministro envolvido neste caso, que nos últimos dias fez várias declarações
contraditórias no âmbito das averiguações sobre o escândalo das secretas
— era esse, aliás, o objecto das questões que o PÚBLICO
lhe dirigiu — e foi introduzindo adaptações e inflexões no seu discurso
de negação das ameaças ao jornal e à jornalista, em contraste com a consistência
inalterada da narração dos factos que o comprometem. Aquilo que já reconheceu
que fez, e que o terá levado a pedir desculpas cujo conteúdo ainda não é
totalmente claro, indicia um interesse empenhado em travar as notícias
sobre o seu relacionamento com o ex-espião acusado pelo Ministério
Público.»
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