Em entrevista ao jornal «i», José Miguel Júdice afirma que nós, os portugueses, «somos melhores quando as coisas correm mal». Alegremo-nos, pois: estamos certamente óptimos.
Conta, por exemplo, como é importante que a BBC tenha mostrado alguém que, estando desempregado há um ano e meio, acredita que o país está a fazer o que é necessário: assim se vê que não somos como outros que «partem tudo» e demonstramos grande dignidade no sofrimento. E continua, com a velha rábula segundo a qual, se as coisas correm bem, o português «abandalha, facilita, gasta desalmadamente, não pensa no dia de amanhã, só pensa na festa». Ângela Merkel não diria melhor…
Este ser, que esteve sempre do lado certo do poder, desde os velhos tempos do Movimento Jovem Portugal até à actualidade, a quem nunca deve ter faltado uma migalha de luxo (enfim, talvez um pouco nos três mesitos que passou na prisão de Caxias, em 1975…), permite-se «elogiar» os compatriotas fazendo deles um retrato salazarento – sofredores e resignados quando pobrezinhos.
Se é verdade que parecemos, ou somos, desesperadamente mais conformados do que outros em situações semelhantes, esse facto reflecte heranças e marcas de décadas de obscurantismo e de resignação forçada e não virtude ou algo que deva ser gabado e preservado. É tempo de dizer isto, quinhentas vezes se necessário for, de interiorizar, de ultrapassar, de combater.
Claro que José Miguel Júdice não está sozinho na sua barricada, bem longe disso. Mas é representativo e exemplar.
(*) Com dedicatória.
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6 comments:
Esta entrevista foi dada no restaurante Eleven,com vista sobre o Parque e o M.de Pombal?Espero bem.Até porque este merda,só se sente "inspirado",em ambientes que "controla"...até paga só 500 euritos por mês.É um personagem, que cada vez que ri, só apetece dar-lhe um murro nos dentes.Escarro.
Tal e qual, quando as coisas correm bem, os portugueses dormem na Qinta das Lágrimas, comem no Eleven e Litigam no Júdice Associados.
Viram ontem na TV o trio composto pelo Vasco Graça Moura, a Judite de Sousa e o Medina Carreira?...Foi um hino ao reaccionarismo primário, travestido de alguma compreensão para com a Língua Portuguesa, mas um verdadeiro chorrilho de críticas aos vícios dos portugueses...
JM Júdice tipifica ao máximo aquelas divinas teses de Reich/ Deleuze que nos dizem da dualidade do ser e estar: reaccionário,capitalista e totalitário no subconsciente; e progressista, intempestivo e narcisico no teatro social e cultural das paixões e negócios. Aliàs, há anos a esta parte, que me deparo com esta dúvida solene: Júdice e MR de Sousa não correm/correram juntos para um deles vir a ser candidato a sucessor de Cavaco? Niet
Bem analisada, Niet. Mas não sei se JMJ corre para PR: ganha tanto mais dinheiro sem isso...
Caríssima: Pelo menos,sem juizos de valor negativos- que linda a carreira social de JM Júdice de cronista da Vera Lagoa a master da super-classe opinativa do establishment...-ele devia gostar de " interferir " no o processo ligado à sucessão de Cavaco. O que é certo,é que já não é militante do PSD. Eu ainda me lembro de uns textos que ele publicou- com o compère MR Sousa - na revista da Torralta do tempo do fundador, o sr. Silva q-chose, pai da futura mulher de Proença de Carvalho...Isto anda tudo ligado, como dizia o meu saudoso amigo Eduardo Guerra Carneiro. Salut! Niet
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