No «i» de hoje, um excelente texto do Luís Rainha que esteve recentemente na Grécia. A ler na íntegra.
«Os gregos parecem dotados de um optimismo inquebrantável, pelo menos os que mantêm os seus empregos e não são funcionários públicos nem pensionistas; Andreas assevera-nos que a maioria ainda não viu os seus rendimentos afectados pela austeridade. O paralelo com a conhecida fábula do grego Esopo, do miúdo que tantas vezes gritou avisos sobre a presença do lobo que a páginas tantas ninguém acreditava nele, é evidente. Anuncia-se para breve, de novo, a bancarrota do Estado grego, sem dinheiro para mandar cantar o proverbial cego. Parece que desta feita o executivo até já lançou mão dos fundos para reconstrução em caso de catástrofe natural; mas o alarme de catástrofe iminente não basta para assustar a população. A ideia de que “mais uma vez o dinheiro vai aparecer a tempo” impera na rua. (…)
A Grécia é assim um país dilacerado entre o desejo e o medo da mudança. Entre a busca de redenção e as orações para que afinal o pior não chegue. Entre o negrume dos bas-fonds de Atenas e a electricidade dionisíaca ali mesmo ao lado. Talvez sejam parecidos connosco. Mas muito nos separa dos gregos, pelo menos por enquanto. Em Portugal vamo-nos encolhendo e esperando que o pior aconteça ao vizinho do lado mas não a nós; deixamos a maçada das manifestações para os comunistas e continuamos a compensar com o nosso voto quem nos trouxe até ao precipício. Há gregos convencidos de que somos “mais obedientes”; talvez por educação, ninguém usou o epíteto que Franco nos lançou há umas décadas: “Cobardes.”
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