Crítica «fininha» (a que era possível em tempos de censura) ao programa que a RTP exibia há cerca de um ano (*).
«E vai a gente julgou que tinha aparecido um filmito novo de propaganda porque vimos escrito no quadradinho O TEMPO E A ALMA e julgámos que era propaganda de relógios ou de detergentes porque o tempo lava mais branco principalmente em matéria de almas mas não senhor era propaganda do Camões mas não era para vender nada era só para a gente ficar a saber que ele não tinha um olho mas que isso não lhe fez falta nenhuma porque tinha outras coisas bestiais o meu pai que nestas coisas é bestialmente culto chamou-me e disse anda cá Guidinha vem aprender estas coisas para não ficares burra (...) tudo isto enfim tudo correu bestialmente bem até o doutor Saraiva começar a falar no Infante D. Henrique porque a partir daí foi um sarilho bestial primeiro porque ele disse que o que eu aprendi na escola quando ele era ministro não é verdade e eu aproveitei para dizer ao meu Pai uma coisa que eu até acho bestialmente certa sim o que eu disse foi o pai vê que não vale a pena estudar na escola? aprendi aquilo tudo e afinal é mito e agora querem por força que aprenda equações mas eu não vou nisso porque aposto que daqui a dois anos o senhor ministro da Educação vem dizer que as equações eram mitos e não vale a pena a gente cansar a cabeça com mitos.»
(*) Luís Sttau Monteiro, O meu pai foi preso, «A Mosca», suplemento do Diário de Lisboa, 4 de Novembro de 1972.
(Agradecimento ao Rui Almeida por me ter recordado esta «redacção».)
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1 comments:
e bumba bumba no tótiço !
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