30.9.12

Da urgência



No rescaldo do dia de ontem, convém ver para além das imagens de multidões que encheram as ruas de Lisboa, Madrid, Atenas, Berlim, Roma (e até Tbilisi...). A onda de protestos que corre a Europa revela mais do que descontentamentos «normais» em países democráticos: é um alerta para perigos maiores que se avizinham e que não se evitam com receitas avulsas para o dia de amanhã. Gostava de ter a certeza – e não tenho - de que estamos suficientemente convencidos desta realidade, crua e dura: é a própria democracia que está em perigo.

Foi o que pensei ao ler o texto de Pedro Marques Lopes, hoje, no DN: «É tempo».

«O tempo por estes dias corre mais depressa. A torrente de acontecimentos é tal que a palavra dita ou escrita já perdeu actualidade no segundo seguinte. Acontecimentos, estudos, notícias que seriam dissecadas e permaneceriam no espaço público muito tempo são rapidamente substituídos por outros. (...)

Não surpreende por isso que a sondagem do DN/Universidade Católica do já muitíssimo distante dia 20 tivesse sido devorada pela enxurrada de acontecimentos: desde esse dia o mundo, segundo esta agenda de galinha bêbada, já teria mudado dez vezes. (...) Sim, sabíamos que as pessoas não andavam contentes, mas provavelmente não imaginaríamos que 87% dos portugueses estariam desiludidos com a democracia. (...)

Os tais 87% de portugueses desiludidos com a democracia são os mesmos cidadãos que se manifestam em Atenas ou Madrid. Iguais aos catalães que pensam que a sua independência (o paralelo com os anos 30 do século passado arrepia) lhe resolverá os problemas económicos (ou alguém pensa que o que se está a passar na Catalunha estaria a acontecer num período de saúde económica?). Estes portugueses são os italianos, os franceses, os holandeses e os próprios alemães daqui a uns meses. Gente que deixa de acreditar na democracia pela mais simples razão do mundo: para eles democracia significa bem-estar, direitos sociais, boas perspectivas para eles e para as suas famílias.(...)

O que está em causa não é mais ou menos austeridade, um menor ou maior empobrecimento, mais ou menos défice, já estamos para lá disso. O que está em causa é se queremos continuar a viver em democracia ou não. As manifestações, os insultos aos políticos são só o primeiro sinal. A conjugação, mais ou menos indissociável, entre a quebra de confiança em toda a classe política e a brutal queda nas condições de vida das populações é absolutamente letal para a democracia, e, claro está, para o País.

Infelizmente, não será só em Portugal que tudo isto corre o risco muito sério de acontecer, será em toda a Europa. Convinha mesmo acordar antes que seja tarde demais.»

Na íntegra aqui.
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