17.10.12

Pelo jornalismo, pela democracia - Carta aberta de 80 jornalistas



A crise que abala a maioria dos órgãos de informação em Portugal pode parecer aos mais desprevenidos uma mera questão laboral ou mesmo empresarial. Trata-se, contudo, de um problema mais largo e mais profundo, e que, ao afectar um sector estratégico, se reflecte de forma negativa e preocupante na organização da sociedade democrática. 

O jornalismo não se resume à produção de notícias e muito menos à reprodução de informações que chegam à redacção. Assenta na verificação e na validação da informação, na atribuição de relevância às fontes e acontecimentos, na fiscalização dos diferentes poderes e na oferta de uma pluralidade de olhares e de pontos de vista que dêem aos cidadãos um conhecimento informado do que é do interesse público, estimulem o debate e o confronto de ideias e permitam a multiplicidade de escolhas que caracteriza as democracias. O exercício destas funções centrais exige competências, recursos, tempo e condições de independência e de autonomia dos jornalistas. E não se pode fazer sem jornalistas ou com redacções reduzidas à sua ínfima expressão. 

As lutas a que assistimos num sector afectado por despedimentos colectivos, cortes nos orçamentos de funcionamento e precarização profissional extravasa, pois, fronteiras corporativas.
Sendo global, a crise do sector exige um empenhamento de todos – empresários, profissionais, Estado, cidadãos - na descoberta de soluções. 

A redução de efectivos, a precariedade profissional e o desinvestimento nas redacções podem parecer uma solução no curto prazo, mas não vão garantir a sobrevivência das empresas jornalísticas. Conduzem, pelo contrário, a uma perda de rigor, de qualidade e de fiabilidade, que terá como consequência, numa espiral recessiva de cidadania, a desinformação da sociedade, a falta de exigência cívica e um enfraquecimento da democracia.

Porque existe uma componente de serviço público em todo o exercício do jornalismo, privado ou público;

Porque este último, por maioria de razão, não pode ser transformado, como faz a proposta do Governo para o OE de 2013, numa “repartição de activos em função da especialização de diversas áreas de negócios” por parte do “accionista Estado”;

Porque o jornalismo não é apenas mais um serviço entre os muitos que o mercado nos oferece;
Porque o jornalismo é um serviço que está no coração da democracia;

Porque a crise dos média e as medidas erradas e perigosas com que vem sendo combatida ocorrem num tempo de aguda crise nacional, que torna mais imperiosa ainda a função da imprensa;
Porque o jornalismo é um património colectivo;

Os subscritores entendem que a luta das redacções e dos jornalistas, hoje, é uma luta de todos nós, cidadãos. 

Por isso nela nos envolvemos. 

Por isso manifestamos a nossa solidariedade activa com todos os que, na imprensa escrita e online, na rádio e na televisão, lutando pelo direito à dignidade profissional contra a degradação das condições de trabalho, lutam por um jornalismo independente, plural, exigente e de qualidade, esteio de uma sociedade livre e democrática.

Por isso desafiamos todos os cidadãos a empenhar-se nesta defesa de uma imprensa livre e de qualidade e a colocar os seus esforços e a sua imaginação ao serviço da sua sustentabilidade.

Proponentes: 


Adelino Gomes Alfredo Maia - JN (Presidente do Sindicato de Jornalistas) 
Ana Cáceres Monteiro, Media Capital 
Alexandre Manuel - Jornalista e Professor Universitário 
Ana Goulart - Seara Nova 
Ana Romeu - RTP 
Ana Sofia Fonseca - Expresso 
Ana Tomas Ribeiro - Lusa 
Anabela Fino - Avante 
António Navarro - Lusa 
António Louçã - RTP 
Camilo Azevedo - RTP 
Carla Baptista - Jornalista e Professor Universitária 
Cecília Malheiro - Lusa 
Cesário Borga 
Cristina Martins - Expresso 
Catarina Almeida Pereira - Jornal de Negócios 
Cristina Margato - Expresso 
Daniel Ricardo – Visão 
Diana Ramos - Correio da Manhã 
Diana Andringa 
Elisabete Miranda – Jornal de Negócios 
Frederico Pinheiro - SOL 
Fernando Correia - Jornalista e Professor Universitário 
Filipe Silveira - SIC 
Filipa Subtil - Professora Universitária 
Filomena Lança – Jornal de Negócios 
Hermínia Saraiva - Diário Económico 
Joaquim Fidalgo 
Joaquim Furtado 
Jorge Araújo - Expresso 
José Milhazes - SIC / Lusa (Moscovo) 
José Vitor Malheiros 
João Carvalho Pina - Kameraphoto 
João Paulo Vieira - Visão 
João d’Espiney, Público 
José Luiz Fernandes - Casa da Imprensa 
José Manuel Rosendo - RDP 
José Rebelo - Professor e ex-jornalista 
Luis Andrade Sá - Lusa (Delegação de Moçambique) 
Luis Reis Ribeiro - I 
Liliana Pacheco - Jornalista (investigadora) 
Luciana Liederfard - Expresso 
Luísa Meireles - Expresso 
Maria de Deus Rodrigues - Lusa 
Maria Flor Pedroso - RDP 
Maria Júlia Fernandes - RTP 
Martins Morim - A Bola 
Manuel Esteves - Jornal de Negócios 
Manuel Menezes - RTP 
Margarida Metelo - RTP 
Margarida Pinto - Lusa 
Mário Nicolau – Revista C 
Miguel Marujo- DN 
Miguel Sousa Pinto - Lusa 
Mónica Santos - O Jogo 
Nuno Pêgas – Lusa 
Nuno Aguiar – Jornal de Negócios 
Nuno Martins - Lusa 
Óscar Mascarenhas 
Patrícia Fonseca - Visão 
Paulo Pena - Visão 
Pedro Rosa Mendes 
Pedro Caldeira Rodrigues - Lusa 
Pedro Sousa Pereira - Lusa 
Pedro Manuel Coutinho Diniz - Professor Universitário 
Pedro Pinheiro - TSF 
Raquel Martins - Publico
Rui Cardoso Martins 
Ricardo Alexandre – Antena 1 
Rosária Rato - Lusa 
Rui Peres Jorge – Jornal de Negócios 
Rui Nunes - Lusa 
Sandra Monteiro - Le Monde Diplomatique 
Sofia Branco - Lusa 
Susana Barros - RDP 
Susana Venceslau - Lusa 
Tomas Quental – Lusa 
Tiago Dias - Lusa 
Tiago Petinga -Lusa 
Vitor Costa – Lusa 

Este é apenas o primeiro passo duma iniciativa que pretende ser mais ampla. Nos próximos dias todos os jornalistas, bem como todos os cidadãos vão ser convidados a assinar e a participar. 

Pelo jornalismo, Pela democracia.
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